Os 110 anos da Expedição Científica Roosevelt-Rondon

Autor: Tenente-Coronel Anderson Fidélis José da Silva

Quarta, 22 Maio 2024
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No ano de 2024, completam-se 110 anos de uma expedição marcante na história  brasileira. Em 1914, o então Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon chefiou a comitiva brasileira da expedição científica “Roosevelt-Rondon”.
Em 1913, Theodore Roosevelt J., presidente dos EUA entre os anos de 1899 e 1908 realizava conferências na América do Sul, quando materializou seu interesse científico pela Amazônia, incursionando pela floresta para estudos geográficos e de história natural.
Rondon foi escolhido pelo Ministério da Guerra para essa expedição, face a sua larga experiência nos sertões do Brasil. Ressalta-se que, nessa época, Rondon estava em expedição pela Amazônia com a Comissão de Construção de Linhas Telegráficas quando foi designado para essa árdua missão.
Convencionou-se que a expedição científica estudaria a fauna e a flora da Amazônia para coletar exemplares de animais, vegetais e minerais, enviando-os para o American Museum of Natural History de Nova Iorque. Para isso, a comitiva do ex-presidente Roosevelt contava com dois naturalistas: Cherrie e Leo E. Miller; o secretário de Roosevelt: Frank Hasper; um enfermeiro: Jacob Sigg; e um antigo explorador dos polos: Anthony Fiala. O filho do ex-presidente norte-americano, Sr. Kermit juntou-se à expedição no sul do Brasil.
A expedição partiu de Corumbá em 12 de dezembro de 1913. Percorreu as bacias do Paraguai e do Amazonas, chegando ao “Rio da Dúvida” para reconhecer seu trajeto. Esse curso d’água foi escolhido pelo ex-presidente estadunidense dadas as maiores dificuldades que, provavelmente se apresentariam, quando comparadas às demais alternativas apresentadas por Rondon.
Rondon estava acompanhado por um grupo de elite composto por astrônomos, geógrafos, botânicos e zoologistas. Com essa equipe de escol, pôde fazer um levantamento inédito das riquezas naturais da Amazônia, das quais as relevâncias econômicas e sociais são observadas até os dias atuais.
Rondon admirava a predileção de Roosevelt pela caça de animais para fins científicos. Durante a expedição, realizaram caçadas de onças, porcos-do-mato, antas entre outras espécies selvagens com objetivo de coletar dados de interesse, empalhá-los e remetê-los aos EUA para estudos científicos.
A forma amistosa como Rondon relacionava-secom os índios durante a expedição, conquistou a admiração da comitiva norte-americana. Tal feito se deu durante as ações de Rondon à frente da Comissão de Construção de Linhas Telegráficas, quando pacificou povos indígenas, adotando o humanismo e a filosofia positivista, das quais era adepto. Destaca-se que o próprio Rondon era descendente de indígenas Terenas, o que cooperava para o relacionamento fraterno com esses povos tradicionais.
A expedição transcorreu com enormes dificuldades. Os incessantes ataques de mosquitos e animais peçonhentos, as chuvas torrenciais, as doenças tropicais e o calor excessivo foram apenas alguns dos óbices que testaram a resiliência dos expedicionários.
Em virtude desses óbices, Rondon encontrou resistências na seleção dos homens que o acompanhariam. Os perigos já conhecidos do bioma amazônico criaram receios no efetivo, fomentando episódios pontuais de indisciplina.
A partir de Tapirapuã no Mato Grosso, a expedição seguiu por terra até o tributário do rio Tapajós na Bacia Amazônica. Para isso, a expedição utilizou animais de montaria por 11 dias, enfrentando piuns, terreno escorregadio e sol inclemente.
Após essa longa jornada, carregando o mínimo de provisões e sobrevivendo à base de caça, a expedição alcançou o Rio da Dúvida, em 25 de fevereiro de 1914 para explorar aquele curso d’água desconhecido.


Fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2020/05/medo-e-deastacao-nos-caminhos-centenarios-da-expedicao-roosevelt-rondon

 

O Rio da Dúvida ganhou esse nome, pois seu curso era desconhecido. Havia incertezas se desembocava no Rio Madeira, no Rio Guaporé ou se tinha menor importância para integração nacional, em que pese haver relatos de sua existência, registrados pelo explorador português Pedro Teixeira, datados do século XVIII. Tal conhecimento mostrava-se fundamental para o traçado das linhas telegráficas, ainda a serem instaladas naquela região inóspita do Brasil.
A expedição pelo Rio da Dúvida iniciou em 27 de fevereiro de 1914 com o emprego de apenas 7 canoas. Com elas, a expedição desceu corredeiras e cachoeiras traiçoeiras que geraram riscos para aqueles aventureiros. Foi nesse cenário que um dos canoeiros da comitiva brasileira perdeu a vida tragado pelas águas do rio. Tal acidente também quase vitimou fatalmente o Sr Kermit, filho do ex-presidente Roosevelt.
A equipe que acompanhava Rondon percorreu a maior parte do itinerário por terra, a cavalo pelo Rio da Dúvida. Isso, em razão de 3 canoas terem sido danificadas, além da necessidade de serem realizados levantamentos topográficos fundamentais ao sucesso da missão. Essas condições desgastaram fisicamente os companheiros que davam suporte a Rondon, já que esse seguia a pé pelas picadas estreitas na floresta fechada e repletas de insetos que danificaram as vestimentas dos expedicionários.
O próprio ex-presidente Roosevelt ficou gravemente enfermo em face de uma erisipela contraída após machucar a perna durante o estaiamento de uma canoa. Os demais integrantes da comitiva norte-americana também foram acometidos por disenteria e malária, enfatizando os perigos enfrentados pela expedição. Contudo, Rondon tomou todas as medidas disponíveis para dar suporte aos homens enfermos, o que permitiu o prosseguimento daquela missão.
Após 59 dias, percorreram 686.360m, dos quais 276.000m foram tão ásperos e hostis que tiveram de lutar 48 dias para não se deixarem abater pela fadiga nem pelas dificuldades que surgiam em diversos momentos.
Ao todo, foram 5 meses de expedição que permitiram conhecer melhor a bacia do Amazonas, estabelecer contato com diversas tribos indígenas, fazer levantamentos topográficos e colher milhares de espécies animais e vegetais para o museu de Nova Iorque.
A missão foi oficialmente encerrada em 30 de abril de 1914 com uma cerimônia ocorrida em Belém do Pará onde foram hasteadas as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos. Na ocasião, Roosevelt fez menções honrosas aos brasileiros pela bravura, coragem, abnegação e patriotismo, sob a liderança do Coronel Rondon.
Por fim, foi possível concluir  que o Rio da Dúvida desembocava no Rio Madeira, sendo navegável em todos os seus 1500m, apesar das incontáveis cachoeiras. Com isso, o mapa hidrográfico brasileiro foi atualizado e, a pedido de Rondon, o curso d ́água passaria a ser designado Rio Roosevelt, a contar de 19 de abril de 1914, selando a amizade e a admiração mútua entre o ex-presidente e o patrono da Arma de Comunicações.

Bibliografia

BIGIO, Elias dos Santos. Cândido Rondon, A Integração Nacional, Editora Contraponto, Ano 2000. 
VIVEIROS, Esther de. Rondon Conta sua Vida, Biblioteca do Exército, Ano 2010. 

CATEGORIAS:
História Meio Ambiente

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O Presidente Theodore Roosevelt tinha um carinho especial pelo Brasil. Seu périplo por aqui foi longo, pois esteve em Piraju em 1913, para inaugurar uma ponte de ferro cujo engenheiro tinha sido seu filho, Dali partiu para a expedição interessante que descreveu o Maj Fidélis.

O Coronel Veterano Hiram Reis e Silva escreveu uma excelente obra sobre a a Expedição Roosevelt-Rondon - Está disponível em: 

 

A Expedição Roosevelt-Rondon foi  retratada pelo Coronel Hiram Reis e Silva n publicação Expedição Centenária Roosevelt Rondon - a disposição no site www.ecoamazonia.org.br  Expedição Centenária Roosevelt Rondon / Atualizado em 5-01-2024 – Ecoamazônia (ecoamazonia.org.br) 

 

 

Gostaria de saber onde encontro a mini-série ( "O hóspede americano") sobre essa expedição ? Já procurei em vários streamings sem sucesso, obrigado,  Fernando. 

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