Ansiedade no ambiente militar

Autores: 2º Ten Hildemar das Graças Teixeira
Segunda, 07 Julho 2025
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A ansiedade é uma resposta natural do organismo diante de situações de perigo, estresse ou expectativa. Em níveis controlados, pode ser até benéfica, pois prepara o corpo para reagir a desafios. Entretanto, quando se torna persistente, intensa e sem causa evidente, passa a ser um transtorno que compromete a saúde e o desempenho das pessoas — especialmente em ambientes que exigem alto nível de prontidão, como o militar.

No contexto das Forças Armadas, a ansiedade deixou de ser um tabu e passou a ser reconhecida como uma realidade que merece atenção e resposta institucional. O ambiente castrense é caracterizado por rotinas rigorosas, exigências físicas e psicológicas elevadas, longos períodos de separação da família e exposição a situações extremas — tudo isso contribui para que os quadros de ansiedade sejam frequentes entre os militares, sejam eles da ativa, da reserva ou seus dependentes diretos.

Com base nessa constatação, o Exército Brasileiro, em conjunto com a Marinha e a Força Aérea, tem desenvolvido e fortalecido ações para promover o bem-estar psíquico dos seus integrantes. A saúde mental passou a ser tratada como parte fundamental da operacionalidade e da prontidão da tropa. Afinal, um militar saudável mentalmente é mais capaz de tomar decisões sob pressão, trabalhar em equipe e cumprir sua missão com eficiência.

Entre as diversas iniciativas adotadas, destacam-se os programas preventivos promovidos por meio dos Núcleos de Assistência Social (NAS), a atuação da Seção de Assistência Psicossocial (SAP), o trabalho integrado das equipes de saúde dos Hospitais Militares e a ampliação de campanhas de conscientização sobre saúde emocional. Os temas abordados incluem, além da ansiedade, depressão, estresse ocupacional, prevenção ao suicídio e apoio psicológico às famílias.

A criação de espaços de escuta ativa, grupos terapêuticos, rodas de conversa e atendimentos individualizados têm permitido que muitos militares encontrem apoio e orientação em momentos de crise. Esses canais ajudam a reduzir o estigma que, por muito tempo, impediu que o militar reconhecesse sua vulnerabilidade emocional. Hoje, há um ambiente mais propício ao acolhimento e à busca de ajuda — uma conquista institucional significativa.

Outro avanço importante foi a incorporação do cuidado com a saúde mental nos cursos de formação e aperfeiçoamento. Oficiais e praças têm recebido capacitação sobre inteligência emocional, controle do estresse, gestão de conflitos e liderança humanizada. Esses conhecimentos não apenas contribuem para a autogestão emocional, como também preparam os comandantes para identificar sinais de sofrimento em seus subordinados e encaminhá-los para o apoio necessário.

A saúde mental no meio militar também envolve a família. Sabendo da importância do núcleo familiar para a estabilidade emocional do combatente, as Forças Armadas promovem ações voltadas aos dependentes, como palestras, atendimentos psicossociais e campanhas educativas. Esse suporte é fundamental, sobretudo em momentos de transferência, missões longas ou crises familiares.

É importante reforçar que a ansiedade não escolhe patente, função ou tempo de serviço. Pode atingir desde o recruta recém-incorporado até o oficial-general, sendo essencial que todos estejam conscientes de seus sinais: insônia, irritabilidade, tensão muscular, dificuldade de concentração e pensamentos acelerados. Reconhecer esses sintomas é o primeiro passo para buscar ajuda.

A legislação brasileira já reconhece os transtornos de ansiedade como um problema de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 260 milhões de pessoas sofram com o transtorno de ansiedade no mundo — e os militares não estão fora dessa estatística. Por isso, a atuação das Forças Armadas na promoção da saúde mental vai ao encontro de um movimento global de valorização do bem-estar psicológico.

As ações empreendidas pelas Forças não visam apenas cumprir protocolos. Elas refletem um compromisso genuíno com o ser humano por trás da farda. O militar precisa estar bem para servir com excelência, proteger a sociedade e cumprir seu papel constitucional. E estar bem envolve corpo, mente e espírito.

Nesse sentido, o Exército Brasileiro tem mostrado, por meio de ações concretas e planejadas, que a saúde mental é, sim, uma prioridade estratégica. Cuidar da mente é também cuidar da missão.

"No ambiente militar, reconhecer a ansiedade não é sinal de fraqueza — é ato de coragem que preserva a força da tropa e a missão." 2° Ten Hildemar


 

Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Defesa. Política de Atenção à Saúde Mental nas Forças Armadas. Brasília: MD, 2022.

  2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva: WHO, 2017.

CATEGORIAS:
Saúde

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