A CONCEPÇÃO DE EMPREGO DO REGIMENTO DE CAVALARIA MECANIZADO DIVISIONÁRIO CONTINUA ATUAL

Autores: Cap Vales
Quarta, 12 Fevereiro 2025
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1. INTRODUÇÃO

A concepção de emprego atual da Cavalaria Mecanizada teve origem no final da década de 1960, onde um vigoroso processo transformou as Divisões de Cavalaria (DC) em Brigadas de Cavalaria Mecanizada (Bda C Mec), convertendo os Regimentos de Cavalaria (RC) em Regimentos de Cavalaria Mecanizado orgânicos das Bda C Mec e das Divisões de Exército (DE), além de transformar os Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec) em Esquadrões de Cavalaria Mecanizado (Esqd C Mec). (BRASIL, 1999).

Essa modificação teve por finalidade conferir à Força um conceito de Reconhecimento e Segurança Escalonados, com o emprego de tropas de Cavalaria Mecanizada nos Escalões Corpo de Exército, Divisão de Exército e Brigada.

Essa perspectiva recebeu forte influência da doutrina militar norte-americana que, na época, sofreu grandes modificações através do programa Reorganization of The Current Armored Division (ROCAD), que teve por finalidade adequar as formações de Cavalaria daquele Exército às demandas imprimidas pelas ameaças do Pacto de Varsóvia (MESQUITA, 2014).

 

2. DESENVOLVIMENTO

No contexto do ROCAD, os EUA passaram a adotar o conceito de Reconhecimento e Segurança (Rec&Seg) escalonados, criando os Armored Cavalry Regiment (ACR) para os Corpos de Exército e transformando os Batalhões de Reconhecimento das Divisões em Armored Cavalry Squadron (ACS) (MESQUITA, 2014).

Essa concepção de emprego vigorou até o início do século XXI, tendo sua atuação mais destacada na Guerra do Golfo, onde os Regimentos de Cavalaria cobriram as formações do VII Corpo de Exército e do XVIII Corpo Aeroterrestre, os Regimentos Divisionários facilitaram a ultrapassagem das Divisões, guiando-as de maneira precisa contra o dispositivo inimigo. Fruto dessa atuação, os EUA empreenderam ataques terrestres bem orientados contra as formações blindadas iraquianas, evidenciando a importância do emprego do Rec&Seg no contexto das operações de armas combinadas (JENNINGS, 2020).

Entretanto, no início do século XXI, o Exército Americano modificou suas estruturas de combate para atender as demandas da guerra contrainsurgência, passando a centrar suas estruturas de combate nas Brigade Combat team (BCT). Essa perspectiva visou dar maior prontidão às suas formações, de forma que possibilitasse desdobrar tropas em qualquer local do mundo de maneira mais rápida. Esse movimento ensejou no menor protagonismo do emprego de grandes formações como as Divisões e Corpos de Exército (JENNINGS, 2020).

Desta forma, as Unidades de Cavalaria foram passadas para as BCT como tropas orgânicas, proporcionando uma relativa capacidade de Segurança ao corpo principal da brigada, fato que ensejou a supressão dessas unidades das Divisões, abandonando o conceito de emprego de Rec&Seg escalonados (JENNINGS, 2020).

Entretanto, à medida que os EUA reorienta seu emprego novamente para as operações em larga escala*, no contexto das Operações Multidomínio, verifica-se mais uma vez a necessidade da adoção de tropas de Rec&Seg para os escalões Divisão e Corpo de Exército (JENNINGS, 2020).

Essa premissa se deve à necessidade do emprego de elementos que possam atuar em proveito dos escalões mais altos nas áreas avançadas para reconhecer o terreno e o inimigo, guiando as formações dos elementos decisivos do componente terrestre, preservando seu poder de combate, à medida que desarticula os sistemas de Negação de Área** do inimigo (JENNINGS, 2020).

Nesse sentido, algumas soluções foram adotadas para oferecer elementos que possam realizar Operações de Segurança em proveito dos Corpos de Exército e Divisão de Exército.

No escalão Corpo de Exército, optou-se pela adjudicação de BCT Stryker*** para essa finalidade, já para atender à Divisão de Exército as Unidades de Cavalaria de parte das BCT passaram a ser dotadas de uma subunidade Armored (análoga às Forças-Tarefas Blindadas do Exército Brasileiro), podendo então essas Unidades serem adjudicadas à Divisão para cumprir esse tipo de missão (EUA, 2023).

