160 ANOS DA EPOPEIA DE DOURADOS

Autores: Coronel R1 Carlos Mário de Souza Santos Rosa
Sexta, 21 Março 2025
Compartilhar

Há 160 (cento e sessenta) anos, no dia 29 de dezembro de 1864, um grupo de brasileiros, liderados pelo Tenente Antônio João Ribeiro, deixava a vida e entrava para a história: nascia a Epopeia de Dourados.

Antecedentes

Como consequência da instabilidade reinante no Uruguai, o Brasil interveio naquele país em 16 de outubro de 1864, invadindo-o por terra enquanto sua esquadra bloqueava os principais portos.

Em 30 de agosto daquele mesmo ano, o governo paraguaio, tendo à frente Solano López, havia feito chegar ao Império Brasileiro uma nota diplomática, onde advertia que qualquer ocupação do território uruguaio seria considerada um ato de guerra.

López tinha interesse em manter uma saída para o Atlântico independente de Buenos Aires e havia encontrado no Partido Blanco do presidente uruguaio Atanasio Aguirre, um aliado.

O desprezo pela comunicação diplomática resultou no apressamento do navio Marquês de Olinda, em 13 de novembro daquele ano e na declaração de guerra em 13 de dezembro.

No dia seguinte, o Paraguai iniciou a invasão terrestre do território brasileiro: uma força de “unos 3500 hombres más o menos, en su mayor parte de caballería que al mando del General (entonces coronel) Resquín partió de Villa Concepción e invadió por tierra la misma provincia de Matto Grosso”. 1

A força invasora seguiu a direção-geral Bela Vista –Nioaque –Miranda-Coxim, sendo destacada uma parte da tropa, 365 (trezentos e sessenta e cinco) homens, sob o comando do Capitão Martín Urbieta para atacar a Colônia Militar de Dourados.

Outra coluna invasora partiria por via fluvial alguns dias mais tarde, tendo como objetivo o Forte Coimbra.

A colônia de Dourados

A Colônia Militar dos Dourados localizava-se na Serra de Maracaju, perto da nascente do rio Dourados, na então Província de Mato Grosso.

Constituía-se de civis e militares, tinha como missão o controle da via de acesso fluvial pelo interior da província e, ainda, à defesa e proteção dos moradores brasileiros daquela parte do território nacional.

Antônio João

Antônio João Ribeiro nasceu em 24 de novembro de 1823, na vila de Poconé, Província de Mato Grosso, filho de Manuel Ribeiro de Brito e Rita de Campos Maciel.

Sentou praça em 6 de março de 1841 no 12º Batalhão de Caçadores, sediado então em Cuiabá.

Sua vida militar é um exemplo de dedicação, profissionalismo e engendrado sentimento de cumprimento do dever: cabo em 1º de abril de 1841; furriel em 03 de agosto de 1841; 2º sargento em 1º  de janeiro de 1842; 1º sargento em 1º de maio de 1845; sargento-ajudante graduado em 22 de março de 1849; atingiu o oficialato, em 29 de julho de 1852, sendo promovido a alferes, prestando o juramento nesse posto em 12 de maio de 1853.

Em um curto período, de abril de 1851 a julho de 1852, frequentou como ouvinte a Escola Militar na Corte (Rio de Janeiro).

Foi promovido a tenente em 02 de dezembro de 1860, com a idade de 37 (trinta e sete) anos.

A rápida ascensão ao oficialato, em 11 (onze) anos é facilmente explicada quando se inspeciona sua fé de ofício: serviu em postos remotos da Fronteira Oeste do Império, localizadas na então Província de Mato Grosso, tais como Cuiabá, Vila Maria (atual Cáceres), Vila Bela, Porto de Dourados (margem do Rio Paraguai), São Lourenço, Forte Coimbra, Corumbá, Miranda, Nioaque e Colônia Militar dos Dourados.

