O EMPREGO DUAL DA FORÇA TERRESTRE: PROTEGENDO CIVIS EM TEMPOS DE PAZ

Autores: Maj Shoji
Quarta, 02 Abril 2025
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O emprego dual dos meios da Força Terrestre (F Ter) aponta sua capacidade de responder às demandas da defesa nacional e atuar em apoio à sociedade, revelando sua versatilidade em tempos de paz e em operações no multidomínio. Essa atuação permite que a F Ter desempenhe um papel estratégico tanto na garantia da soberania quanto no enfrentamento de crises sociais e estruturais, como desastres naturais e projetos de desenvolvimento nacional.

A Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP), mais conhecida como GUARANI, foi projetada para proporcionar mobilidade, proteção e poder de fogo para a tropa mecanizada, no entanto, em tempo de paz foram cruciais durante as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, permitindo o transporte de suprimentos e o resgate de civis em áreas isoladas.

Essa ferramenta de alta tecnologia embarcada, blindada e com tração 6X6, favoreceu o emprego das tropas que atuaram em patrulhamento ostensivo durante eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, reforçando a segurança em cenários de grande aglomeração. Em 2018, durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, as VBTP foram empregadas para garantir o deslocamento seguro das tropas em áreas dominadas por organizações criminosas, oferecendo suporte logístico e proteção.

A unidade especializada em DQBRN tem um papel vital em crises envolvendo agentes de alta periculosidade. Durante o acidente com o Césio-137, em 1987, sua atuação, na época como Escola de Instrução Especializada, foi essencial para mitigar a contaminação e proteger a população. Recentemente, sua versatilidade foi apresentada na pandemia da COVID-19, realizando higienização de áreas públicas e transporte de insumos médicos, adaptando suas habilidades para enfrentar crises sanitárias.

A Aviação do Exército deve entregar flexibilidade por meio da aeromobilidade no campo de batalha, mas em tempo de paz destaca-se por sua capacidade de resposta rápida em emergências. Helicópteros como o HM-1 Pantera desempenharam papel essencial nas enchentes de 2008 no Vale do Itajaí, deslizamento de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro e, em 2024, no Rio Grande do Sul, possibilitando resgates e transporte de suprimentos. Além disso, o uso de Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP) ampliou a capacidade de monitoramento e reconhecimento em áreas de difícil acesso, transformando uma ferramenta de inteligência militar em vetor de busca para salvamento.

A Engenharia Militar é vocacionada para mobilidade, contramobilidade e proteção, sendo responsável pelo estabelecimento de diversas infraestruturas nas operações no multidomínio, no entanto, em tempo de paz já colaborou com diversas estruturas que fomentaram o desenvolvimento nacional, como a BR-230 (Rodovia Transamazônica), Rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) e a BR-163 (Cuiabá - Santarém). Em situações de desastres naturais com rompimento de pontes ou destruição de rodovias, as unidades de engenharia desdobraram pontes provisórias, passadeiras e desobstruem vias com seus maquinários pesados.

O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) é outra ferramenta de emprego dual, pois tem seu potencial vocacionado para vigilância estratégica ao mesmo tempo que fornece subsídios para combater crimes transnacionais e fortalecer a segurança em regiões fronteiriças. O SISFRON integrado com os recursos humanos militares desdobrados na faixa de fronteira, fortalecem a soberania e a inviolabilidade do território nacional.

A Defesa Cibernética, inserida no contexto das operações no multidomínio, representa uma capacidade estratégica da F Ter para assegurar a proteção de sistemas críticos e a integridade das informações nacionais. Além de salvaguardar a infraestrutura digital militar, sua atuação transcende o campo da defesa, sendo fundamental para proteger redes civis de grande importância, como sistemas de energia, transportes e comunicações, em tempos de paz e em situações de crise.

A F Ter, ainda que com sua capacidade de Assuntos Civis incipiente para atuar na dimensão humana dos conflitos e operações no multidomínio, vem contribuindo para o bem-estar social em tempos de paz. As ações de estabilização da F Ter quando no comando do componente militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), a liderança na Operação Acolhida, apoiando refugiados venezuelanos, oferecendo acolhimento humanitário e integração social, a condução e fiscalização da Operação Pipa, voltada para o fornecimento de água potável ao semiárido brasileiro e a Operação Taquari II, que prestou auxílio a populações afetadas pelas enchentes em 2024, são mais alguns exemplos da contribuição do Exército para a proteção de civis.

A capacidade de emprego dual dos materiais e recursos humanos da F Ter evidencia sua relevância estratégica tanto para a defesa nacional quanto para o apoio à sociedade em tempos de paz e em situações de crise. A versatilidade da Defesa Cibernética, do SISFRON, das tropas mecanizadas, das capacidades de DQBRN, da engenharia militar, da Aviação do Exército e da capacidade, em amadurecimento, de Assuntos Civis, ilustram como o investimento nessas ferramentas multipropósito promovem não apenas a segurança do território nacional, mas também o desenvolvimento socioeconômico e a resposta eficiente a emergências.

Diante dos desafios contemporâneos e futuros, marcados por ameaças híbridas, desastres naturais e crises humanitárias, investir em estruturas, materiais, desenvolvimento doutrinário e recursos humanos que possam ser empregados tanto em operações militares quanto em benefício da sociedade torna-se uma decisão estratégica indispensável para fortalecer a soberania, a resiliência, a sustentabilidade do nacional e a capacidade de proteger civis a qualquer momento.

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