O graduado do Exército Brasileiro no cenário internacional

Autor: Tenente Sidnei Lugão de Santana

Segunda, 24 Outubro 2022
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Uma das principais características da era do conhecimento é o  reconhecimento da importância do capital humano como o maior patrimônio de uma instituição. Dessa forma, a busca pelo aperfeiçoamento da gestão de pessoal constitui-se em uma das principais ações a serem desenvolvidas para a consecução desse objetivo.

Desde a década de 90, o Exército Brasileiro (EB) vem envidando esforços no sentido de fomentar a importância da habilitação em idiomas estrangeiros em seus quadros, como o reconhecimento do credenciamento em língua estrangeira, incluído no Sistema de Valorização do Mérito (SVM) utilizado nos vários processos seletivos que fazem parte da carreira dos militares da Instituição. Esse investimento contrasta com o que vem ocorrendo no panorama nacional, principalmente quanto ao domínio do idioma inglês pelos brasileiros.

Em uma pesquisa recente, tendo como parâmetro os países de língua não inglesa e o domínio do idioma inglês por parte de sua população, verificou-se que o Brasil ocupa a 60ª (1) posição no ranking, sendo definido como um país de “proficiência baixa”. Ao ser comparado aos demais países emergentes que compõem o BRIC (Rússia, Índia e China), essa discrepância se acentua ainda mais, fazendo com que o nosso país ocupe o último lugar entre eles.

O domínio de um idioma estrangeiro capacita o militar a participar de uma missão no exterior, permitindo-o representar o Brasil e o Exército Brasileiro (EB) e aumentar a projeção do país no cenário internacional. De acordo com a Diretriz para as Atividades do Exército Brasileiro na Área Internacional (DAEBAI), a Instituição, ciente da importância da participação brasileira no cenário mundial, realiza a seleção de seus militares tendo por base os objetivos que podem ser atingidos no país amigo quanto aos aspectos capacitação, cooperação, integração e novas oportunidades. Dessa forma, tem sido notório o papel relevante realizado pelos militares do EB designados a cumprir as mais diversas missões no exterior. A demonstração de competência profissional e a aquisição de novos conhecimentos por parte dos militares retroalimentam os recursos humanos da Instituição e estão em consonância com a visão de futuro do Exército: “ser um Exército capaz de se fazer presente (...) dotado de meios adequados e profissionais altamente preparados, (...)”.

Portanto, a habilidade linguística, aliada ao investimento da Instituição no direcionamento dos objetivos a serem alcançados, tem contribuído para o sucesso dos militares designados para as diversas atividades internacionais, sejam de natureza diplomática, militar ou administrativa. No entanto, como em todo processo, o aperfeiçoamento deve ser uma atividade contínua, pois são percebidas diferenças na cultura organizacional de vários exércitos, principalmente naqueles cujos países fazem parte do “Arco do Conhecimento”, como a América do Norte e a Europa.

Um exemplo são as atuações funcionais do Sergeant Major (SM, sigla em Inglês) nos exércitos daqueles países, principalmente nas operações, uma vez que o Non-Commissioned Officers (NCO, sigla em inglês) possui uma interação mais ampla do que o seu congênere brasileiro, conforme se observa em vários documentos operacionais americanos como o ATP 6-0.5 e o Training Circular (TC) 7-22.7: (The Noncommissioned Officer Guide) (4). A adequação da unificação da função de Sergeant Major foi estabelecida, também, para os exércitos dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), principalmente quanto às ações conjuntas. O Exército Inglês, por exemplo, mesmo não possuindo a graduação de Sergeant Major (como ocorre nos EUA) em seus quadros, adequou a função à graduação de Warrant Officer (WO, sigla em Inglês), aumentando sua interoperabilidade com os outros exércitos.

O cenário internacional atual aponta para uma possível reestruturação das atividades militares no exterior, principalmente no período denominado pós-covid. Em uma publicação do EBlog (o Blog do Exército Brasileiro), de 9 de abril de 2019, cujo tema era “Brasil e OTAN: uma análise da possível parceria (2)”, o autor assinala que uma possível oportunidade brasileira com uma aliança permitiria o acesso direto ao sistema de ensino da organização, além do fortalecimento das capacidades militares do EB. A OTAN continuamente fomenta programas de investimentos de capacitação dos graduados, por fazerem parte da parcela do efetivo profissional da maioria dos exércitos modernos, serem os principais responsáveis pela execução das ações descentralizadas da guerra moderna e atuarem como “técnicos” responsáveis pela utilização precisa dos mais modernos equipamentos de cunho tecnológico,