Designado para o Distrito Militar de Miranda, com a sede em Nioaque, em junho de 1858, teve seu primeiro choque com o Exército Paraguaio: em 12 de fevereiro de 1862 recebeu a ordem de marchar de encontro a uma patrulha paraguaia comandada pelo Tenente Pedro Pereyra que havia adentrado o território brasileiro e fazê-la deixar o mesmo. Cumprida a missão, seguiu até o Forte Bella Vista, na então fronteira dos dois países e entregou ao seu comandante um protesto.

No mesmo ano, em 27 de fevereiro, foi designado para o comando da Colônia Militar dos Dourados.

Exercia essa comissão, quando no dia 29 de dezembro de 1864, teve seu encontro com a história.

O combate

Na véspera, havia chegado a notícia da invasão paraguaia. Antônio João deu ordem para que os civis fossem evacuados e mandou um mensageiro para o comandante do Distrito Militar de Miranda, colocando-o a par da situação e a frente de 14 (quatorze) comandados aguardou a força inimiga.

O comandante paraguaio disse em sua parte de combate que “chegou à colônia “sin ser sentido por ninguna persona”; sendo visto, porém, a curta distância e, ouvindo tocar uma curta chamada2 viu que o comandante e alguns, armados, saíram ao encontro da força”. 3

Intimado a se render, Antônio João disse só entregaria o posto com ordem superior.

Ato contínuo irrompeu um rápido tiroteio, ao fim do qual 3 (três) brasileiros, entre eles Antônio João, jaziam mortos. Os demais, feridos ou não, foram feitos prisioneiros, inclusive o mensageiro, enviado a Nioaque, sede do Distrito Militar de Miranda.

O reconhecimento

O exemplo de coragem e desprendimento de Antônio João, logo correu as fileiras do Exército Imperial, passando a inspirar a todos na luta contra o invasor.

Em 1941, seus restos mortais foram transladados para a cripta instalada no mausoléu do Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados, situado na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (RJ) e em 29 de agosto de 1980, o Decreto nº 85.097 o instituiu como Patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO) e o dia 24 de novembro, dia do seu nascimento, como Dia do QAO.

REFERÊNCIAS

MACEDO DE ALCÂNTARA, J. D. O Ceará e a Campanha de Mato Grosso. A Defesa Nacional, v. 59, n. 646, 29 set. 2021.

MIRANDA FILHO. Orlando de. Forte de Coimbra: a história de um posto avançado no oeste do Brasil (1775-1864). Revista Brasileira de História Militar.Rio de Janeiro, Nº 14, agosto de 2014.

MOSLAVES. Bicentenário do Tenente Antônio João: herói da epopéia de dourados 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada “Brigada Guaicurus”. 2 de março de 2023. Disponível em< https://4bdacmec.eb.mil.br/index.php/pt/component/content/article/2-uncategorised/129-bicentenario-do-tenente-antonio-joao-heroi-da-epopeia-de-dourados> Acesso em 15 de dezembro de 2024.

PINTO DE CAMPOS, F. Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados. A Defesa Nacional, n. 744, 14 jul. 2020.

SILVEIRA DE MELLO. Raul. Colônia dos Dourados e a invasão dos paraguaios. O Progresso Digital. 5 de dezembro de 2005. Disponível em https://www.progresso.com.br/variedades/colonia-dos-dourados-e-a-invasao-dos-paraguaios/171198/> Acesso em 15 de dezembro de 2024.

1 MIRANDA FILHO. Orlando de. Forte de Coimbra: a história de um posto avançado no oeste do Brasil (1775-1864).Revista Brasileira de História Militar.Rio de Janeiro, Nº 14,p.65.

2 Toque de corneta.

3 SILVEIRA DE MELLO. Raul. Colônia dos Dourados e a invasão dos paraguaios. O Progresso Digital. 5 de dezembro de 2005.

CATEGORIAS:
História
TAGS:

Comentarios

Comentarios

Ótimo artigo!!!!

Texto muito instrutivo e bem escrito! Excelente!!

Como sempre excelente texto!

Excelente narrativa. Parabéns pela apresentação de grandes artigos! 

类别导航

Artigos Relacionados