O Brasil e seus desafios

Autor: Ten Cel Anselmo de Oliveira Rodrigues

Quinta, 26 Dezembro 2019
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Diante do atual quadro do país, muitos brasileiros devem ter se perguntado esta questão: o Brasil conseguirá superar os seus desafios? Com a complexidade do mundo contemporâneo, a velocidade das informações, o poder exercido pelas redes sociais e a propagação das Fake News, responder esse questionamento não é simples. Para isso, este artigo revisita o papel exercido pela geopolítica ao longo da história brasileira, analisando-a desde sua origem até os dias atuais.

A geopolítica brasileira nasceu em meados do século XIX, na Escola Militar da Praia Vermelha. O positivismo propagado por Benjamin Constant rapidamente encontrou adesão na intelectualidade brasileira, colocando a Escola como protagonista no pensamento nacional. Não pelo acaso, sob a liderança do Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, os brasileiros presenciaram, em 1889, o nascimento da República brasileira.

Entretanto, o novo status político não foi capaz de imunizar a jovem República. Episódios como a Guerra de Canudos e a Revolução Federalista descortinaram um cenário interno deveras instável, ameaçando a integridade territorial brasileira. Imersa nesse ambiente, a geopolítica brasileira não ficou imune ao que estava ocorrendo. Contribuiu com a resolução dessas crises, elaborando conceitos para que o Brasil obtivesse a efetiva integração nacional, que até então era considerada incipiente.

Dispostos a alcançar a concreta soberania em seu território, sucessivos governos apoiaram-se nessas ideias e implementaram diversas ações estratégicas durante a primeira metade do século XX para integrar o espaço brasileiro. Não pelo acaso, dois brasileiros lideraram o processo de integração nacional. No plano externo, o Barão do Rio Branco envidou esforços diplomáticos para demarcar e legitimar as fronteiras do País junto ao Sistema Internacional. No plano interno, o Marechal Rondon literalmente costurou o perímetro brasileiro, desbravando os recantos mais isolados do território nacional, integrando-os aos principais centros do País.

A eclosão da 2ª Guerra Mundial e a presença brasileira nesse conflito foram determinantes para os desígnios do Brasil na segunda metade do século XX. Conhecido como Guerra Fria, o conflito ideológico travado por norte-americanos e soviéticos gerou reflexos no Brasil, colocando em xeque a jovem democracia brasileira. Não por mera consequência, o País assistiu ao protagonismo de ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira no cenário nacional.

No pensamento geopolítico, o destaque ficou por conta do General Meira Mattos, que publicou valiosas obras geopolíticas e é considerado, por muitos, o maior geopolítico brasileiro de todos os tempos. Na esfera pública, a proeminência pairou sobre o Marechal Castello Branco, presidente do Brasil entre 1964 e 1967, que em meio à efervescência da Guerra Fria, tornou-se um dos responsáveis pela manutenção do regime democrático no País.

A queda do muro de Berlim e a consequente globalização marcaram o tom no final do século XX. Com território consolidado e conflito ideológico aparentemente resolvido, restou ao Brasil assumir o papel que lhe era por vocação: ser uma potência mundial.

Com isso, a geopolítica brasileira produziu conceitos que buscavam atingir dois objetivos: consolidar a posição do Brasil como líder regional e alçar seu status como potência global. No tocante à liderança regional, essa ficou materializada pela inserção da África, do Atlântico Sul e da América do Sul nos principais documentos de defesa: Política Nacional de Defesa (PND), Estratégia Nacional de Defesa (END) e Livro Branco de Defesa nacional (LBDN). No que se refere à potência global, esse objetivo foi traduzido nos esforços realizados pelo governo brasileiro para ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, justificados em grande parte pela crescente e destacada participação brasileira nas operações de paz da ONU.

O alvorecer do século XXI mostrou-se promissor para o Brasil. A descoberta de grandes reservas de petróleo na camada de pré-sal brasileira, a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de futebol em 2014 e da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas em 2016, foram alguns fatos que impulsionaram o boom econômico brasileiro, fazendo transparecer que o Brasil caminhava a passos largos para se tornar um player global.

No entanto, um fato ocorrido em 2010 iria mudar os ditames do Brasil: a Primavera Árabe. Mais que um fenômeno geopolítico regional, o movimento apresentou ao mundo o poder das mídias sociais. Com o mundo altamente interconectado, os reflexos desse fenômeno puderam ser percebidos em terras brasileiras, local onde encontrou um ambiente propício para a sua propagação. O que se viu, desde então, foi uma onda de acontecimentos de natureza político-social que, impulsionada pelas redes sociais, erodiu a aparente estabilidade político-econômica brasileira: movimento dos Black Blocs em 2013, impeachment em 2016, prisão de ex-presidente em 2018 e eleições em 2018, com a renovação dos quadros políticos.

