No último dia 29 de dezembro, por volta das 15h45min, o 39º presidente dos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2002, James Earl Carter Jr, ou mais simplesmente Jimmy Carter, faleceu em sua casa na cidade de Plains, no estado da Geórgia, no mesmo local em que nasceu, deixando um legado moral que o diferencia dos outros 45 (quarenta e cinco) ocupantes da Casa Branca.
Carter nasceu em 1º de outubro de 1924, filho de James Earl Carter e Bessie Lillian, em uma família de fortes laços com a cultura sulista norte-americana, dentre os quais a religião, fato marcante em sua personalidade.
Após ter concluído, o que no Brasil seria o Ensino Médio na Plains High School, matriculou-se na Georgia Southwestern College, atualmente Georgia Southwestern State University, transferindo-se mais tarde para a prestigiosa Georgia Institute of Technology, conhecida como Georgia Tech, de onde conseguiu sua indicação para a Academia Naval, em Annapolis.
Carter graduou-se naquela escola militar na turma de 1946, sendo mais tarde designado para o serviço em um dos submarinos nucleares da frota estadunidense.
Naquele mesmo ano, se casou com Eleanor Rosalynn Smith Carter, sua companheira pelos próximos 77 (setenta e sete) anos. O casal teve 4 (quatro) filhos: John William (Jack), James Earl II (Chip), Donnel Jeffrey (Jeff) e Amy Lynn.
Naquele mister, teve contato com o futuro Almirante Hyman G. Rickover, o "Pai da Marinha Nuclear" norteamericana, a quem apontava sempre como fonte de inspiração e de onde tirou o título de sua autobiografia “Why Not the Best?” (Por que não o melhor?)1
Com a morte do pai em 1953, Carter deu baixa da Marinha e assumiu os negócios da família, uma plantação de amendoins que, sob sua direção, prosperou.
Com a tranquilidade financeira, veio o interesse pelas questões comunitárias: data desse período sua participação em uma série de conselhos locais, com destaque para a área da Educação.
Findado seu “treinamento”, se candidatou ao senado estadual2em 1962 pelo Partido Democrata, sendo vitorioso e conseguindo a reeleição.
Em 1966, tentou sem sucesso se eleger governador, sendo derrotado no 2º turno.
Somente quatro anos mais tarde, conseguiria alcançar o executivo estadual.
Uma vez em Atlanta, capital do seu estado, surpreendeu a todos com um discurso antissegregacionista e uma revolução na gestão do estado, buscando que este funcionasse de forma mais eficiente.
Fundiu mais de 200 (duzentos) órgãos administrativos em 20 (vinte) agências específicas, eliminando redundâncias e sobreposições de funções, todos subordinados a 3 (três) superagências – os departamentos de serviços administrativos, recursos naturais e recursos humanos, conduziu a reforma no funcionamento do sistema de justiça criminal, promoveu os direitos civis e a igualdade de oportunidades, tendo nomeado mais mulheres e minorias para cargos sob sua discrição do que todos os seus antecessores juntos.
Com o término do seu mandato em 1975, decidiu se apresentar candidato à Casa Branca na eleição de 1976, obtendo a nomination do seu partido, tendo como vice Walter Mondale.
Na época, os EUA viviam o escândalo Watergate,3 que acabaria com o afastamento do então presidente Richard Nixon do cargo.
Em 2 de novembro de 1976, abertas as urnas, James Earl Carter Jr. tornou-se presidente dos EUA, tendo vencido seu adversário republicano, Gerald Ford, por 297 votos a 240 no Colégio Eleitoral (40.831.881 a 39.148.634, no voto popular).
Carter herdou do seu antecessor uma crescente alta de preços, somada a uma taxa elevada de desemprego, estagnação econômica e um aumento sem precedentes do preço do petróleo4, o que o obrigou a adotar uma estratégia de contenção de gastos, aumento de juros e desregulamentação de alguns setores, o que controlou a inflação, mas gerou imensos custos políticos.
