A Força Terrestre possui a missão de adestrar e preparar a tropa para o pronto emprego na defesa da Pátria, dos direitos constitucionais e da lei e da ordem. Para cumprir essa missão, diversos cursos operacionais são realizados em variadas regiões do território brasileiro, contendo peculiaridades, missões e propósitos específicos. No entanto, todos têm como principal objetivo preparar a tropa e o militar para um possível combate, utilizando meios e técnicas necessários para simular as condições mais próximas de uma missão real.
No contexto do preparo, é comum ocorrer um desgaste físico, mental e emocional pelo militar – condição que faz parte da natureza dos cursos operacionais. Os fatores de estresse simulados nesse ambiente são inerentes à própria atividade militar operacional, tais como: calor, frio, fome, sede, fadiga e pressão psicológica. Além disso, é exigida a capacidade de se manter em combate, mesmo enfrentando a escassez de suprimentos e condições climáticas adversas, e de adaptação constante ao ambiente hostil e adverso aos quais são confrontados.
O Curso de Operações na Selva (COS) é um curso operacional considerado referência na difusão da doutrina de operações na selva, especialmente pela vivência in loco das diversas atividades propostas aos militares. Tem por objetivo avaliar a coletividade e trabalhar a liderança nos grupamentos ou nas frações, desenvolvendo competências, habilidades, atitudes, valores e experiências inerentes ao guerreiro de selva. O curso tem duração de 12 semanas, sendo dividido em 3 fases distintas: a primeira é a de vida na selva, em que são ensinadas técnicas básicas de sobrevivência em ambiente de selva; a segunda é a fase de técnicas especiais, na qual são abordados procedimentos de orientação na selva; e a terceira é conhecida como a fase de operações, que permite aos alunos vivência e absorção dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso.
Cabe ressaltar que o curso exige alto grau de profissionalismo e abnegação, além de preparo e capacidade intelectual, física e psicológica. Uma das principais reações geradas no decorrer do curso é o estresse. Alcântara (2021) destaca como fatores recorrentes de estresse psicológico no COS as situações de risco à integridade física, a complexidade das missões a serem cumpridas, as avaliações, a possibilidade de desligamento e o próprio ambiente de selva, atrelados aos fatores de estresse físico, decorrentes da rotina diária das atividades.
Devido ao nível de complexidade do Curso de Guerra na Selva, diversos profissionais de organizações militares realizam monitoramentos periódicos nos alunos. O Centro de Psicologia Aplicada do Exército (CPAEx) integrou uma equipe multidisciplinar para realizar acompanhamento dos alunos e das atividades do Curso de Operações na Selva, no Centro de Instrução Guerra na Selva (CIGS), sediado em Manaus (AM) em 2022. Cabe pontuar que o CPAEx é uma organização militar que fundamenta seu trabalho em atividades relacionadas à psicologia militar e à psicologia organizacional, no âmbito do Exército Brasileiro, que assessora os órgãos do Exército acerca da psicologia militar e organizacional e que conduz pesquisas na área da psicologia em proveito do Exército.
O trabalho desenvolvido pelo CPAEx se deu por meio da observação e da aplicação de medidas psicológicas durante as atividades do curso e do levantamento dos fatores de estresse e das possíveis estratégias de enfrentamento dos alunos.
Durante o período de acompanhamento, foram aplicados questionários (no início e no final do curso) e diversas escalas psicológicas em que os alunos revelaram possíveis formas de manejo em situações estressantes e maneiras de se adaptar diante das adversidades. Foram também medidos os níveis de depressão, ansiedade, estresse, afetos positivos e negativos, bem-estar psicológico e impulsividade.
Por meio dos instrumentos utilizados, foi possível avaliar e comparar o estado psicológico em diferentes etapas do curso, assim como observar traços de personalidade e as reações perante situações inesperadas e de rápida decisão.
Cabe pontuar que a Seção Psicopedagógica do CIGS acompanha os alunos com a finalidade de minimizar possíveis traços individuais que não sejam compatíveis com o perfil profissiográfico do guerreiro de selva, impulsionando o aluno a desenvolver as capacidades inerentes ao perfil e levando-o a se desafiar e a corrigir traços que poderão prejudicá-lo durante o curso.
Dentre as maiores dificuldades enfrentadas destacaram-se: a distância da família, as restrições de sono, água e comida e o desgaste físico e psicológico. No entanto, observou-se que os alunos se mantiveram empenhados e buscaram na resiliência e no espírito de corpo desenvolvidos durante o curso uma forma de superar suas limitações, estando sempre acompanhados por uma equipe profissional e capacitada a formar novos guerreiros de selva, composta por militares combatentes, e por uma equipe psicopedagógica perceptivelmente presente e atuante.
Dessa forma, o Centro de Psicologia Aplicada do Exército contribuiu com a psicologia aplicada ao contexto militar no ambiente de selva, desenvolvendo um trabalho com foco na psique humana e trabalhando para a melhoria do EB e do Brasil. Assim sendo, concluiu-se que a atividade de acompanhamento psicológico do Curso de Operações na Selva permitiu realizar um laboratório de psicologia por meio da observação da transformação da personalidade de indivíduos que se propõem a uma difícil especialização profissional e que se caracteriza pelo desenvolvimento de traços socioemocionais, valores e características psíquicas.
____________________________________________________
Referências:
ALCÂNTARA, Nelma Kelly Medeiros de. Análise do nível e estresse em discentes do curso de operações na selva do CIGS. Portal do Preparo. 2021.
JÚNIOR, Tigernaque Pergentino de Santana. Desenvolvimento dos conteúdos atitudinais no curso de operações na selva do CIGS. https://www.enabed2021.abedef.org
PORTARIA nº 338, de 19 de dezembro de 2019. Normas para desenvolvimento e avaliação dos conteúdos atitudinais. 2º ed. Rio de Janeiro, 2019.
PORTARIA nº 657, de 13 DE MAIO DE 2019. Aprova o Regulamento do Centro de Psicologia
Aplicada do Exército (EB10-R-05.038), 1a Edição, 2019.
Comentarios