Uma outra visão sobre as pesquisas recentes. Mais uma vez as Forças mostram sua força.

Autor: Maj Marcus de Andrade Monteiro de Barros

Quinta, 21 Setembro 2023
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“Situados na encruzilhada de várias disciplinas, os processos de comunicação suscitaram o interesse de ciências tão diversas quanto a Filosofia, a História, a Geografia, a Psicologia, a Sociologia, a Etnologia, a Economia, as Ciências Políticas, a Biologia, a Cibernética ou as Ciências Cognitivas”. ( MATTELART, 2002, p. 9).

A partir da citação acima, é possível considerar que a riqueza da área de comunicação também está na interdisciplinaridade. Diferentes disciplinas, diferentes profissionais sentem-se confortáveis em estudar e tecer observações e suas visões em assuntos afetos à comunicação. Por outro lado, o profissional de comunicação muitas vezes também se vê confortável em comentar diferentes assuntos, mesmo sem ser especialista nestas áreas. Mas é necessário cuidado para não gerar “análises” sem profundidade e sob um único prisma.

Caraterísticas da contemporaneidade, já enunciadas e explicadas por intermédio de diferentes acrônimos como, por exemplo, VUCA1 e BANI2, contribuíram para a superficialidade e a geração espontânea de especialistas em generalidades, dificultando a compreensão efetiva dos fatos. Tais características aceleram o tempo histórico, aumentam a quantidade de dados e diminuem o tempo de preparo e análise, privilegiando a velocidade e a quantidade em detrimento da qualidade.

Dito isso, é imprescindível parar, respirar, olhar ao redor e buscar compreender e fazer compreender sob diferentes prismas. Tal fato também se aplica às pesquisas divulgadas por diferentes empresas, como as divulgadas recentemente sobre índices de confiança da sociedade.

Bem, antes de tudo, é preciso saber qual a metodologia empregada na pesquisa e qual o interesse em sua realização. Uma pesquisa custa dinheiro. Quem investiu em sua realização? Com que propósito? Qual é a empresa que executou a pesquisa? A estratificação do público, a definição das cidades e o número de entrevistados por cidade respeitou quais critérios? Os critérios são divulgados de forma clara para que todos possam ter acesso e para que a maioria entenda?

Uma das pesquisas divulgadas recentemente sobre índices de confiança da sociedade foi realizada pela Genial/Quaest (uma empresa de investimento e uma empresa de pesquisa). Segundo as empresas, a pesquisa face a face com 2029 entrevistados ocorreu, entre os dias 10 e 16 de agosto de 2023, com brasileiros acima de 16 anos. Essa quantidade de entrevistados gera uma confiança de 95% e 2.2 pontos percentuais de margem de erro. Ainda, segundo as empresas, a amostragem da pesquisa foi definida a partir do sorteio de cidades e definição do número de entrevistados, com base em dados censitários, sendo que utilizaram “um algoritmo iterativo de calibração” (RAKE) para todos os parâmetros que divergiram mais de 1%, em relação aos dados de referência do registro da pesquisa.

À primeira vista percebe-se que, segundo essa pesquisa, houve uma queda da confiança da sociedade nas Forças Armadas (FA). Porém, é preciso realizar algumas ponderações.

A pergunta feita nas entrevistas foi “O quanto você confia em cada uma destas instituições?”. Para a resposta, o entrevistado tinha 4 opções: confia muito; confia pouco; não confia; e não sabe / não soube responder. Parte de quem respondeu “confia pouco” pode estar mais inclinado a confiar e parte pode estar mais inclinado a não confiar. Talvez, o mais adequado seria apresentar respostas como: confia muito; confia; desconfia um pouco; não confia; e não sabe / não soube responder. Assim, seria possível separar realmente quem confia e quem não confia nas instituições.

 

Pesquisa Genial/Quaest, agosto 2023.

 

É interessante notar que, de acordo com a margem de erro, as Forças Armadas estão tecnicamente empatadas em segundo lugar da pesquisa juntamente com a Igreja Evangélica e a Polícia Militar – sendo a primeira Instituição pública federal.