Assim como fizera quando governador, nomeou um número recorde de mulheres e minorias para cargos do governo federal, tomou medidas de proteção ao meio ambiente e dedicou cuidados especiais à educação.
Por mais paradoxal que possa parecer, os EUA não possuía o equivalente a um ministério da educação a nível federal, deixando aos estados-membros a quase total responsabilidade pelo assunto.
Carter conseguiu do Congresso a autorização para criar o Departamento de Educação dos EUA em 17 de outubro de 1978, data em que assinou o Department of Education Organization Act.
No que se refere à política externa, deve-se a seu governo o único tratado de devolução de terras assinado por Israel, o Acordo de Acordos de Camp David, que estabeleceu a paz com o Egito, o acordo sobre a devolução da Zona do Canal ao Panamá5·, o boicote às Olimpíadas de Moscou em decorrência da Invasão do Afeganistão pela URSS, a abertura de relações diplomáticas com a China, a assinatura do SALT II (Tratado Estratégico de Limitação de Armas) com a União Soviética.
Marca diferenciadora de sua administração foi o estabelecimento dos Direitos Humanos como um componente essencial da política externa norte-americana.
A despeito dessas iniciativas, seu governo ficou marcado pela Crise dos Reféns no Irã6, oportunidade em que foi acusado de fraqueza.
A conta chegou na eleição de 1980, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição por Ronald Reagan por 489 (quatrocentos e oitenta e nove) votos a 49 (quarenta e nove) no Colégio Eleitoral (43.903.230 a 35.481.115).
Após a presidência, fundou o Carter Center, em 1982, uma organização sem fins lucrativos com objetivo de avançar direitos humanos e aliviar o sofrimento, incluindo ajudar a melhorar a qualidade de vida para pessoas em mais de 80 países.
Com esse escopo, visitou diversos países, se encontrando com líderes dos mais diversos matizes, desde o Primeiro-Ministro israelense Menachem Begin ao presidente sírio Bashar Hafez al-Assad, o líder sul-africano Nelson Mandela e Fidel Castro.
A despeito de ter deixado a presidência sob uma aura de fracasso, Carter deixou um sólido legado de realizações em sua vida pública, assim como um exemplo de simplicidade e coerência, só reconhecidos mais tarde.
REFERÊNCIAS
Fink. Gary M. Jimmy Carter. News Georgia 2024. Disponível em<https://www.georgiaencyclopedia.org/articles/governmentpolitics/jimmy-carter/ > Acesso em20 de janeiro de 2025.
Jimmy Carter: de produtor de amendoim a presidente dos EUA e ganhador do prêmio Nobel da paz. BBC News. 2024. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn0xpk8wx03o> Acesso em 20 de janeiro de 2025.
Morre Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA, aos 100 anos .Mundo G1. 29 de dezembro de 2024. Disponível em <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/12/29/morre-jimmy-carter-ex-presidente-dos-eua-aos-100-anos.ghtml> Acesso em20 de janeiro de 2025
1 Hyman George Rickover (1900 –1986)
2 Naquele estado, o Legislativo é bicameral.
3 Foi um grande escândalo político nos Estados Unidos envolvendo a administração do presidente Richard Nixon, que começou em 1972 e finalmente levou à renúncia de Nixon em 1974
4 A crise do petróleo de 1973.
5 Era um território de 1.432 km² dentro do Panamá, consistindo no Canal do Panamá e de uma área de 8,1km de largura de cada lado. Essa zona foi criada em 8 de novembro de 1903 com a assinatura do Tratado Hay-Bunau-Varilla e estava sob controle dos EUA.
6 Foi uma crise diplomática entre o Irã e os Estados Unidos, onde 52 norte-americanos foram mantidos reféns por 444 dias, após um grupo de estudantes e militantes islâmicos tomar a embaixada americana em Teerã, em apoio à Revolução Iraniana.
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