O SIPLEx como vetor de consecução da Força 40

Autores: Maj Aracaty Andrade Saraiva
Segunda, 06 Outubro 2025
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As transformações que ocorrem no Exército Brasileiro (EB) precisam de alinhamento com o escalão superior. O EB é subordinado ao Ministério da Defesa (MD), o qual é responsável por nortear o preparo e emprego das Forças Armadas. Um exemplo do seu direcionamento é o Sistema de Planejamento Estratégico de Defesa (SISPED), que determina ciclos de programação de vinte anos, com atualizações quadrienais (BRASIL, 2015).

Para atender à diretiva do MD do período vicenal, o Exército (Ex) cunhou o termo Força 40. Ela é uma referência à organização da Força Terrestre que o EB deseja compor para enfrentar os desafios prospectados para os anos 2040. Ela abarca as capacidades, a natureza, a dimensão e a articulação dos meios para atuar de forma singular, conjunta, combinada ou em cooperação com agências (BRASIL, 2023b).

O Estado-Maior do Exército (EME) realizou uma análise do ambiente operacional, para compor o desenho desse horizonte, sob a influência de fatos portadores de futuro, onde a Força Militar Brasileira poderá ser empregada. Isso foi consolidado no Manual de Fundamentos Conceito Operacional do Exército Brasileiro – Operações de Convergência 2040 (EB20-MF-07.101). Assim, foi verificado que há influências das dimensões física, humana e informacional, além dos domínios terrestre, marítimo, aéreo, espacial e do ciberespaço, colimados com os fatores da decisão e operacionais.

Dos eventos levantados destacam-se os que envolvem a geopolítica brasileira, como os seus recursos naturais, problemas socioeconômicos e a liderança regional. Não obstante, que a securitização do meio ambiente poderá respaldar intervenções que firam a soberania nacional. Além disso, que o campo tecnológico deve ser objeto de aumento das disparidades entre os Estados, com crescimento da dependência externa nesse segmento.

No quesito militar, verifica-se que são pontos relevantes os relacionados com a segurança cibernética, sistemas de vigilância, ação de choque e capacidade de comando e controle. De forma sistêmica, também se vislumbra uma postura dissuasória, com a manipulação da informação.

Para fazer face ao contexto militar do futuro, conjecturado como complexo, foi elaborado um novo Conceito Operacional do Exército Brasileiro (COEB). Ele é baseado nas Operações no Multidomínio (escrito em algumas fontes como Operações de Convergência), terá plena vigência a partir de 2028 e deverá ser empregado pela Força 40. Isso ocorrerá por intermédio da evolução da Doutrina, Organização, Pessoal, Educação, Material, Adestramento e Infraestrutura (DOPEMAI) do EB, agregado aos princípios de Flexibilidade, Adaptabilidade, Modularidade, Elasticidade, Sustentabilidade e Interoperabilidade (FAMESI).

O combate no Multidomínio consiste no mais alto nível de tenacidade das operações militares. Raciocina-se com o uso de todos os recursos disponíveis para o cumprimento da missão das Forças Armadas. Nisso, incluem-se as ações simétricas e assimétricas, onde há atos de alta intensidade e outros abaixo do limite que respaldem uma intervenção bélica. Nessa vertente, o estado final desejado baliza uma rede de ações sinérgicas no intuito de gerar a degradação do adversário, negação de espaço, garantia dos meios amigos e projeção estratégica. Isso ocorre por meio da sobreposição, simultaneidade e sincronização dos domínios marítimo, terrestre, aéreo, eletromagnético, cibernético e espacial, bem como a confluência das dimensões física, humana e informacional (BRASIL, 2023b).
 

Figura Nr 1: Sobreposição de domínios e dimensões, com foco em Operações no Multidomínio

Fonte: BRASIL, 2023a

Concomitante, para atender o SISPED, no quesito de atualização quadrienal, foi estruturado o Sistema de Planejamento Estratégico do Exército (SIPLEx), que direciona a evolução da Força. Ele estabelece o que deve ser transformado para o EB atingir um patamar compatível com a estatura geopolítica do Brasil, com a presença e a prontidão necessárias em qualquer área de interesse estratégico do País (BRASIL, 2023c). O ciclo atual compreende o período de 2024 a 2027. Com as etapas subsequentes, de 2028-2031, 2032-2035 e 2036-2039, o EME pretende efetivar a Força 40 com todas as capacidades necessárias para o prazo estipulado.

O SIPLEx é composto por sete fases, normatizadas por portarias ostensivas e reservadas. Nelas estão incluídas a descrição da missão do sistema de planejamento, a sua visão de futuro, cenários prospectivos atualizados e os objetivos estratégicos. Também, estão delineados a Concepção Estratégica do Ex, o Plano Estratégico do Ex (PEEx), a orçamentação, a medição do desempenho organizacional e a gestão de riscos.


 

Figura Nr 2: Fases do SIPLEx

Fonte: BRASIL, 2025

 

Para exemplificar o encadeamento do SIPLEx, saliente-se que, com nexo nas fases anteriores, é um objetivo estratégico do PEEx obter prontidão tecnológica, com uma estratégia de aperfeiçoar as entregas requeridas pelo Ex. Isto, por intermédio do estabelecimento do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Avançada, em Campinas/SP, e a implantação do Programa IME 1000. Verifica-se que essas iniciativas têm benefício dual, pois, o fomento da base industrial de defesa e o fortalecimento da tríplice hélice, composta pelo Governo, Indústria e Academia, geram desenvolvimento socioeconômico para a nação. Isso visa mitigar o cenário futuro de aumento das disparidades científicas entre os Estados, negação do compartilhamento e dependência de “know-how” estrangeiro. Ao mesmo tempo, aspira dotar a Força 40 de equipamentos e sistemas potencialmente inacessíveis pelo comércio exterior.

Tudo isso é guiado pelo Comandante do Exército, que registrou na sua Diretriz 2023-2026:

Diretrizes [...]

9. Dar continuidade ao processo de Transformação do EB no horizonte de 2040, baseado em um novo conceito operacional, que conduzirá a um desenho de F Ter dotada de novas capacidades e preparada para ser empregada, segundo os fundamentos de uma DMT permanentemente atualizada (BRASIL, 2023a).
 

Dessa forma, observa-se que o Exército estruturou um planejamento de longo prazo para conduzir o seu progresso, orientado por diretrizes do MD e limitado pela dotação orçamentária. Ele ambiciona a materialização da Força 40, a qual deverá ter condições de atender às demandas do EB, prospectadas para a metade deste século. Nesse sentido, o SIPLEx é o instrumento que pavimentará esse caminho e conduzirá ao êxito dessa missão evolucionista.
 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Defesa. Sistema de Planejamento Estratégico de Defesa. Brasília, 2015.

BRASIL. Exército. Diretriz do Comandante do Exército 2023-2026. Brasília, 2023a.

BRASIL. Exército. Conceito Operacional do Exército Brasileiro – Operações de Convergência 2040 (EB20-MF-07.101). Brasília, 2023b.

BRASIL. Exército. Política Militar Terrestre – Fase 3 do Sistema de Planejamento Estratégico do Exército para o ciclo 2024-2027 (EB10-P-01.016). Brasília, 2023c.

BRASIL. Exército. Relatório de Gestão do Comando do Exército: Exercício 2024. Brasília, 2025.

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