Por ser escritora com livros já publicados, muita gente me procura querendo saber como se dá o processo de criação de um livro, por isso resolvi escrever este texto, a fim de disseminar minha experiência sobre o assunto.
Quando se decide escrever um livro técnico, que se encaixa na categoria de “não ficção”, deve-se atentar para alguns pontos relevantes antes mesmo de pegar a caneta e começar a rabiscar as primeiras páginas. O passo inicial, escolher o tema, parece muito simples... parece, mas não é. Afinal, como decidir, entre tantos assuntos que permeiam minha profissão e meu dia a dia, o melhor tema para transformar em livro? Mais que definir o que se pretende abordar, é necessário delimitá-lo adequadamente.
Existem diferentes métodos para isso e, aqui, trarei apenas um deles.
O mais comum – e talvez o mais fácil – seria escolhê-lo dentro da área em que se trabalha. Assim, um militar poderia falar sobre assuntos relacionados ao seu cotidiano profissional ou, mais especificamente, um “Guerreiro de Selva” pode optar por tratar sobre as operações nesse ambiente hostil.
O importante, nesse momento, é que não basta escrever meia dúzia de temas em um pedaço de papel, jogá-los para o alto e aquele que cair em suas mãos será o escolhido. Seu livro deve ter um toque especial, para que possa alcançar o leitor, a ponto de fazê-lo selecionar a sua obra diante de uma prateleira repleta de tantas outras nas livrarias ou bibliotecas. Por esse motivo, não é aconselhável escolher determinado tema apenas por estar “na moda”, pois você irá mergulhar nele por um bom tempo e é difícil trabalhar com o que a gente não se identifica. Acaba se tornando penoso e a vontade de prosseguir na missão vai se esvaindo aos poucos.
É necessário, acima de tudo, gostar do que você vai escrever, ter paixão pelo assunto, para que contagie seu leitor e o faça querer devorar cada página de sua obra. Além do que, deve-se dominar o conteúdo do qual se pretende falar; o escritor precisa estar seguro quanto ao que está colocando no papel, para que o seu leitor se sinta da mesma forma quando for ler o livro pronto.
Se o desejo é que seu livro seja consumido (e quem não quer isso, não é mesmo?), o tema deve ser relevante. Pergunte a si mesmo: “esse tema é relevante para o público por quê?”. Se encontrar uma resposta a essa pergunta, pode ser que tenha encontrado o seu nicho.
Escrever sobre temas que permeiam seu cotidiano profissional ajuda nessa tarefa, porque você trabalha com isso todos os dias, sabe o que se passa, conhece os detalhes que outros teriam acesso apenas pelo estudo ou por meio da leitura – nunca é a mesma coisa vivenciar e ler ou estudar. Isso pode representar uma economia de tempo despendido com pesquisas e/ou entrevistas, ambas importantes para bem fundamentar sua obra, embora nem sempre caibam entrevistas.
Por que pesquisar? Porque, mesmo sendo um expert na área, o tema pode apresentar vertentes ou desdobramentos que você possa desconhecer, e seu leitor deseja conteúdos mais profundos e análises mais completas. Sem contar que um embasamento teórico sempre dá mais propriedade a seu discurso, afinal, está sendo mostrado que outros autores pensam igual a você, ou seja, a roda não está sendo reinventada. Sem um embasamento adequado, corre-se o risco de que sua obra acabe desacreditada pelos leitores – uma das piores coisas que poderia acontecer ao autor.
Caso esteja trabalhando com experiências vividas, apresentando relatos pessoais e lições aprendidas, você até pode deixar um pouco de lado esse embasamento teórico e partir para uma análise do que vivenciou. Nesse caso, pode se ater apenas aos fatos ocorridos e aos resultados obtidos.
É importante ressaltar que um livro dessa natureza requer um tema mais concreto, dentro do realismo de teorias existentes e até mesmo comprovadas. Quando se escreve esse tipo de obra mais técnica, devem-se evitar especulações e achismos. Teorias não comprovadas poderiam ser lançadas, sim, porém seria arriscado caso você não pudesse sustentá-las e seu livro estaria sujeito a críticas e até a rejeições por parte de profissionais da área.
Depois de decidir o assunto que irá tratar e o tema a ser abordado, que é uma pequena parte do assunto, é necessário delimitar esse tema, restringindo-o, para não correr o risco de não dar conta da abrangência proposta e deixar sua obra vaga demais, superficial. Por isso, a delimitação é o primeiro ponto que carece de atenção após a escolha do tema propriamente dito.
Outra questão importante é a organização de seu conteúdo. Organizar a linha do pensamento antes de colocar as ideias no papel facilitará seu labor. Torna-se muito mais fácil fazer um planejamento inicial e procurar segui-lo, para manter a coerência e a linearidade – claro que o curso, às vezes, precisa ser revisto e redefinido no desenrolar do trabalho de escrita. O planejamento não é um “trilho”, é uma trilha, que pode ser redirecionada.
O processo que se propõe aqui é bastante próximo àquele utilizado em um trabalho de conclusão de curso ou monografia. Além de definir seu tema e delimitá-lo, é necessário, ainda, encontrar o objetivo de seu livro, que tipo de problema você pretende ajudar seu leitor a resolver, quais passos pretende mostrar... enfim, definir exatamente o que irá falar lhe ajudará a não se perder em elucubrações ou a pecar em esquecer-se de mencionar questões relevantes.
Para fins de exemplificação dessa etapa, peguemos o assunto já mencionado: “operações na selva”. Como o tema é um recorte do assunto, digamos que eu tenha me decidido a escrever sobre “o preparo da tropa para operações na selva”. Mesmo que não pareça, esse tema ainda está amplo demais e talvez não caiba em apenas um livro. Por isso, tente algo mais específico, como um enfoque, uma análise, uma explicação ou um detalhamento. No entanto, esse enfoque deve estar conectado ao seu assunto. Poderia ser, por exemplo, um enfoque psicológico: “o preparo psicológico da tropa para operações na selva”; poderia se especificar, ainda, dentro do próprio tema, por exemplo, o tipo de tropa: “o preparo da tropa paraquedista para operações na selva”... e assim por diante.
Incluir “passos” ou “segredos” sempre atrai o público – pelo menos se vê muito esse tipo de livro ser bastante procurado e geralmente tem boa aceitação dos leitores –, algo como “10 passos para superar desafios na selva” ou “15 segredos para sobreviver na selva”.
Para esse detalhamento e especificação do tema, as cinco perguntas básicas da comunicação sempre ajudam a escolher o aspecto a ser trabalhado: o quê, onde, quando, como e por quê. Com certeza um desses pronomes interrogativos se encaixará em seu tema.
Como eu disse, esse é apenas um método para se definir o tema de seu livro técnico, não se tratando de uma “receita de bolo”. Existem muitos outros. O mais importante é organizar seu conhecimento, analisar, definir, estruturar – palavras-chave para esse momento inicial do trabalho.
Então, mãos à obra!
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