Tradução especializada no contexto militar

Autor: Maj QCO Cacilda Leal do Nascimento

Quinta, 14 Junho 2018
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A arte de traduzir, seja para a língua que for, pode ser descrita como uma perfeita sintonia entre o texto de partida, o tradutor e sua compreensão da mensagem, o texto traduzido e o leitor final na língua de chegada. Como se vê, o processo tradutório é muito mais complexo do que se imagina, pois o produto desse esforço deve ser uma mensagem que atinja seu objetivo em todos os aspectos, atendendo a uma equivalência funcional e comunicativa. Em outras palavras, o texto deve chegar ao leitor final (na língua de chegada, que é o idioma para o qual se pretende traduzir) da mesma forma que havia chegado aos leitores nativos na língua de partida (que é o idioma de origem do documento). Isso significa que a mensagem traduzida não deve possuir truncamentos ou causar estranhamento ao leitor, seja quanto a formas linguísticas e sua transmissão, seja quanto à linguagem utilizada ou ao sentido da mensagem. O leitor na língua de chegada deve compreender o texto da mesma forma como um leitor nativo da língua de partida o faria.

Quando se trata de áreas de especialidade, como a militar, a questão pode ser ainda mais complexa, porque existem terminologias próprias, que veiculam o conhecimento especializado. Aqui, a atenção deve ser redobrada, pois, mais que um exímio domínio das línguas de partida e de chegada do texto, torna-se de extrema importância que o tradutor domine a terminologia específica. Por isso, um cenário ideal seria se o tradutor fosse um profissional da área, o que, no caso, significaria ser um tradutor especialista militar, o que traria um resultado muito mais eficaz.

Um exemplo do que foi explicado acima pode ser visto na tradução para o espanhol da sentença: "no ano de 1956, houve o primeiro desdobramento de tropas armadas representando as Nações Unidas". Como poderia ser traduzido o termo grifado? Se formos buscar em um dicionário de Português-Espanhol, a palavra encontrada seria "desdoblamiento", que até poderia ser compreendida com algum esforço extra, sem, no entanto, representar o exato significado desejado. Nesse caso, o termo mais adequado na terminologia militar seria "despliegue", e a sentença deveria ser traduzida da seguinte forma: "en el año de 1956 hubo el primer despliegue de tropas armadas representando las Naciones Unidas".

Outro aspecto relevante a ser salientado quanto à tradução de documentos militares refere-se a aspectos culturais e de uso idiomático. Mais que conhecimento da área especializada, o tradutor deve, ainda, conhecer a cultura do local e do próprio campo especializado. Deve, acima de tudo, saber como determinado termo é utilizado no país ou na cultura para a qual pretende transpor a mensagem.

Para fins de exemplificação, peguemos o termo em espanhol "Organismo Internacional de Energía Atómica (OIEA)", para ser traduzido ao português (falado no Brasil). Muitos devem se perguntar: "mas como assim? Devo traduzir nomes próprios?". A resposta é que não se trata de traduzir os nomes, mas de transpor, para a outra língua, a terminologia exatamente como é utilizada pelo falante nativo do idioma de partida (origem) do documento.

Consultando a página web da Organização das Nações Unidas no Brasil (ONU Brasil), verifica-se que o nome adotado em nosso País é "Agência Internacional de Energia Atômica", com a sigla "AIEA". Em uma breve pesquisa por páginas web governamentais, verifica-se, ainda, que o Ministério das Relações Exteriores e outros órgãos públicos também utilizam essa nomenclatura e essa sigla (AIEA).

Com essa breve explanação, ao se utilizar a terminologia adequada, linguística e culturalmente, a mensagem chegaria ao leitor que atua na área específica relacionada à ONU sem causar estranheza. O texto seria compreendido pelos leitores-fim sem qualquer dificuldade.

O fato é que existem inúmeros termos como esses que, mesmo entre línguas tão próximas como o Espanhol e o Português, necessitam de maior cuidado e até de uma pesquisa mais profunda do que uma consulta a um dicionário de línguas.

O mais importante é que não basta saber o idioma, é preciso conhecer a cultura e a área em que se está trabalhando, para que o produto de uma tradução seja o mais certeiro e eficaz possível.

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Comentarios

Comentarios
Excelente texto, muito bem explicado e é uma realidade! Parabéns e gratidão por contribuir com àqueles que trabalham na área!
Artigo primoroso e relevante! Parabéns, querida Cacilda! Hipo! Aço!
Parabéns pelo artigo Cacilda, claro, preciso e conciso! Mantenha o azimute e o passo! Brasil Acima de Tudo!
Muito obrigada! A pesquisa continua, com o objetivo de colocar as ideias em um futuro livro, mais completo e com um glossário, resultado de minha pesquisa de mestrado.
Muito obrigada, meu amigo. Escrever é sempre gratificante. Aço!
Muito obrigada! Realmente é um pequeno detalhe que muitos não se atentam. É sempre um prazer contribuir.
É isso aí Cap... mais conhecimento agregado ao meu "hache d".
Com certeza... sempre aprendendo um pouco mais... conhecimento nunca é demais...
Parabéns pelo estudo Cacilda! Muito elucidativo. Um abraço
Muito obrigada!
Parabéns pelo trabalho Cacilda. Forte abraço!
Artigo interessante e que propicia a reflexão para a importância da inserção do ensino do idioma instrumental (“idioma militar”) nas Escolas Militares do EB, extremamente importante para os militares que cumprirão as mais variadas missões no exterior como alunos, monitores, instrutores, assessores, oficiais de ligação, observadores etc ou para os que serão encarregados de estudar artigos e manuais em outros idiomas. Parabéns, Maj SILVA NÉTO
Muito obrigada, Cel. Abraço
Obrigada pelo comentário. Concordo com sua opinião, o curso de idioma instrumental é direcionado para áreas específicas, como a nossa. Creio que seria de grande valia essa inserção.
projetando escrever um livro técnico na área da psicologia, gostaria de manter contato
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