Cabe ressaltar, que outras soluções têm sido testadas para atender a demanda do Rec&Seg das Divisões, a exemplo da reativação do 1°/7° Regimento de Cavalaria na 1ª Divisão de Cavalaria daquele Exército (BOCANEGRA, 2023).

Atendendo a outro cenário, o Exército Brasileiro manteve sua concepção de emprego pautada primordialmente na atuação convencional e regular da Força, mantendo o conceito de emprego da Cavalaria Mecanizada orientado para elementos escalonados de segurança, à medida que manteve ativos as Bda C Mec, os RC Mec Divisionários e os Esqd C Mec de Brigada.

Nesse sentido, no âmbito da Divisão de Exército, os RC Mec possuem como elemento de manobra três Esquadrões de Cavalaria Mecanizados e um Esquadrão de Comando e Apoio, o qual é responsável pela sustentação logística do RC Mec, além de possuir elementos que proporcionam o aumento de sua capacidade de Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (IRVA) com emprego de radares de vigilância terrestre (RVT), câmeras de longo alcance (CLA) e Sistemas Aéreos Remotamente Pilotados (SARP).

Desta forma, sua composição, dotação e treinamento o torna o elemento mais apto a ser empregado em operações de segurança em proveito da Divisão. Suas capacidades permitem à Divisão de Exército dispor de um elemento orgânico, vocacionado para operações de Segurança, mantendo-a informada sobre as condições do terreno e inimigo, possibilitando preservar o poder de combate e orientando o ataque dos elementos decisivos do corpo principal.

No contexto das Operações de Convergência, o emprego dos RC Mec Divisionários permite desarticular os sistemas Negação de Área do adversário, preservando o poder de combate da Divisão, reunindo condições para uma penetração profunda, executada com o máximo de rapidez, que busque atingir objetivos operacionais decisivos.

Nas operações ofensivas, esse conceito proporciona maior grau de liberdade à DE, ensejando o avanço rápido e preciso de sua formação, alcançando seu objetivo no terreno de forma mais segura.
 

3. CONCLUSÃO

A percepção norte-americana para a demanda do Rec&Seg no escalão Divisão, aliada ao êxito histórico dessa concepção, evidenciam a importância da atuação dos RC Mec Divisionários para a Força Terrestre no contexto das Operações de Convergência.

Embora em um passado recente, as Unidades de Cavalaria do Exército norte-americano tivessem fortemente atreladas às BCT, essa concepção objetivou atender a uma demanda diferente daquela exigida por formações mais robustas empregadas em larga escala, adequando-se a um cenário que previa o emprego isolado das BCT, optando-se por manter essas Unidades como elementos orgânicos dessas Grandes Unidades para proporcionar uma certa capacidade de Rec&Seg.

A adoção de Unidades de Cavalaria pelas BCT pode, em algum momento, sugerir a necessidade da replicação dessa solução para as Brigadas da Força Terrestre, entretanto, é imperativo o entendimento de que seu conceito de emprego se manteve essencialmente inalterado, prevendo o escalonamento da Segurança com as Bda C Mec operando em proveito do C Ex, os RC Mec Divisionários em prol da Divisão e os Esqd C Mec em proveito das Bda.

Dessa forma, no Exército Brasileiro, a atuação do RC Mec Divisionário oferece ao comandante da Divisão de Exército um elemento de Segurança vocacionado para operações dessa natureza, mantendo-o informado, preservando o poder de combate do corpo principal e desarticulando os sistemas de negação de área do adversário. Tudo isso, concorre para o entendimento de que essa concepção de emprego é moderna e atual, sendo extremamente conveniente no contexto atual.


 

REFERÊNCIAS

BRASIL, Estado-Maior do Exército. C 2-1 MANUAL DE CAMPANHA O EMPREGO DA CAVALARIA. Brasília. 2ª edição. 1999.

EUA, RECONNAISSANCE AND SECURITY OPERATIONS (FM 3-98). Departament of the Army. Washington, DC, 2023.

JENNINGS, Nathan. COMBATE NAS ÁREAS AVANÇADAS MODERNIZANDO O RECONHECIMENTO E SEGURANÇA NO EXÉRCITO DOS EUA PARA CONFLITOS ENTRE GRANDES POTÊNCIAS. MILITARY REVIEW. 3° Trimestre 2020.

MESQUITA, Alex Alexandre De. A BRIGADA DE CAVALARIA MECANIZADA NO CONTEXTO DA TRANSFORMAÇÃO DA DOUTRINA MILITAR TERRESTRE A ESTRUTURA DE COMBATE CONVENCIONAL MAIS ATUAL DO EXÉRCITO BRASILEIRO. MILITARY REVIEW. 4° Trimestre 2014.

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