Atualmente, as potências recorrem a robôs para tarefas arriscadas (Sapaty, 2015). Esses robôs são utilizados pelas Forças Armadas (FA) mais avançadas, empregados em sistemas integrados que incluem vídeo, sensores, garras e câmeras.
Segundo o pesquisador Peter Simon Sapaty, da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia, os robôs militares possuem diferentes formatos e tamanhos, de acordo com sua finalidade, e podem ser máquinas autônomas ou dispositivos controlados remotamente. Para tal cientista, acredita-se que o futuro da guerra será travado por sistemas de armas automatizados.
De acordo com a docente de Relações Internacionais (RI) da Universidade Carleton de Ottawa (Canadá), Elinor Sloan, o uso de drones pelos Estados Unidos (EUA) para atingir terroristas no Paquistão e Iêmen é apenas o movimento mais visível em direção ao uso da robótica militar. A tecnologia de vigilância controlada remotamente data da década de 1990, quando o Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) Predator foi utilizado nos conflitos na península dos Balcãs (Sloan, 2018).
Desde então, a discussão sobre a guerra robótica se intensificou (Sloan, 2018). Os avanços em Inteligência Artificial (IA) e plataformas aumentaram a visão de que sistemas letais controlados remotamente serão mais autônomos (Sloan, 2018).
Impulsionados pela competição militar com seus adversários, os EUA e aliados poderiam implementar sistemas aéreos, terrestres e, até mesmo, marítimos e subaquáticos não tripulados que podem tomar uma decisão de disparo letal sem a intervenção humana direta (Sloan, 2018). Entretanto, restrições orçamentárias, pessoal qualificado e os problemas de conexão eletromagnética de plataformas controladas remotamente são questões a serem resolvidas (Sloan, 2018).
Este artigo visa discutir de forma sintética os potenciais impactos da robótica avançada nos desafios do presente e do futuro na guerra moderna. Para atingir tal objetivo, a investigação se desenvolve em formato de revisão narrativa, a fim de responder o seguinte questionamento: como se desenvolve o emprego da robótica no domínio militar e quais as suas potenciais aplicações?
Com o desenvolvimento tecnológico, surgiram os robôs militares, conforme explicam os professores Devi, Anusha e Deepika, do Instituto de Tecnologia Vidya Jyothi, Hyderabad (Índia). Com o advento de tal inovação, a vida do soldado torna-se mais segura no campo de batalha (Devi, Anusha & Deepika, 2019).
Os robôs militares são empregados na detonação de bombas, detecção de minas terrestres, bem como para atirar em alvos inimigos (Devi, Anusha & Deepika, 2019). Segundo tais docentes, os robôs militares são dotados de sistemas integrados com sensores, pinças, armas, câmeras, etc.
A necessidade desses robôs se deve ao terrorismo e à insurgência de grupos guerrilheiros a níveis internacional e local (Devi, Anusha & Deepika, 2019). Dessa maneira, investimentos significativos são realizados para a pesquisa de novos sistemas de defesa que sejam capazes de proteger os cidadãos da ameaça terrorista.
Para os investigadores Bianca Torossian, Frank Bekkers, Tim Sweijs, Michel Roelen, Alen Hristov e Salma Atalla, do Centro de Estudos Estratégicos de Haia (Países Baixos), o robô é uma máquina motorizada capaz de executar um conjunto de ações por controle humano direto, por computador ou ambos. É composto minimamente por uma plataforma, software e uma fonte de energia (Torossian, Bekkers, Sweijs, Roelen, Hristov & Atalla, 2020).
Por outro lado, robôs e sistemas autônomos (Robots and Autonomous Systems – RAS) são termos aceitos na comunidade acadêmica e destacam-se os aspectos físicos (robóticos) e cognitivos (autônomos) desses sistemas (Torossian et al, 2020). Assim, RAS é uma estrutura para descrever sistemas com um elemento robótico e um elemento autônomo (Torossian et al, 2020).
Devido à maior resistência e capacidade de assumir riscos sem colocar vidas humanas em perigo, sistemas autônomos podem dar às FA maior alcance em áreas proibidas, além de possibilitar conceitos de operação mais ousados, conforme explica Paul Scharre, vice-presidente executivo do Centro para uma Nova Segurança Americana (Center for a New American Security - CNAS). Neste sentido, tais sistemas têm sido utilizados com grande eficácia nas operações atuais, mas ainda engatinham em termos de seu máximo potencial (Scharre, 2014).