Porém, é aceitável a interpretação de que confiança é algo que se tem ou não se tem. Nesse contexto, mantendo o raciocínio, é possível compreender que quem confia pouco, confia. Portanto, para a pesquisa da Genial/Quaest, também seria possível somar o índice de “confio muito” com o “confio pouco”. Sendo assim, o Exército Brasileiro com 74% (que é um alto índice) fica somente atrás da Polícia Militar (com 79%) e, tecnicamente empatado dentro da margem de erro com a Igreja Católica (com 76%) – mantendo-se como a primeira Instituição pública federal.

Percebe-se também que todas as instituições obtiveram índices baixos em comparação com a pesquisa realizada em julho de 2023 pela IPEC, antiga IBOPE que colocou as Forças Armadas com 66% de confiança da sociedade. Tal índice é dois pontos acima do índice geral de confiança social e maior do que os anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2018.

 

Pesquisa IPEC, julho 2023.

 Levando em consideração a margem de erro da pesquisa do IPEC, as Forças Armadas estão tecnicamente empatadas em segundo lugar, ficando atrás apenas dos Bombeiros que, assim como a Polícia Militar, não são uma instituição nacional, como as Forças Armadas. A própria Constituição Federal distingue as instituições militares federais e estaduais. E convenhamos, os bombeiros são quase a personificação do herói ideal – arriscam suas vidas, salvam vidas, só ajudam e não aplicam a violência.

Ainda com relação à pesquisa do IPEC, é interessante notar que quanto mais jovem for a estratificação da sociedade, maior é a confiança na Instituição. Na pesquisa da Quaest, a faixa mais jovem (16 a 34 anos) apresenta melhores índices que as demais faixas etárias.

 

Pesquisa IPEC, julho 2023.

 

Pesquisa Genial/Quaest, agosto 2023.

Também é possível depreender que as classes mais baixas com relação à renda apresentam um maior índice de confiança no EB – talvez por não somente conterem a maior porcentagem de jovens que servem ao EB, mas também por serem os maiores beneficiados pelas diversas ações “Mão Amiga” da Força. A essência do EB é o “Braço Forte”, mas a “Mão Amiga” colabora sobremaneira para a confiança da sociedade no EB, ainda mais em períodos de paz. A capilaridade do Exército é impressionante e suas entregas e atuações em prol da sociedade são significativas.

 

Pesquisa IPEC, julho 2023.

Possivelmente, a região Norte apresentaria um índice maior se fosse analisada em separado devido às inúmeras entregas realizadas na região. Apesar do índice aferido na região Sudeste ser o menor entre as regiões, ele é um bom índice.

Voltando para a pesquisa Genial/Quaest, outro ponto a ser observado é o fato de que as Forças Armadas são as Instituições públicas e de nível nacional com maior índice de confiança.

A pesquisa é de nível nacional, porém o entrevistado responde de acordo com a sua experiência e visão de mundo. Em outras palavras, ele responde sobre a Polícia Militar localmente, e esta resposta é computada como se todas as Polícias Militares fossem apenas uma.

Já no último dia 13 de setembro, foi divulgada a pesquisa "A cara da democracia". Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPMiG), a pesquisa é realizada pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), que reúne pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Nacional de Brasília (UNB) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A “Cara da Democracia” de 2023 revelou que o índice de quem “confia muito” nas Forças Armadas caiu 7 pontos percentuais e a porcentagem de quem “não confia”  subiu quatro pontos em relação à pesquisa de 2022.

 

O Globo, setembro 2023.

 

O Globo, setembro 2023.

Realmente houve uma queda, mas façamos uma análise comparativa com as outras Instituições públicas e com os dados que dispomos. As Forças Armadas são as únicas Instituições que a porcentagem de “não confio” não superou os índices de quem confia. De acordo com a pesquisa, as FA são as Instituições públicas com menor índice de quem não confia e tecnicamente empatado (considerando a margem de erro de dois pontos da pesquisa) na primeira posição como instituição pública com maior confiança da sociedade (53 pontos percentuais contra 55 da Justiça Eleitoral).

Além disso, as Forças Armadas e a Justiça Eleitoral são os únicos que a porcentagem de quem confia (“confia muito” e “confia mais ou menos”) é maior que de quem não confia (“confia pouco” e “não confia”), configurando-se mais da metade da população.

