Entre 14 e 17 de abril de 1945, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) escreveu uma das mais memoráveis páginas da nossa história militar: a Batalha de Montese.
Terminadas as atividades no Vale do Reno, em 20 de março de 1945, o Comando do IV Corpo de Exército, ao qual a FEB se encontrava subordinada sob a denominação de 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), reuniu seus comandantes divisionários para a discussão inicial acerca da Operação Grapeshot, mais conhecida como Ofensiva da Primavera, destinada a encerrar a Campanha da Itália.
No dia 8 de abril, em outra reunião de comando, foi designada à 1ª DIE, entre outras missões, a conquista de Montese e exploração do êxito até o corte do rio Panaro no ataque que se daria no dia 14 de abril.
Para tal, a FEB tomou posição na frente compreendida entre Capella Di Ronchidos, ao sul e Monte Nuvoleti ao norte, enquadrada a oeste pela 92ª Divisão de Infantaria norte-americana e leste pela 10ª Divisão de Montanha, também estadunidense.
O Quartel-General Avançado foi desdobrado na vila de Gaggio Montano, enquanto o Posto de Observação foi instalado em Sassomolare.
Em oposição aos brasileiros, encontrava-se a 114ª Divisão de Infantaria Ligeira comandada pelo General Hans Joachim Ehlert, cabendo ao seu 471ª Batalhão de Infantaria a defesa de Montese.
A cidade de Montese constituía o último baluarte de defesa alemão contra o avanço aliado nas elevações ao sul do vale do Panaro. Situada a 842 metros de altitude, tinha na sua parte mais elevada uma torre de observação que permitia divisar a aproximação de qualquer tropa inimiga.
Conscientes da importância da posição, o inimigo organizou eficientemente o terreno, lançando campos minados, amarrando o tiro de armas coletivas, levantando concentrações de artilharia, esvaziando as casas e se entrincheirando nestas.
O ataque foi divido em duas fases:
(1º) o lançamento de patrulhas constituídas de pelotões reforçados com turmas de especialistas em minas, destinadas a capturar a linha de elevações Casone-Il Cerro-Possessione- cota 745; e
2º) o ataque e a conquista da linha Montese-cota 888- Montelo.
A operação foi atribuída ao 11º Regimento de Infantaria (11º RI), com o 1º e o 3º batalhões em primeiro escalão, sendo o esforço principal realizado pelo 1º batalhão, enquanto o 3º foi incumbido de conquistar Montelo, à direita da posição, ficando o 2º batalhão em reserva regimental.
Ao 2º batalhão do 1º Regimento de Infantaria (1º RI) coube realizar um ataque secundário, com o escopo de proteger o flanco direito do 3º batalhão do 11º RI.
Os demais batalhões do 1º RI e do 6º Regimentos de Infantaria (6º RI) ficaram em reserva sob as ordens do General Mascarenhas de Moraes.
A primeira fase da manobra se iniciou às 10 h e 15 minutos, ao mesmo tempo em que a 10ª Divisão de Montanha iniciava seu ataque e após uma forte preparação de artilharia.
O inimigo respondeu à altura, com violentos fogos de artilharia, morteiros e metralhadoras.
A despeito disso, às 13 horas, todos os objetivos da 1ª fase do ataque haviam sido conquistados.
Às 1330 horas, iniciou-se a conquista de Montese propriamente dita, contando os 3 batalhões com o apoio de blindados e de fumígenos de uma companhia de morteiros químicos, todos norte-americanos.
A primeira tropa a adentrar a localidade foi o pelotão do Tenente Iporã Nunes de Oliveira, de uma das companhias do 1º batalhão do 11º RI1, seguido pelo pelotão do Tenente Ary Rauen.
Enquanto isso, os demais batalhões enfrentavam a obstinada resistência germânica: o General Ehlert tinha consciência do valor que a posição possuía para a defesa das forças do eixo e como ponto de partida de uma possível perseguição para as aliadas. Julgando-se tratar do ataque principal2 do IV Corpo e por isso desencadeou sobre este a maior concentração de fogos que a FEB recebeu na 2ª Guerra.
O dia 14 terminou com os brasileiros dentro da vila, abrigados no casario.
O ataque reiniciou no dia seguinte com violência inaudita, sendo a famigerada torre ocupada às 0800 horas e a luta prolongando-se por todo dia, rua a rua, casa a casa, com solicitações recíprocas de apoio de fogo, o que acabou por destruir 833 das 1121 casas do local e retirar a vida de 189 civis.
Mesmo expulsos do perímetro urbano, os alemães ocuparam as elevações circunvizinhas, de onde continuavam a hostilizar os brasileiros.
Fora da vila, o 3º batalhão do 11º RI enfrentava feroz resistência em seu avanço ao ponto de, ao anoitecer do dia 15, o comandante da 1ª DIE decidir por substituí-lo pelo 3º batalhão do 6º RI que por sua vez sofreria, no dia seguinte, pesadas baixas ao ponto de mais um batalhão, o 2º do mesmo 6º RI ter sido deslocado para sucedê-lo no combate.
Em Montese, a resistência se esgotara. Os brasileiros passaram o dia seguinte realizando a limpeza da localidade, desalojando e prendendo os últimos defensores.
Nas primeiras horas do dia 17, o General Crittemberg3 decidiu sustar o ataque e determinou que a DIE tomasse um dispositivo defensivo, enquanto a reserva do V Exército, a 85ª Divisão de Infantaria Americana era empregada.
Findava-se a Batalha de Montese, a mais sangrenta da qual a FEB participou em toda a Campanha da Itália.
Para que a vitória fosse alcançada, pagou-se um alto preço: 426 baixas entre os brasileiros, e 497 entre os contrários4.
A despeito de tudo, a missão fora cumprida, o último baluarte nas alturas que dominavam o rio Panaro fora conquistado: a debacle das forças do Eixo passou a ser uma questão de dias.
REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO, Fábio César Santos de. 78 anos da tomada de Montese. Defesa área e Naval, 2023. Disponível em < https://www.defesaaereanaval.com.br/exercito/78-anos-da-tomada-de-montese > Acesso em: 5 de março de 2025.
CABRAL, Ricardo. Batalha de Montese. A última grande vitória da FEB. Disponível em < https://historiamilitaremdebate.com.br/batalha-de-montese-a-ultima-grande-vitoria-da-feb/ > Acesso em: 5 de março de 2025.
COSTA, Helton. Tomada de Montese completa 78anos. Jornalismo de guerra. 2023. Disponível em < https://jornalismodeguerra.com/2023/04/14/tomada-de-montese-completa-78-anos > Acesso em: 5 de março de 2025.
MASCARENHAS DE MORAES, J.B. Memórias. 2ª Edição. Rio de Janeiro. BIBLIEx 2014
1 MASCARENHAS DE MORAES, J.B. Memórias. 2ª Edição. Rio de Janeiro. BIBLIEx 2014.p 313.
2 ASSUNÇÃO, Fábio César Santos de. 78 anos da tomada de Montese. Defesa área e Naval, 2023. Disponível em < https://www.defesaaereanaval.com.br/exercito/78-anos-da-tomada-de-montese > Acesso em: 5 de março de 2025.
3 Willis Dale Crittenberger, Comandante do IV Corpo de Exército.
4 MASCARENHAS DE MORAES, J.B. Memórias. 2ª Edição. Rio de Janeiro. BIBLIEx 2014.p 320.
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