No entender de Guy Edwards, piloto reservista da Força Aérea Britânica (Royal Air Force – RAF) e analista de doutrina no Centro de Desenvolvimento, Conceitos e Doutrina do Reino Unido (UK Development, Concepts and Doctrine Centre), sistemas robóticos altamente automatizados (frequentemente chamados de sistemas "autônomos") serão uma característica significativa na guerra do futuro, potencialmente levando a uma revolução nos assuntos militares. Nessa linha de raciocínio, o referido oficial alega que os sistemas robóticos provavelmente trarão muitas vantagens com níveis aceitáveis de risco (Edwards, 2023).
Entretanto, segundo Edwards (2023), é necessária uma visão clara sobre como lidar com o assunto. A falta de engajamento pode resultar em graves desvantagens militares, oportunidades perdidas, enfraquecimento das indústrias nacionais de robótica e marginalização das visões das nações sobre o uso ético e a possível regulamentação desses sistemas (Edwards, 2023).
Atentos a esse novo ambiente estratégico, os pesquisadores da Corporação RAND (Research ANd Development), Krystyna Marcinek e Eugeniu Han explicam que a liderança militar da Rússia provavelmente terá que priorizar alguns programas de modernização e abandonar outros. Estrategistas russos têm afirmado que as FA do país não devem corresponder às capacidades de seus adversários; em vez disso, devem buscar uma resposta assimétrica, desenvolvendo capacidades que tornem os sistemas de seus adversários economicamente injustificáveis (Marcinek & Han, 2023).
Nos últimos anos, parece ter havido um consenso crescente na Rússia de que o uso de IA e robótica — possibilitando forças relativamente econômicas, mas capazes — pode ser uma resposta assimétrica (Marcinek & Han, 2023). No entanto, em que pesem as restrições financeiras e tecnológicas, tais pesquisadores entendem que Moscou poderia cumprir sua missão no progresso da robotização de suas FA.
Em pesquisa desenvolvida por Shinde, Mahadeshwar, Nalawade, Kamble, Patil, Patil e Vatkar, do D.Y. Patil College of Engineering and Technology, de Maharashtra (India), foi apresentado o "Robô Avançado de Espionagem Militar e Desativação de Bombas". Utilizando um sensor detector de metais, foi possível remover minas terrestres e desarmar bombas usadas por terroristas (Shinde, Mahadeshwar, Nalawade, Kamble, Patil, Patil & Vatkar, 2023).
Tais pesquisadores indianos explicam que o sensor detecta o sinal transmitido e, de acordo com esse sinal, controla o robô em movimentos para frente, para trás, para a esquerda e para a direita. O detector de metais/bombas pode detectar artefatos explosivos. O robô sem fio para a desativação de bombas utiliza um aplicativo de controle remoto, na extremidade do usuário, via bluetooth (Shinde et al, 2023).
A câmera detecta a localização exata do robô, com um sensor ultrassônico para medir a distância (Shinde et al, 2023). Portanto, nesse trabalho, foi projetado um robô espião difusor de bombas seguro, que garante diversos benefícios, desempenhando papel crucial tanto no setor militar quanto nas polícias (Shinde et al, 2023).
Em termos geopolíticos, à medida que as tecnologias evoluem, a competição entre as grandes potências se intensifica (Vestner & Lusenti, 2023). Para os pesquisadores suíços Tobias Vestner e Arthur Lusenti, a competição tecnológica contemporânea possui três atores principais: EUA, China e Rússia.
Figura 1 – Número de projetos de robôs e sistemas autônomos por país
Fonte: Vestner e Lusenti (2023), baseados no Centro para Estudos de Segurança de Haia (2020).
Essas potências militares estão fortemente interessadas na robótica militar, uma tecnologia essencial para a guerra moderna e futura (Vestner & Lusenti, 2023). Os avanços na área estão ligados às evoluções em tecnologias emergentes e disruptivas (Emerging and Disruptive Technologies - EDTs), como IA, computação quântica e big data, bem como avanços no domínio civil (Vestner & Lusenti, 2023).