Por fim, no dia 15 de setembro de 2023, foi divulgada a pesquisa Datafolha sobre índices de confiança da sociedade. Sobre as FA, de acordo com a pesquisa, 34% dos brasileiros (três pontos a menos que na última aferição da empresa em setembro de 2021) confiam muito; 44% confiam um pouco; e 21% não confiam (um ponto a menos que na última aferição). Se somarmos os índices de confiança (confia muito e confia um pouco), as FA chegam ao expressivo número de 78%, dois a mais que na última aferição de 2021).

Apesar de ser o menor índice da série histórica iniciada em 2017, os 34% dos brasileiros que confiam muito nas FA mantêm a Instituição como a mais confiável do País e que apresenta o segundo menor índice de desconfiança entre as instituições, conforme o Datafolha.

 

Folha de São Paulo, setembro 2023.

O que podemos aferir de tudo isso?

É mister levar em consideração os diferentes propósitos e metodologias das pesquisas e do modo como são analisadas e divulgadas. Também é importante entender que se torna mais árdua a tarefa de analisar uma pesquisa quando a metodologia, todos os dados aferidos, os critérios e os motivos de utilização de algoritmos não são divulgados de forma clara para que qualquer um entenda. Parte das empresas de pesquisas não divulgam tais informações.

Tem gente que só enxerga o copo meio cheio. Tem gente que só enxerga o copo meio vazio. Tem gente que comemora e tem gente que lamenta. Mas é preciso enxergar o copo como ele realmente é, sem paixões bipolares e sem se deixar levar por narrativas e análise sem profundidade. Para tanto, dados e contextos são fundamentais.

Nesse cenário, é possível afirmar que diferentes pesquisas, com diferentes metodologias, índices e números, se analisadas e contextualizadas, podem demonstrar que, apesar de todas as narrativas contrárias às Forças Armadas, elas se mantêm forte. Se fossem outras instituições, talvez o seu desempenho seria muito aquém do demonstrado pelas FA.

E as Forças Armadas se mantêm forte devido aos seus valores, a sua postura de Instituição de Estado e as suas inúmeras e significantes entregas para a sociedade (de ontem, de hoje e de sempre), como, por exemplo, dissuasão que garante a paz social; desenvolvimento de tecnologia dual; geração de empregos; aumento da pauta de exportação; construção e reformas de estradas e pontes; entrega de água em regiões de seca; perfuração de poços; atuação em calamidades e desastres naturais, como no ciclone extratropical do Rio Grande do Sul, chuvas do litoral de São Paulo, enchentes em Recife e sul do País e desabamentos no Rio de Janeiro; atendimento de saúde em comunidades isoladas, como ribeirinhas e indígenas; a histórica integração nacional, de Rondon até o Programa Amazônia Conectada; defesa de aproximadamente 17 mil km de fronteira terrestre (maior que a dos EUA); e preservação do meio ambiente.​

1 Acrônimo em inglês para Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade).

2 Acrônimo em inglês para Brittle (frágil), Anxious (Ansioso), Nonlinear (Não-linear) e Incomprehensible (incompreensível).

 

Referências:

- MATTELART, Armand; MATTELART, Michèle. História das Teorias da Comunicação. 5 ed. São Paulo. Loyola, 2002.

- Pesquisa Genial/Quaest. Confiança nas Instituições. Agosto 2023.

- Pesquisa IPEC. Índice de Confiança Social. Julho 2023.

- O GLOBO. Partidos, Congresso, igrejas, STF: o quanto o brasileiro confia nessas e em outras instituições?, 2023. Disponível em: https://oglobo.globo.com/blogs/pulso/post/2023/09/partidos-congresso-igrejas-stf-o-quanto-o-brasileiro-confia-nessas-e-em-outras-instituicoes.ghtml. Acesso em: 13 set 2023.

- Folha de São Paulo. Datafolha: Confiança nos militares atinge menor índice; STF segue estável: Forças Armadas ainda são ente mais bem visto, em quadro de vaivém institucional. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/09/datafolha-confianca-nos-militares-atinge-menor-indice-stf-segue-estavel.shtml. Acesso em: 15 set 2023.