Mas, o Brasil conseguirá superar seus obstáculos?

Com inúmeros desafios pela frente, como a realização da Reforma da Previdência e da Reforma Trabalhista, entende-se que tão ou até mais importante do que essas reformas, é a reintegração da sociedade brasileira. Sem um projeto de Nação definido, somente pelo acaso o Brasil logrará êxito: pensar estrategicamente esse gigante é condição sine qua non para que a resposta seja positiva.

Se a nossa geração se orgulha em proclamar em alto e bom som que habita em um país continente e com várias idiossincrasias, muito se deve à centenária relação de sucesso entre geopolítica e políticas públicas adotadas que, em conjunto, superaram desafios de toda ordem ao longo da história brasileira. Mas, se existe algo que a nossa geração pode fazer em prol das gerações futuras é pensar estrategicamente o Brasil, gerando contribuições verde-amarelas voltadas para restabelecer a coesão social brasileira, fortemente afetada pelos embates deflagrados nas mídias sociais, lebensraum dos dias atuais.

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Excelente texto, meu amigo. Mantém!
Parabéns pelo texto. Realmente falta uma estratégia para o Brasil. Cresci escutando meus professores e os meus pais dizerem que o Brasil é o país do futuro e agora percebo que o nosso país é um barco à deriva... A sociedade precisa se conscientizar disso.
Em um novo ciclo integrado e com amplos campos de atuação as forças armadas no resgate da identidade patriota e cidadã dao estabilidade membros e grupo e incentiva novas conquista neste propósito.
Excelente artigo meu amigo! Elucidativo, atual e contextualizado! Parabéns! Avante remar!
Boa matéria e excelente visão. Estive várias vezes nos USA participando de congressos https://www.nabshow.com e muitos americanos do setor de tecnologia tinham interesse em.vir atuar no.mercado de engenharia de TV digital, principalmente pelo momento econômico. Sou um civil de visão estratégica e gosto da ciência e tecnologia com a estratégia militar. Tenho.um excelente sentiment que há mentes brilhantes nas forças armadas e que como disse ..em palavras próprias "agora que já sómos grandes. ..temos que manter nossa posição mundial de respeito "..e para isto domínio de tecnologia nos mais diversos segmentos é importante e coesão em todos os segmentos. Só com.mentes esclarecidas se faz isto. A história já se foi independente do que foi bom ..ruim..ou necessário na visão de alguns. Página virada. .e ação sem ilusão verbal. Estudei no INTEL , faculdade muito próximo do ITA E INPE. Também tenho admiração pela AMAM e sei que estas entidades tem que mostrar inteligência e dedicação acima da média. Sucesso e meu apoio aos VERDADEIROS MILITARES E CIENTISTAS ENG. ELETRICISTA E TELECOM MARCUS CACIQUINHO :.
Saudações a todos os leitores. Um novo ano se aproxima. Do ano que termina... a grande notícia é que estamos no rumo certo. Notícias recentes dão conta do melhor desempenho do comércio e do turismo...A grande pergunta já tem a sua grande resposta: o Brasil conseguirá superar seus obstáculos? Sim! As futuras gerações engajadas em pensar estrategicamente o Brasil, gerarão contribuições verde-amarelas voltadas para restabelecer a coesão social brasileira. Meu caro Ten Cel, desejo que todos os demais irmãos de armas de seu tempo, estejam sempre unidos nesse seu grande pensamento patriótico, pois só assim seremos um Brasil acima de...tudo!
Muito bom texto, Anselmo. Parabéns.
Cordiais saudações. O futuro aponta a necessidade de investimentos em ciência e tecnologia em todas as áreas, civil ou militar, sob pena de sermos para trás a comer poeira. Saúde, educação, infraestrutura de transporte e comunicações, são setores vitais para qualquer sociedade, e exigem especial atenção do nosso país, inclusive no âmbito interno das FFAA. Com o desenvolvimento, é possível aumentar o nível de emprego, que certamente serão mais disputados e exigentes, até por que, o Brasil tende a receber muitos estrangeiros, fruto do aumento populacional e saturação de alguns países. Porém, algumas mazelas precisam ser combatidas, como a corrupção, a bajulação em detrimento da meritocracia, a injustiça e o jeitinho brasileiro. “Não há segredos para o sucesso. É o resultado do trabalho duro e conseguir aprender com o fracasso” General Americano Colin Powell. Respeitosamente, obrigado.

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