Tomada de Monte Castelo

Autor: Coronel Rodolfo Tristão Pina

Segunda, 20 Fevereiro 2017
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21 de Fevereiro parece ser um dia comum no calendário da maioria dos brasileiros. Em 2016, foi um domingo. Lembro que passei os olhos em jornais de grande circulação nacional, na busca de alguma referência a um dos grandes eventos da história contemporânea ocorrido nessa data, mas nada encontrei. Vi notícias variadas, de Mick Jagger a Evo Morales, porém nada sobre o que realmente procurava.

Alguns mais eruditos poderiam arriscar que minha busca estava associada ao lançamento do polêmico "Manifesto do Partido Comunista", de autoria de Marx e Engels, no turbulento ano de 1848, e sua repercussão ainda nos dias atuais; ou mesmo à morte brutal de Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X, ocorrida em 21 de fevereiro de 1965, ativista do nacionalismo negro e dos direitos humanos, dos mais eloquentes nos Estados Unidos. Ledo engano.

Buscava algo ligado às nossas lutas como Nação democrática; a exemplos de patriotismo, de superação e sacrifícios pessoais; à conquista de brasileiros de hábitos simples, mas com muito brilho nos olhos, verdadeiros heróis, que deixaram o solo sagrado de nossa Pátria para combater o nazifascismo nos campos frios da Itália, durante a 2ª Guerra Mundial.

Tão difícil seria a tarefa do Brasil em organizar uma força expedicionária que os mais pessimistas apostavam ser mais fácil uma cobra fumar que o País enviar soldados para combater junto aos países Aliados. Como muito bem disse um ex-comandante que tive: "Nossos militares 'fizeram história, venceram desafios', e a cobra fumou".

Em 21 de fevereiro de 1945, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, mesmo ainda inexperiente em combate, protagonizou uma das maiores conquistas em sua participação na Guerra: a Tomada das alturas do Monte Castelo.

Esta campanha militar prolongou-se por três "infindáveis" meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram, nada menos, que seis ataques frontais contra um inimigo fortemente entrincheirado, com privilegiada visão do terreno. Em seu livro intitulado 'Um Capitão de Infantaria da FEB', o então General Ruy Leal Campello, que foi um jovem tenente no 2º Regimento de Infantaria à época da Guerra, refere-se a Monte Castelo como "uma região ameaçadora, que dominava completamente o compartimento de ataque do Batalhão".

Não poderia haver cenário pior para os nossos pracinhas: a falta de adaptação ao frio; a forte neblina que prejudicava a visibilidade; a lama que criava grandes atoleiros, impedindo a passagem de viaturas, e obrigava os militares a deslocarem-se a pé, carregando o peso dos suprimentos; a inclinação do terreno; os incansáveis tiros ajustados de morteiro e de metralhadoras alemãs; e a falta, em muitas ocasiões, de apoio aéreo, de artilharia e dos carros de combate.

Condições extremas que provocaram pesadas baixas e muitas mortes, mas que não foram suficientes para o registro de fatos de indisciplina, relata o General em seu livro: "Ninguém relutava em cumprir as ordens, mesmo sabendo que seria em vão enfrentar o objetivo designado, quando já eram evidentes os sinais de fracasso".

Monte Castelo não caiu pela fraqueza da resistência alemã, mas pelo espírito de cumprimento de missão de nossos combatentes, pelo moral elevado de nossa tropa, pelos exemplos de liderança e coragem de militares, como o Tenente Apollo Miguel Rezk e o Sargento Max Wolff Filho, filhos de uma Nação que parece desconhecer o valor de seus soldados e que não preserva a memória dos que deram a própria vida por um ideário de liberdade de todos os povos.

Em tempos atuais de perniciosa crise moral, que deixou o País mergulhar no caos social e econômico, os exemplos de simplicidade, de obstinação, de patriotismo, de compromisso e de união de nossos 25.000 ex-combatentes mostram o valor dessa nossa "brava gente brasileira" e servem de motivação para as necessárias e urgentes mudanças, com vistas à reconstrução da sociedade que queremos, com base nos princípios da justiça, do amor ao País e do bem comum.

O dia 21 de fevereiro nos comove e deixa emoção e lembranças em todos nós militares. Não é um dia comum em nossos quartéis, pois, desde as lutas em Guararapes, nos idos de 1648, ao emprego recente em missões de paz, fora do território nacional, somos movidos pelos mesmos ideais de culto às tradições, aos valores e às virtudes militares, e ao reconhecimento dos exemplos daqueles que nos antecederam e deixaram um legado de amor à Pátria e de sacrifício.

Cultuar esse memorável feito de nossos pracinhas é mais que homenagem, é dever de todos nós, como cidadãos brasileiros. Que no próximo 21 de fevereiro, a sociedade brasileira possa refletir sobre esse passado glorioso e reconhecer, por meio dos feitos da Força Expedicionária Brasileira, a força que tem. A todos os "febianos", nosso eterno reconhecimento e gratidão e nossa mais vibrante e briosa continência.

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