Para Vestner e Lusenti (2023), robôs militares são sistemas que podem executar ações automatizadas, automáticas ou autônomas com base em algoritmos. O estudo dos cientistas suíços orienta que no domínio militar, espera-se que a robótica seja um multiplicador de forças, para diminuir os riscos humanos e os custos das FA e para impactar significativamente a competição estratégica no século XXI.
Os resultados ressaltam a relevância da robótica avançada e sistemas autônomos no domínio militar, cujo desenvolvimento é crescente contra as ameaças terroristas e em tarefas de risco, como espionagem e detecção de artefatos explosivos (Shinde et al, 2023). Como esperado, EUA, China e Rússia despontam como líderes em pesquisa e aplicação dessa tecnologia. Por fim, Vestner e Lusenti (2023) indicam que a robótica militar pode ser interpretada como um multiplicador de forças, cujos avanços se relacionam com a IA, computação quântica e big data.
REFERÊNCIAS
Devi, C. S. N. S.; Anusha, M.; & Deepika, K. (2019). An advanced IOT based Robot for Military application. Journal of Emerging Technologies and Innovative Research, 6 (6). Recuperado de https://www.jetir.org/papers/JETIRDC06017.pdf . Acesso em: 15 Jun 2025.
Edwards, G. (2023). Military Autonomous & Robotic Systems Considerations for the way forward from a UK military perspective. Air Power Review, 16 (3). Royal Air Force. Centre for Air and Space Power Studies. Recuperado de https://www.raf.mod.uk/what-we-do/centre-for-air-and-space-power-studies/aspr/apr-vol16-iss3-3-pdf/ . Acesso em: 15 Jun 2025.
Marcinek, K.; & Han, E. (2023). Russia's Asymmetric Response to 21st Century Strategic Competition: Robotization of the Armed Forces. Research Report. RAND Corporation. Recuperado de https://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/research_reports/RRA1200/RRA1233-5/RAND_RRA1233-5.pdf . Acesso em: 15 Jun 2025.
Sapaty, P. (2015). Military robotics: latest trends and spatial grasp solutions. International Journal of Advanced Research in Artificial Intelligence, 4(4), 9-18. Recuperado de https://dx.doi.org/10.14569/IJARAI.2015.040402 . Acesso em: 15 Jun 2025.
Scharre, P (2014). Robotics on the battlefield : Part I: Range, persistence and daring. Washington/D.C, Center for a New American Security, Online Resource (47). Recuperado de https://s3.us-east-1.amazonaws.com/files.cnas.org/hero/documents/CNAS_RoboticsOnTheBattlefield_Scharre.pdf . Acesso em: 15 Jun 2025.
Shinde, A. D.; Mahadeshwar, M. S.; Nalawade, R. S.; Kamble, S. S.; Patil, B. R., Patil, S. B., & Vatkar, N. S. (2023). Advanced Military Spying & Bomb Disposal Robot. International Journal of Innovative Research in Electrical, Electronics, Instrumentation and Control Engineering - IJIREEICE, 11 (6). Acesso em: https://ijireeice.com/wp-content/uploads/2023/06/IJIREEICE.2023.11612.pdf
Sloan, E. (2018). Robotics and Military Operations: policy implications for the civil-military leadership. In: Braun, W. G., Von Hlatky, S., & Nossal, K. R. (Eds). Robotics and Military Operations. Strategic Studies Institute and US Army War College Press. Recuperado de https://press.armywarcollege.edu/monographs/399/ . Acesso em: 15 Jun 2025.
Torossian, B., Bekkers, F., Sweijs, T., Roelen, M., Hristov, A., & Atalla, S. (2020). The military applicability of robotic and autonomous systems. Hague Centre for Strategic Studies. Recuperado de https://hcss.nl/report/the-military-applicability-of-robotic-and-autonomous-systems/ . Acesso em: 15 Jun 2025.
Vestner, T.; & Lusenti, A. (2023). Great Powers’ Military Robotics. Strat. Militärwissenschaftliche Zeitschrift der Schweizer Armee Rev. Sci. Mil. l’Armée suisse, 79. Recuperado de https://dam.gcsp.ch/files/doc/great-powers-military-robotics . Acesso em: 15 Jun 2025.
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