O Sargento Max Wolf e os 80 anos da Força Expedicionária Brasileira (FEB): um legado de bravura e patriotismo em prol do País

Autores: Cel André Dias 2º Ten Duarte
Segunda, 28 Julho 2025
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Cultuar as raízes e tradições do Exército Brasileiro é exaltar sua essência, forjada por princípios morais e éticos bastante sólidos. É também preservar e valorizar um legado construído com o suor, o sangue e os sacrifícios daqueles que nos antecederam. É, portanto, permitir aos seus integrantes de todas as épocas e à sociedade, da qual são parte indissociável, uma clara compreensão da missão e da razão de ser da Instituição, bem como de suas entregas ao longo do tempo e de sua importância para a defesa do País e o bem-estar da população.

Neste contexto, é sempre oportuno destacar figuras ímpares que sintetizam os valores perenes da nossa Força. São inúmeros exemplos de heróis e heroínas de pele verde-oliva que inspiram e enchem de orgulho os mais de 220 mil homens e mulheres que compõem as fileiras do Exército “de hoje”, ao mesmo tempo em que fortalecem o sentimento de pertencimento e coesão do Exército “de sempre”, unindo passado, presente e futuro por meio de um laço forte.

A figura lendária do 2º Sargento Max Wolf Filho, como destacado integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB), se encaixa perfeitamente nesse propósito. Além disso, o ano de 2025 representa, em particular, um momento bastante propício, pois celebra os 80 anos da vitória dos Aliados na 2ª Guerra Mundial. Naquele conflito, considerado o mais sangrento da história, o “pracinha” brasileiro, como único representante da América do Sul, escreveu páginas de glória da história nacional em solo italiano, lutando contra o nazifascismo com destemor e fé na causa, em prol da liberdade e da democracia.

Paranaense de Rio Negro e nascido em 29 de julho de 1911, Max Wolf Filho assentou praça aos 18 anos, como soldado de Infantaria do 15º Batalhão de Caçadores1. Participou da Revolução de 1930 e, dois anos depois, lutou contra os paulistas rebelados na Revolução Constitucionalista de 1932, como cabo do 3º Regimento de Infantaria (3º RI)2 e, sob as ordens do Capitão de Infantaria Zenóbio da Costa3. Ferido com certa gravidade nesse último acontecimento, teve seu valor militar reconhecido com a promoção à graduação de 3º sargento por bravura.

Com a criação da Polícia Municipal do Distrito Federal (atual cidade do Rio de Janeiro), em 1934, sob a responsabilidade do Major Zenóbio da Costa, a necessidade de compor o efetivo com pessoal de confiança e comprovada capacidade profissional fez despontar, inevitavelmente, o nome de Max Wolf Filho. Como integrante da nova corporação, participou ativamente das ações de combate à Intentona Comunista de 1935.

Quando o Brasil declarou guerra ao Eixo4, Max Wolf prontamente se voluntariou para integrar o contingente da FEB. Dificuldades surgidas durante o rigoroso processo de seleção quase inviabilizaram seu intento, mas a pronta intervenção de Zenóbio da Costa garantiu sua inclusão nos quadros do 11º Regimento de Infantaria. Em 6 de outubro de 1944, desembarcou em Nápoles, na Itália.

Com mais de 30 anos de idade e uma experiência profissional inquestionável, adquirida em combates regulares e irregulares, Max Wolf não decepcionou na guerra. Muito pelo contrário, desempenhou-se de forma magnífica, externando qualidades fundamentais, como: coragem moral e física; liderança pelo exemplo; disciplina, inclusive intelectual; iniciativa alinhada à intenção do comandante; espírito de sacrifício, camaradagem; resiliência; e perseverança (Figura 1).

O fatídico dia 12 de abril de 1945 marcou seu ato final, descendo com profundo pesar a cortina de sua trajetória vencedora e devotada ao serviço da Pátria. Durante uma patrulha de alto risco — como tantas outras às quais ele se oferecia voluntariamente para comandar — o Sargento Max Wolf foi mortalmente atingido por uma rajada de tiros inimigos, na fase final da missão. A temida metralhadora “Lurdinha” ceifava mais uma vida brasileira.

Em seu livro, Histórias de Pracinha - Oito Meses com a Força Expedicionária Brasileira, o correspondente de guerra Joel Silveira relata, em detalhes, sua conversa com Max Wolf, minutos antes da partida à sua derradeira tarefa. Destaca o carinho com que o sargento se referia à família, em particular à sua filha, e sua expectativa de um regresso futuro à casa. Ao lado do Tenente Octávio Costa5, em um posto de observação, Joel Silveira foi testemunha ocular do momento em que o sangue ardente do herói regou o solo gelado de Montese.

Sobre o fato, desabafou o Major Manuel Rodrigues Carvalho Lisboa6, Comandante de Max Wolf7: “Hoje é um dia triste para o Batalhão. Nós perdemos um bravo”. Em reconhecimento aos seus feitos heroicos, Max Wolf foi promovido post mortem ao posto de 2º tenente e agraciado com as seguintes condecorações: Medalha de Guerra8; Medalha de Campanha da FEB9; Medalha Sangue do Brasil10; e Cruz de Combate de 1ª Classe11. Ainda em vida, havia recebido do governo dos Estados Unidos da América a Medalha Bronze Star, por atos de bravura.

