O ensino da inteligência militar da EsIMEx

Autor: TC Carlos Henrique Leite de Souza

Segunda, 07 Agosto 2023
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O Programa Estratégico LUCERNA, na vertente do Projeto ATENA, estabelece o ensino da Inteligência nas operações militares como prioridade na especialização dos recursos humanos para a atividade de Inteligência, a fim de que o planejamento e o emprego da referida Função de Combate sejam disseminados. Nessa direção, a Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx) criou o Exercício Operação Serra Negra em todos os seus cursos.

A Operação Serra Negra contempla o planejamento e a condução das operações militares, de acordo com o nível do curso, com foco na função de combate e  inteligência. A situação geral aborda o estudo dos aspectos da inteligência nos níveis estratégico e operacional, culminando com o exame de situação no nível tático. Para tanto, a EsIMEx recebe o apoio do Comando de Operações Terrestres (COTER), por intermédio da Divisão de Simulação.

O exercício tem duração de até duas semanas e é dividido em três fases. A primeira consiste no nivelamento doutrinário a respeito do Processo de Integração Terreno, Condições Meteorológicas, Inimigo e Considerações Civis (PITCIC); do conceito Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (IRVA); e do Batalhão de Inteligência Militar (BIM). A segunda fase contempla o planejamento da operação, com ênfase nas atividades da célula de Inteligência durante o Exame de Situação. Já a terceira fase simula a condução da Operação, com foco no emprego do BIM e da Central de Inteligência.

As instruções teóricas são ministradas com a finalidade de preparar os alunos para o exercício propriamente dito, focado na Inteligência, na Contrainteligência e no emprego das diversas fontes nas operações militares. Nesse sentido, os discentes recebem conhecimentos sobre assuntos como Necessidades de Inteligência (NI); Plano de Obtenção de Conhecimento (POC); Exame de Situação de Inteligência e de Contrainteligência; capacidades do BIM; e IRVA. Além disso, são realizados Pedidos de Cooperação de Instrução com o Comando de Operações Especiais (COPESP), com a Força Aérea Brasileira (FAB), com o Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) e com o Batalhão de Guerra Eletrônica (BGE), em que cada palestrante aborda o emprego da respectiva tropa como sensor, em prol das respostas ao POC.

Após o nivelamento, os discentes são divididos em grupos, constituindo distintas Células de Inteligência. É feito então o planejamento da Operação, com base no tema apresentado. O tema aborda a evolução do conflito entre dois países fictícios. Assim, os alunos trabalham no planejamento como oficiais ou auxiliares de Inteligência, desde o escalão brigada até corpo de exército, de acordo com o nível do curso. Os trabalhos são iniciados a partir de um banco de dados recebido do nível operacional, cujo acesso é dado no período que antecede às ações beligerantes propriamente ditas. Cabe ressaltar, ainda, que além das Forças Armadas estatais, o ambiente operacional engloba a presença de Forças Irregulares e de refugiados, dentre outros atores, em ambiente rural e urbano.

Dessa forma, há a execução das quatro fases do PITCIC, culminando com o levantamento das Linhas de Ação (L Aç) do Inimigo (Ini), abrangendo todas as capacidades nos diversos domínios do combate contemporâneo.

Ainda durante o Planejamento, os alunos aplicam outros conhecimentos adquiridos ao longo do curso, sobretudo a Técnica de Avaliação de Dados (TAD), a Técnica de Análise Estruturada (TAE) e os Pedidos de Inteligência (PI). Essa interdisciplinaridade é possível em virtude da diversidade de dados e informações que são difundidas para as células de Inteligência, por intermédio da Direção do Exercício, fazendo com que haja uma constante busca pela consciência situacional.

Na terceira fase do Exercício, o combate se inicia. Para o Curso Avançado de Inteligência para Oficiais (CAIO), o COTER apoia a EsIMEx com a simulação, por intermédio do programa COMBATER. Esse software proporciona a visualização do emprego dos meios do BIM, bem como a evolução do deslocamento do Ini, em que as tropas de um dos países envolvidos invadem o outro país, realizando uma marcha para o combate, a partir de seu território. Nessa etapa, os integrantes do referido curso são divididos em três grupos, que interagem entre si: Célula de Inteligência; Central de Inteligência; e Estado-Maior do BIM.

À medida que o Exercício se desenvolve, o COMBATER permite a visualização das L Aç que foram levantadas na 4ª Fase do PITCIC. Dessa forma, a Célula de Inteligência ratifica ou retifica o planejamento, orienta os trabalhos da Central de Inteligência que, por sua vez, analisa e produz os conhecimentos de Inteligência, priorizando os aspectos discriminados no POC. Destaca-se que, nessas oportunidades, fica evidenciada a utilização de tecnologias mediadas por meios digitais, contribuindo para o alcance dos elementos de competência.

Simultaneamente, os diversos sensores presentes na Área de Operações, tais como as tropas orgânicas e o BIM repassam dados, por intermédio do Sistema e da Direção do Exercício, para que a Central de Inteligência realize a integração e a análise. O Estado-Maior do BIM planeja o desdobramento dos meios dessa Organização Militar de Inteligência Militar (OMIM) de forma a potencializar a busca pelas informações, proporcionando as respostas às necessidades de inteligência.

A Operação Serra Negra evidencia a importância do sincronismo entre o Ciclo de Inteligência e o Ciclo Adaptativo das Operações. Ademais, permite ao aluno trabalhar multissensores; planejar o emprego dos meios IRVA e as L Aç do inimigo e, posteriormente, atualizar o Calco de Situação do Inimigo. Assim, o desencadeamento das ações proporciona ao militar a realização do Exame de Situação de Inteligência, a execução do PITCIC e a condução da operação, sob a perspectiva do oficial e do auxiliar de Inteligência.

Por fim, em todas as fases da Operação, os alunos realizam briefings e interagem entre si, fomentando a discussão doutrinária. Os debates contribuem para o aperfeiçoamento dos produtos do PITCIC e proporcionam a identificação de oportunidades de melhoria na doutrina de inteligência, durante o planejamento e a condução do combate. Nesse sentido, a Operação Serra Negra permite ainda o adestramento dos quadros, sobretudo dos Estados-Maiores, contribuindo para o desenvolvimento da Capacidade Operativa Inteligência e para o alcance dos objetivos estabelecidos no Programa LUCERNA.

 

Quadro resumo da Operação Serra Negra

Comentarios

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Fico aliviado por encontrar patriotismo nas fardas do nosso GLORIOSO BRASIL
Excelente ver o EB focando na estruturação e ensino da inteligência. Só para ficar em um exemplo, a batalha de Galipoli foi perdida pelo UK por causa de uma grave falha de inteligência da Royal Navy.

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