A origem da liderança está associada intrinsicamente à atividade militar. A existência do líder é inerente à necessidade de condução de homens quando em combate. Conforme afirmou o Professor Emérito de liderança na Harvard Bussiness School, John Kotter, “ninguém descobriu ainda como gerenciar pessoas de forma eficaz em uma batalha; elas devem ser lideradas”.
Embora as escolas militares estejam cientes dessa necessidade e invistam na formação de líderes militares, a necessidade de líderes em diferentes campos da vida em sociedade tem sido um marco na história da humanidade e a sua existência, fator de significativas transformações.
Alguns setores perceberam com mais força a importância da liderança e investem no seu pessoal, na busca do surgimento de verdadeiros líderes para a condução das ações. O ambiente empresarial, particularmente, absorveu com entusiasmo essa verdade e, ao focar na formação de líderes, testemunhou significativo avanço no mundo dos negócios.
É perceptível que a liderança tem que extrapolar o ambiente militar e empresarial e se espalhar por diferentes setores da sociedade. Na mais alta estrutura governamental, é preciso que haja líderes capazes de conduzir os desígnios das nações e seus povos.
O líder é capaz de guiar o grupo a melhores destinos, a atingir metas que não seriam alcançadas sem a sua presença. Para tanto, o líder deverá ter visão, ser capaz de enxergar aquilo que ainda está imperceptível aos olhos dos demais. Terá, também, de exercer influência, ser capaz de motivar seus liderados a compartilhar dessa visão. Para tanto, o líder deverá possuir inteligência interpessoal, componente basilar daquilo que foi definido por Daniel Goleman como Inteligência Emocional.
Ele deverá, portanto, ter capacidade de reconhecer emoções, ou seja, possuir empatia. Além disso, ser capaz de administrar relacionamentos, fazendo uso correto da autoridade; praticar a justiça, dando a cada liderado o que lhe é devido, agindo com neutralidade, não tendo “dois pesos e duas medidas”; ter paciência na convivência pessoal e profissional; e tato ao lidar com as pessoas.
Quanto mais elevada for a liderança, mais o líder exerce a liderança indireta. O líder, nesse patamar, exerce sua liderança por meio de outros líderes. É o líder que influencia outros líderes, é o líder “couch”, que forma novos líderes, é o líder capaz de identificar lideranças emergentes.
Terá, sim, que possuir conhecimento técnico na sua área de atuação, porém, o líder pleno, em elevado patamar hierárquico, poderá não dominar todos os aspectos técnicos e, em situações pontuais, exercerá sua liderança por intermédio de um líder hábil a conduzir as ações nessa situação específica. Essa liderança pontual é o que Max De Pree chamou de “Roving Leadership”, uma liderança itinerante, emergente, aplicada àquela situação específica. Ao líder pleno cabe a identificação das pessoas que poderão exercer essa liderança pontual em um momento de crise específico.
O líder é uma construção pessoal. É possível mostrar as ferramentas com as quais se constrói um verdadeiro líder, mas a sua edificação é pessoal, ele se autoconstrói. É impossível, diferentemente do que ocorre na quase totalidade de outras áreas de formação, que ao final de um curso de liderança seus alunos sejam agraciados com um diploma de líder.
Os quartéis, as empresas, a sociedade, enfim, toda a humanidade precisa que indivíduos aprendam a mexer com essas ferramentas de construção da liderança, que se sintam motivados, vocacionados e, acima de tudo, que sejam disciplinados e persistentes para se transformarem em verdadeiros líderes.
* Artigo publicado originalmente na agência de notícias DefesaNet em 20 de outubro de 2020.
** O Gen Joarez é Assessor do Departamento de Educação e Cultura do Exército e ministra palestras sobre Liderança nas Escolas Militares.
Comentarios