Oito décadas transcorridas, a lembrança do herói permanece viva no imaginário de todos e justas homenagens foram feitas pelo Exército Brasileiro. Hoje, seu nome é utilizado na denominação histórica de duas importantes Organizações Militares: a Escola de Sargentos das Armas12 – Escola Sargento Max Wolf Filho (Figura 2) e o 20º Batalhão de Infantaria Blindado – Batalhão Sargento Max Wolf Filho (Figura 3).

Em 2019, foi instituído o Sabre Sargento Max Wolf Filho (Figura 4), símbolo da honra militar, do espírito de liderança e do legado do herói. Esse sabre, entregue aos alunos do 2º ano do Curso de Formação e Graduação de Sargentos, marca a transição desses alunos para uma nova etapa de formação, simbolizando o fortalecimento do compromisso com os valores e as tradições do Exército de Caxias. Vestidos com uniforme histórico, os futuros sargentos realizam um juramento solene, assumindo o dever de cultuar e preservar os princípios que norteiam a Instituição, em consonância com o exemplo de bravura e patriotismo deixado pelo grande Soldado.

No ano de 2010, foi instituída a Medalha “Sargento Max Wolf Filho”13 (Figura 5), com o intuito de reconhecer a dedicação à profissão e o interesse pelo aprimoramento de subtenentes e sargentos do Exército Brasileiro, enaltecendo as caraterísticas e atitudes do herói o qual empresta o nome à honraria. Concedida anualmente, distingue as praças que mais se destacam pelo mérito e conduta exemplar. Como forma de ainda mais prestigiar a Medalha, em 2025, ano em que se comemoram os 80 anos das vitórias da FEB na Itália, sua imposição ocorrerá em formatura centralizada na Guarnição de Brasília, no dia 29 de julho e com a presença do Comandante do Exército.

Conhecido por sua liderança firme e destemida, Max Wolf comandou dezenas de patrulhas com êxito, conquistando a admiração e o respeito de subordinados, pares e superiores. Seu exemplo transcende o campo de batalha e permanece vivo, guiando gerações. Herói sempre lembrado, é ícone na guerra e na paz. É o próprio arquétipo do militar íntegro, comprometido com a missão, movido por elevado senso de responsabilidade e cumprimento do dever, com sólida formação moral e ética, referência de coragem e determinação, enfim, a verdadeira síntese do amor incondicional ao Brasil.


 



 

1 Organização Militar existente em Curitiba-PR, hoje denominada 20º Batalhão de Infantaria Blindado.

2 À época em São Gonçalo-RJ, hoje como 3º Batalhão de Infantaria de Selva, com sede em Barcelos-AM.

3 Como General de Brigada, comandou as primeiras ações do Brasil em solo italiano, liderando a marcha para o combate do Destacamento FEB no vale do rio Serchio, de setembro a novembro de 1944. Alcançou o posto de Marechal ao final da vida.

4 As potências do Eixo foram inicialmente unidas por um tratado chamado Pacto Anti-Comintern de 1936 e seus signatários iniciais foram a Alemanha e o Japão. Em 1936, o governo fascista da Itália sob o comando de Benito Mussolini aderiu ao referido tratado. Essa nova aliança foi apelidada de Eixo Roma-Berlim-Tóquio (ou Eixo, para abreviar). Em setembro de 1940, a Alemanha, a Itália e o Japão assinaram o Ato Tripartite, prometendo apoio militar e econômico mútuo. Outros países assinaram esse mesmo Pacto antes e durante a guerra, incluindo Romênia, Hungria e Bulgária.

5 Foi General de Divisão, Secretário-Geral do Exército, dentre outros importantes cargos, autor de importantes livros sobre a FEB e autor da marcante e profunda frase: “A farda não é uma veste que se despe com facilidade e até com indiferença, mas uma outra pele, que adere à própria alma, irreversivelmente para sempre”.

6 Alcançou o posto de General de Exército posteriormente à Guerra.

7 O 3º Sargento Max Wolf pertencia à Companhia de Comando do I Batalhão de Infantaria do 11º Regimento de Infantaria, Batalhão comandado pelo Major Manuel Rodrigues Carvalho Lisboa, que alcançou o posto de General de Exército.

8 Criada pelo Decreto-Lei nº 6.795, de 17 de agosto de 1944, para premiar os serviços relevantes ao esforço de guerra, preparo de tropa ou desempenho de missões especiais confiadas pelo Governo dentro ou fora do País, além das Unidades e Subunidades (destacadas) empenhadas, no mínimo por quatro meses, em serviço efetivo de defesa do litoral e do arquipélago de Fernando de Noronha.

9 Criada pelo Decreto-Lei nº 6.795, de 17 de agosto de 1944, conferida aos militares da ativa, da reserva e assemelhados que participaram de operações de guerra, sem nota desabonadora, integrando a Força Expedicionária Brasileira (FEB).

10 Criada pelo Decreto-Lei nº 7.709, de 5 de julho de 1945, alterada pelo Decreto-Lei nº 8.052, de 8 de outubro de 1945, com o propósito de agraciar os feridos ou mortos na guerra.

11 Criada pelo Decreto-Lei nº 6.795, de 17 de agosto de 1944, destinada os militares que se distinguiram em ação, sendo a de 1ª classe outorgada para todos os que praticaram atos de bravura ou revelaram espírito de sacrifício no desempenho de missões em combate de caráter individual, enquanto a de 2ª classe foi entregue aos participantes de feitos excepcionais praticados em conjunto por vários militares.

12 Estabelecimento de Ensino que forma os Sargentos combatentes do Exército Brasileiro.

13 Criada pelo Decreto nº 7.118, de 25 de fevereiro.

CATEGORIAS:
História

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Texto objetivo, parabéns.

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