Um desses exemplos é o sistema de desenvolvimento profissional de graduados ocorrido antes da intervenção militar russa, conceituado “um importante elemento de transformação das Forças Armadas ucranianas”, sobre o qual o Ministro de Defesa e Chefe de Estado ucraniano, à época, afirmou: “O treinamento e a profissionalização de soldados e suboficiais ucranianos são extremamente importantes para o sucesso da reforma geral da defesa nas forças armadas, bem como para alcançar a interoperabilidade com a OTAN, tendo em vista que a profissionalização de sargentos também é vital para operações eficazes antiterroristas (3).”

A preparação do graduado do EB, portanto, deve buscar a similaridade da estatura técnico-profissional dos principais atores militares internacionais, principalmente após exercícios e atividades como a Operação Culminating, resultado de um acordo bilateral entre o Exército Brasileiro e o dos Estados Unidos, cujas tratativas foram iniciadas em 2015 e a execução realizada em 2021. A operação teve por objetivo, dentre outros, o envio de uma subunidade da Brigada de Infantaria Para-quedista (Bda Inf Pqdt) para participar de um exercício em um batalhão da 82ª Airborne Division, tropa de elite do Exército Americano. No exercício, os graduados brasileiros travaram uma proximidade operacional com os non-commissioned officers (NCO, sigla em inglês), o que proporcionou subsídios suficientes para uma possível adequação das atividades e ações desenvolvidas naquele evento, contribuindo para a evolução do preparo da Força Terrestre brasileira em futuras operações multinacionais.

A unidade de comando, aliada à preparação desses profissionais com as demandas atuais, tem sido impulsionada pelo Exército Brasileiro, como o Programa Força de nossa Força, inserido no subportifólio Dimensão Humana, que tem a finalidade de ATRAIR, RETER e MOTIVAR os graduados, em particular, durante o período de sua carreira.

Todavia, há a necessidade de haver mais ações quanto à capacitação e interação de nossos graduados com outros exércitos, cujas premissas são essenciais para o enfrentamento dos atuais desafios decorrentes das operações no amplo espectro. Espera-se que nossos graduados estejam preparados para as demandas presentes e futuras e que possam viver um período profissional fomentado pelo estudo e pela preparação contínuos, no âmbito de sua responsabilidade, para que estejam capacitados a atuar na garantia da defesa nacional, nossa missão precípua, assim como no cenário internacional, visando à superação dos desafios apresentados no século XXI.

 

Bibliografia:

(1)https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/5003937-brasil-figura-no-grupo-de-paises-com-baixo-dominio-da-lingua-inglesa.html

(2) https://eblog.eb.mil.br/index.php/menu-easyblog/brasil-e-otan-uma-parceira-possivel-1.html

