O jogo War chegou ao Brasil no início da década de 1970 e foi um sucesso até os anos 80, dando origem a várias versões. Sua concepção foi baseada num misto de sorte e estratégia, permitindo a interação de amigos e familiares por horas.
O jogo é disputado em cima de um tabuleiro que representa as diversas regiões do planeta, sendo dividido em continentes e territórios. Além de dados de defesa e ataque, possui cartas que representam países e que circulam nas mãos dos jogadores, de acordo com algumas condicionantes. Cada participante é representado por um exército de determinada cor. Ganha o que lograr um dos objetivos existentes: conquistar territórios, continentes ou destruir oponentes.
Essas mesmas décadas, de 70 e 80, caracterizaram-se pela détente – redução geral da tensão mundial – e pela distensão da guerra indireta entre as superpotências Estados Unidos da América (EUA) e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A guerra direta entre elas era inviável, pois seus poderosos arsenais nucleares poderiam exterminar a humanidade. Por isso, alimentavam conflitos em outros países como na Coreia e no Vietnã.
Na realidade, a guerra indireta ou Fria, como ficou conhecida, iniciou-se logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, refletindo a disputa entre o capitalismo e o socialismo, materializando-se em ações políticas, propagandas ideológicas, corridas espaciais e armamentistas e guerras regionais.
A disputa hegemônica ou a busca pela supremacia do poder perdurou por muito tempo, até o início dos anos 90, e teve como vencedor os EUA. Assim como no War, em que alguns jogadores impunham a si o objetivo de conquistar o mundo (propósito não existente no jogo), da mesma forma, as superpotências também tinham interesse em dominar todo o tabuleiro mundial. Para tanto, empregavam seus potenciais nos diversos campos do poder para influenciar os demais países.
Ao longo de aproximadamente 40 anos, os dois países esforçaram-se, especialmente, na propaganda político-ideológica, com o intuito de conquistar o apoio mundial. Ambos buscaram desacreditar a ideologia e as ações do adversário e, ao mesmo tempo, convencer a opinião internacional de que seu modelo político, econômico e sociocultural era o melhor.
Nesse tabuleiro, soma-se a República Popular da China, criada em 1949, conhecida no ocidente como "China Comunista". Após a Guerra Fria, o país apercebeu-se do fracasso do plano de Mao Tsé Tung que estava em andamento - o “Grande Salto Avante”. Seu objetivo era tornar o país desenvolvido e socialmente igualitário, pela coletivização do campo por meio de uma reforma agrária forçada e da industrialização urbana.
Para superar as crises e as perseguições políticas violentas do regime comunista, o governo promoveu a abertura da economia a partir de 1978 – plano “Políticas de Portas Abertas” – que resultou em altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita.
O capitalismo, aos poucos, começou a entrar em evidência: aumento do consumo e do número de carros nas ruas; construção de escritórios; surgimento de grupos empresariais e de shoppings centers, símbolos dessa ideologia. Grandes marcas como McDonald`s, Walmart, Carrefour, Ferrari, Audi, Apple, Prada, Hublot, dentre outras, passaram a fazer parte do dia a dia dos chineses. Graças à abertura, a China tornou-se a segunda maior economia do mundo.
Ainda nessa mesma rodada do War, entre as décadas de 60 e 90, dezenas de países africanos tornaram-se independentes. Foi nesse cenário de rupturas coloniais que a África foi palco dos conflitos indiretos da Guerra Fria. Nesse percurso, alguns chefes africanos buscaram apoio da União Soviética, obedecendo mais a estratégias de poder do que a afinidades ideológicas.
Em outra parte do tabuleiro, nas Américas Central e do Sul, diversos países foram alvos da bipolaridade mundial.
Na América Central, em 1959, ocorreu um movimento revolucionário em Cuba, apoiado pela União Soviética, a qual pretendia utilizar a ilha como trampolim para a expansão do socialismo no continente.
Na América do Sul, inúmeros países foram alvos de tentativas da implantação da ideologia vermelha. A Colômbia, por longo tempo, pagou o preço dessa disputa com a presença das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC) em seu território.
O Brasil também foi alvo de movimentos contrários a vontade popular. Contudo, superou as adversidades e tornou-se uma das maiores economias do mundo, com instituições democraticamente fortalecidas.
No final da década de 80, o Muro de Berlim ruiu - as duas Alemanhas foram reunificadas. No mesmo período, o atraso econômico, o modelo de governança ditatorial, a inexistência de democracia e a crise nas repúblicas soviéticas acabaram por acelerar a derrota do socialismo.
Nos anos 90, o presidente da União Soviética promoveu reformas econômicas, mudanças políticas e acordos com os EUA. O sistema enfraqueceu-se. Foi o fim de um período de embates políticos, ideológicos e militares entre o socialismo e o capitalismo. Esse último saiu vitorioso, suplantando aquela ideologia em vários países.
Nos últimos anos, a Venezuela iniciou o processo de implementação do socialismo. Os resultados alcançados estão sendo altamente negativos e, aos moldes de Cuba, têm levado a população a fugir do país.
A História mostra a inconsistência da ideologia vermelha. Sua visão utópica do mundo e fora da realidade contribuiu para a sua não aceitação.
Na atualidade, uma nova partida do jogo está em andamento. As cartas, mais uma vez, estão circulando entre os participantes.
No tabuleiro, um velho jogador já está se sobressaindo com uma estratégia diferente. Vindo do oriente, com força econômica e militar para se impor, seu objetivo ainda não está claro. Os demais jogadores que se cuidem.
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