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Acredito que a maioria da esquerda sempre foi injusta com as Forças Armadas. Ao invés de reconhecer seus feitos, fica inventando subterfúgios para falar mal. E agora a extrema direita também fala mal pq as FFAA não embarcaram na aventura espalhafatosa do golpe graças ao Exército. Todos os anos as FFAA, em especial o Exército ajuda o povo. Exemplo disso é o que estão fazendo agora no meu estado devido ao furacão.
Depois de ler o artigo fui verificar as fontes. Também li a matéria da Folha de São de São Paulo sobre a pesquisa do Datafolha. Na metéria falava em ˜quadro geral de fraqueza". Discordo da matéria e cocordo com o artigo. A confiança caiu sim. A matéria fala inclusive que caiu mais nos eleitores de Bolsonaro, mas a posição das Forças Armadas demonstra força pois ainda é destaque com grandes números - apesar das narrativas negativas.
Gostei deste termo: "especialista em generalidades" muito pertinente a realidade que vivemos. Não obstante gostaria de acrescentar que inegavelmente as Forças Armadas permanecem robustas devido aos seus princípios, à sua postura como uma Instituição de Estado e às suas inúmeras contribuições significativas para a sociedade, tanto no passado quanto no presente.
Interessante. Não tinha me atentado para o fato do Exército estar em primeiro lugar em credibilidade entre as Instituições públicas federais - mesmo com todo o massacre que vem sofrendo à décadas e ainda mais agora.
Pelos comentários feitos nas redes sociais, noto que a "aprovação" não está tão alta como estão cantando por aí.
A Direita não está chateada com o exército por "não ter dado um golpe", estão reclamando porque o alto comando recorreu a perdifia para prender idosos, deficientes, crianças e pais de família na porta dos quartéis. Era só o exército emitir uma nota clara informando que não dariam golpe nenhum! Bem maniqueista sua visão...
No minimo corajoso. Tem muito extremado que não concorda e não enxerga a não ser no que quer acreditar.
Mas, como o artigo diz, é preciso ter calma e analisar o contexto, todo o cenário. É vdd que existem muitos comentários negativos - o que nunca houve antes. Mas quem tece estes comentários são aqueles que queriam que o novo presidente não assumisse e não encontraram amparo no Exercito. Estão altamente afetados pela emoção, pela crença política e tudo o que o Exercito fizer criticam, mesmo salvando vidas no RS e litoral de SP, por exemplo. Outra questão é que, baseado em disciplinas como a psicologia, o ser humano está muito mais disposto a falar mal do que bem. Falar mal e fazer fofoca é mais comum que falar bem. Inclusive o falar mal tem um resultado psicológico interessante. Que é de se colocar, de enxergar como um ente superior a quem está se falando mal. Não esqueçamos houve um boon de seguidores das midias sociais do Exercito por aqueles incentivados pela polarização política e desejo de que o outro não assumisse. Esse pessoal (milhões) não seguiam o Exercito antes. Foram motivados pela polícia e ainda estão. Associado a toda essa questão qualitativa e contexto também pode ser válido verificar que mesmo extrapolando o número de comentários negativos para um total de 10 mil (o que não chega nem perto normalmente), esse número é muito menor, é uma pequena fração dos creio que cerca de 9 milhões de seguidores. Os internautas, inslflados pela política, protegidos pela distancia digital, com uma coragem tipica do meio são ruidosos, como todo rater. Quem curte, normalmente, como já expliquei e a psicologia atesta, em via de regra não o é. Daí corcordar com o autor que as FFAA perderam confiança sim, mas se mantém fortes pela posição, cenário contexto e toda narrativa contrária. Realmente, talvez e provavelmente, se fossem outras instituições teriam uma queda bem mais expressiva. Isso é força E qualquer um que já tenha o Exercito o ajudando como nas calamidades já mfncionadas ou por intermédio de um atendimento de saúde, construção de estrada dentre muitas outris beneficios para sociedade sabe disso.
Vdd. O grafico do data folha mostra bem que eles consideram positivo o confia mais ou menos.

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