(3) HTTPS://www.nato.int/cps/en/natohq/news_129998.htm?selectedLocale=en

TC 7-22.7 – The Noncommissioned Officer Guide – 2015

The Sergeant Major of the Army - 2013

Comentarios

Comentarios
Texto bastante elucidativo em relação à necessidade de capacitação continuada dos ST/Sgt para se atingir o objetivo da iniciativa disciplinada das pequenas frações.
Parabéns pelo excelente texto. Acompanhei o desenvolvimento do mesmo e não tinha dúvida do profissional de alto gabarito que o estava desenvolvendo. Bravo zulu!
Uma excelente análise bem contextualizada na necessidade contínua da capacitação, preparação e integração dos nossos graduados no cenário internacional. Parabéns pelo trabalho.
Parabéns, excelente texto.
Parabéns Meu Amigo, você é o orgulho da minha carreira militar. Afirmo que desde a sua incorporação, o CRIADOR me mostrava que sua vida na caserna seria brilhante. Obrigado ao PAI ETERNO por ter te capacitado e a você que se esforçou muito e hoje se tornou a visão que tive de ti, quando ainda era só um recruta.
Muita boa explanação prof, vejo que o Exército hoje dispõe de graduados muito bem qualificados o aproveitamento desta capacidade é fundamental ao crescimento da força. Parabéns.
Excelente, como bem dito no texto, a guerra na Ucrânia está demonstrando a necessidade de termos graduados preparados. Nesse sentido, a interação (experiências) com outros exércitos é fundamental. Para tanto, o domínio de outro idioma traz consigo acesso a novos conhecimentos e faz fundamental no preparo para a guerra do século XXI.
Parabéns nobre amigo Lugão. Espero que o texto sirva de inspiração e motivação para aqueles que ainda tem qualquer dúvida da real necessidade de buscar habilitação em idiomas.
Grande Lugão, meu contemporâneo na Equipe de Instrução do Melhor Centro de Instrução de Guerra na Selva do Mundo. Parabéns pelo trabalho meu amigo. Fraterno abraço do Cap MPA. Selva!!
Parabéns pela excelente matéria. Que o Senhor dos Exércitos continue abençoando a sua caminhada. Fraterno abraço.
Parabéns meu camarada, vc sempre foi um militar diferenciado e suas palavras com certeza ajudarão e muito nossos sargentos principalmente os mais novos, vc passou a eles aquele entusiamo que sempre teve e acendeu aquela luz no fim do túnel, obrigado pela ajuda, pelas experiências passadas e pela sua dedicação.
Parabéns meu amigo, pela análise e elucidação dessa questão tão importante para nós, a capacitação deve ser continua, gradativa e sem interrupções, como muito bem colocado por você nesse texto, que o Sr dos Exércitos continue te inspirando para que mais textos semelhantes a esse você possa escrever. Forte abraço meu irmão.
Parabéns meu Amigo Lugão pelo excelente texto!
Caro camarada de CIGS, é uma honra compartilhar nossas experiencias. Selva!
Caro camarada, Cap SUD, realmente a capacitação deve ser contínua e sem solução de continuidade para que os nossos graduados consigam atingindo os bons resultados nas nações amigas. Muito grato pela participação
Obrigado pelas palavras, amigo.
Que assim, seja, muito obrigado!
Isso mesmo, caro camarada NIC... que nossos graduados procurem o aperfeiçoamento profissional cada vez mais.
Caro Cap e camarada é uma honra ver sua participação e apoio.
Caro ST VANDERSON, as palavras do primeiro Ministro ucraniano abarcam realmente esta importância. Muito grato pela interação.
caro camarada de turma LEMOS, dispõe sim e isso é um vetor de transformação de nosso Exército. Obrigado!
Grato, meu amigo. Este artigo é também fruto de nossas conversas sobre o tema. Muito obrigado!
Caro Cap PASSOS, suas capacitades e visão profissionais concorreram para este objetivo. Muito grato!
Caro irmão GAMA, que este objetivo seja sempre fomentado em nosso EB. Grato!
Sem dúvida, caríssimo ST L BATISTA... este trabalho teve início com nossas conversas na Sala da SPI. Muito grato!
Caro companheiro esse é o objetivo que temos que continuar a atingir. Muito obrigado pela participação.
Parabéns pelo excelente artigo! Sinto-me orgulhoso de ler um artigo tão importante para o EB de hoje e do futuro. Conteúdo brilhante!
Prezado, Ten Lugão! Tenha certeza que o artigo será compartilhado e muito bem aproveitado. Parabéns pelo trabalho realizado!
Texto incentivador para os militares do EB! Parabéns meu amigo!
Parabéns, excelente texto. Acredito que todo militar enquanto está servindo ao seu país, tem que ter “visão de águia” , buscando aperfeiçoamento profissional. A base do conhecimento, faz a diferença em sua carreira, independente do lugar que cumpra sua missão. Não esperar incentivos dos outros faz parte, não olhar a condição simplesmente acreditar que na hora certa as oportunidades, aparecem.
Cara Diana Maia, a preparação contínua é a chave para que as oportunidades sejam aproveitadas. O mundo está aberto para estes profissionais! obrigado!
O futuro está aberto, caro amigo, o que cabe aos nossos graduados é a preparação contínua... grato!
Que o nosso Graduado tenha, cada vez mais, a visão ampliada quanto a sua importância, com todos os componentes da carreira, desta importância, caro ST DONATO.
Muito obrigado caro Luis pelos comentários.
Parabéns pelo excelente texto!
Saudações Ten LUGÃO, parabéns pelo excelente texto. Observa-se que as missões no exterior são excelentes oportunidades de ganho de experiência e motivação para os S Ten e Sgt. Interessante, também, o exemplo da preparação dos graduados ucranianos, que a luz do conflito enfrentado por eles, têm colocado a prova toda essa experiência nos campos de batalha da Ucrânia, apresentando bons indícios de sucesso. "Dois meia"
Grato, meu amigo! "Dois meia".
Obrigado, caro Fabrício!

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