Os desafios de se conciliar o preparo e o emprego da tropa com a proteção do meio ambiente

Autores: Ten Cel Leonardo Rodrigo Fonseca Tigre Maia
Quarta, 15 Fevereiro 2023
Compartilhar

Subordinado à 4a Brigada de Infantaria Leve de Montanha (4ª Bda Inf L Mth), em 6 de agosto de 2012, o então Campo de Instrução de Juiz de Fora (CIJF) passou a ser também um Centro de Educação Ambiental e Cultura (CEAC). Com essa nova denominação, um desafio: “conciliar a instrução militar com a preservação do meio ambiente”. Esse desafio faz parte do seu lema e de sua missão precípua “apoiar a instrução militar, proteger o meio ambiente e preservar o patrimônio histórico e cultural”.

As idas e vindas do adestramento das tropas se deslocando no terreno, os estampidos das detonações de munições pesadas e as rajadas de metralhadoras .50 das viaturas Guarani que realizam testes no terreno coexistem pacificamente com atividades de educação ambiental, plantio de árvores, passeios ecológicos, gincanas ambientais e equoterapia com crianças com necessidades especiais.

Localizado em uma área urbana da cidade de Juiz de Fora, entre a Mata do Krambeck (maior reserva privada de mata atlântica em área urbana do país) e a represa Dr. João Penido (segundo maior manancial que abastece a cidade), o CIJF/CEAC prova que é possível conciliar atividades tão antagônicas de modo a minimizar os impactos negativos advindos da missão de preparo e emprego de nossos combatentes de montanha.

Com vistas a conscientizar os combatentes que atuam no ambiente operacional de montanha, o CIJF/CEAC promove diversas ações, sempre em consonância com as diretrizes do Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (SIGAEB), dentre elas o Programa de Assessoria em Gestão do Meio Ambiente, permitindo o assessoramento às organizações militares (OM) subordinadas à 4ª Bda Inf L Mth e à guarnição de Juiz de Fora nos assuntos relacionados à conformidade ambiental.

Desde 2019, o corpo técnico da Seção de Educação Ambiental e Cultura ministra palestras sobre temas diversos, tais como: Recursos Hídricos e Energia, Resíduos Sólidos e Coleta Seletiva, O Exército e o Meio Ambiente e Medidas de Austeridade.

O Seminário de Meio Ambiente e Biossegurança é realizado anualmente, em parceria com a Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com a finalidade de promover a difusão do conhecimento técnico-científico básico para os militares. A atividade já está em sua oitava edição e conta com palestrantes brasileiros de alto nível técnico-científico, promovendo a discussão sobre as possibilidades e viabilidades da aplicação de técnicas de proteção do meio ambiente e profilaxia de doenças nas atividades militares, bem como a interação com o meio acadêmico.

De modo a complementar as ações educacionais, são disponibilizados aos militares das guarnições de Juiz de Fora, São João Del Rei, Santos Dumont, Petrópolis e Belo Horizonte diversos cursos técnicos desenvolvidos na área do CIJF/CEAC. A maioria deles é realizada em parceria com o SENAR-MG, possibilitando a capacitação de militares e a vinculação da parte prática às demandas ambientais do próprio Campo de Instrução. Nesse contexto, são conduzidos os seguintes cursos: recuperação de nascentes, recuperação de áreas degradadas, construtores de fossa ecológica (bacia de evapotranspiração) e viveirista florestal.

No que tange à utilização do CIJF/CEAC para o preparo da tropa, a coordenação entre a equipe de instrução das OM que utiliza o campo de instrução e a equipe da seção de segurança é crucial para manter o equilíbrio dessas duas atividades tão antagônicas. Fruto dessa coordenação, podemos elencar as seguintes ações:

a) Monitoramento das condições climáticas (umidade, índice pluviométrico, temperatura, dentre outras) e das condições do terreno onde ocorrerá o exercício (elevação, característica da vegetação, existência de aceiros e vias de acesso, presença de açudes, dentre outras), com vistas a fornecer elementos para a tomada de decisão acerca da viabilidade da manutenção da atividade na data prevista e do grau de risco que a mesma possui.

b) Obrigatoriedade da presença de uma equipe de combate a incêndios, com viatura auto bomba tanque (no caso de instruções com emprego de munições e granadas, com destruições de munições etc.).

c) Orientação sobre a proibição de supressão vegetal, caça, pesca, dentre outras contidas nas Instruções Reguladoras para o Sistema de Gestão Ambiental no Âmbito do Exército (IR 50 – 20).

d) Monitoramento aéreo do campo de instrução, supervisionando a obediência às normas e buscando possíveis focos de incêndio.

e) Ao término de cada exercício no terreno, uma equipe da Seção de Segurança percorre a área em busca de possíveis irregularidades ou resíduos de diversas classes deixadas no terreno, visando comunicar o ocorrido aos responsáveis.

Por fim, temos ciência de quão desafiadora é a missão, mas, sem dúvida, as atividades podem ser conciliadas, gerando prejuízos mínimos, desde que sejam respeitadas as diretrizes estabelecidas e as legislações ambientais vigentes, em especial quanto ao uso dos campos e das áreas de instrução.

 

_______________________________________________________________

Referências:

PORTARIA Nº 1.138, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2010. Aprova a Política de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro.

PORTARIA Nº 386, DE 9 DE JUNHO DE 2008. Aprova as Instruções Gerais para o Sistema de Gestão Ambiental no Âmbito do Exército (IG 20-10) e dá outras providências.

PORTARIA Nº 001-DEC, DE 26 DE SETEMBRO DE 2011. Aprova as Instruções Reguladoras para o Sistema de Gestão Ambiental no Âmbito do Exército (IR 50 - 20).

PORTARIA Nº 055-DEC, DE 31 DE AGOSTO DE 2018. Aprova a Diretriz do Programa de Conformidade Ambiental do Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro. (EB50-D-04.007).

Comentarios

Comentarios
Bom dia, senhores. Parabenizo a todos pela iniciativa e práticas excelentes em prol do meio ambiente. Importante ressaltar a contribuição de biólogos e veterinários no meio das atividades de campo e teóricas das Forças Armadas do Brasil, é viável conhecer o bioma de cada região que se realiza os exercícios, no todo, fauna, flora, solo e climas. Evitando riscos in loco ao ambiente e aos que estão usufruindo da região. Acredito que já possuem essa metodologia ou pratica inserida, mas fica o destaque. E é gratificante poder ter conhecimento dos esforços das FFAA não só da proteção mais também da conservação do nosso terreno brasileiro.
Quero desde já parabenizar todos os militares por esse excelente trabalho de proteção e conservação das áreas ambientais e também por preservar o patrimônio histórico e cultural isso é muito importante para o nosso país.????

Navegação de Categorias

Artigos Relacionados