O 4º Batalhão de Engenharia de Combate e a Guarnição Sacrifício

Autor: TC Marcio Augusto Melo do Nascimento

Segunda, 01 Abril 2024
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Dentre tantos vultos e tropas militares exaltadas nas formaturas, uma se destaca por possuir em seu efetivo o sangue e o suor do povo do Sul de Minas Gerais. Esse heroico contingente que operou na Segunda Grande Guerra, na Ilha de Fernando de Noronha, recebeu o nome de Guarnição Sacrifício.

Em 1942, o mundo presenciava o avanço do destemido Exército Alemão que já tinha conquistado muitos países europeus como a Polônia, a Dinamarca, a Noruega, a França dentre outras, e flertava com outras nações o apoio para a expansão da doentia ideologia nazista. O Brasil era uma delas. Porém, o Sr Presidente Getúlio Vargas, um reconhecido estadista de seu tempo, em uma decisão estratégica e acertada - como o futuro confirmou -, resolveu direcionar o apoio da nação brasileira aos ideais da democracia e da liberdade defendidos pelos países Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos da América). E, conforme nos mostra Rahmeier (2015), como consequência disso e das intensificações dos ataques da Marinha Alemã aos navios brasileiros, houve o rompimento de relações diplomáticas entre ambos países.

Foi nesse contexto que, no mês agosto de 1942, de uma maneira audaciosa e covarde, o submarino alemão “pôs a pique” - torpedeou e afundou - cinco navios mercantes no nosso litoral nordestino, nas costas da (sic) Baía e Sergipe, conforme relatado na capa do jornal Correio da Tarde, do dia 18 de agosto de 1945. Esses ataques resultaram em um número significativo de mortos e feridos, não deixando outra escolha ao governo brasileiro se não a declaração de guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), a qual ocorreu em 31 de agosto de 1942.

Destarte, como forma de apoio ao esforço de guerra global, além do envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB), da mobilização dos Soldados da Borracha por meio do Acordo de Washington de 1942, houve também, pelo Brasil, o estabelecimento de uma força capaz de proteger a estratégica ilha de Fernando de Noronha, a qual passou a ser utilizada como uma importante base de apoio para as operações militares de ação contra submarinos e de patrulhamento do Atlântico Sul pelas Forças Aliadas. A essa tropa, deu-se a denominação de Guarnição Sacrifício.

Assim, foi destinado ao 1º Batalhão de Pontoneiros, como era denominado à época o 4º Batalhão de Engenharia de Combate, a missão de compor parte do efetivo dessa Guarnição, e assim, três contingentes, em um total de 182 (cento e oitenta e dois) militares, deixaram suas famílias e seus lares, na Serra da Mantiqueira, para se aventurarem nessa nobre missão de defender, com o sacrifício da própria vida, nosso solo sagrado e os ideais de liberdade e de democracia. que tanto nos são caros.

Desta feita, em 6 de abril de 1942, de acordo com o Boletim Interno nº 80, os primeiros militares do Batalhão atravessaram os portões principais do aquartelamento em direção à ilha de Fernando de Noronha em uma viagem longa para comporem o (sic) Destacamento Mixto de Fernando de Noronha. Lá chegando, integraram-se ao efetivo de aproximadamente 1500 homens, e tinham como missão, dentre outras coisas: i) de montar portadas que transportavam, entre os navios e trapiches1, materiais bélicos como, por exemplo, canhões que asseguravam a defesa do porto e das instalações militares, conforme nos relata o grande historiador e Coronel Veterano Cláudio Moreira Bento (2022); ii) de realizar atividades de manutenção da infraestrutura local; e iii) de realizar outras atividades logísticas e de manutenção. Contudo, felizmente, conforme cita Nascimento (2009, p. 51 e 51), não houve a necessidade de emprego real daquela tropa que permaneceu naquele território até após o mês de maio de 1945, quando se deu o fim do maior e mais sangrento conflito global da história de nossa humanidade.

Portanto, a Guarnição Sacrifício não só marcou a história do 4º Batalhão de Engenharia de Combate, mas marcou a própria história da Engenharia Brasileira, evidenciando o pioneirismo no combate, o espírito de abnegação e o sentimento de cumprimento do dever dos discípulos de Villagran Cabrita, deixando marcado na memória coletiva dos militares brasileiros e estrangeiros o inesquecível lema da Arma Azul-Turquesa: construir! Por vezes, destruir, mas sempre servir!

 

REFERÊNCIAS

BENTO, Cláudio M. Historiadores do Exército, militares falecidos. 2022. Disponível em https://www.ahimtb.org.br/HISTORIADORES%20DO%20EX%C3%89RCITO%20-%20COMPLETO%20-%20Revis%C3%A3o%20Fagundes%20%20%20%20%20finalizada%20em%2013-11-22%20(1)%20(1)%20(1)%20(1).pdf. Acessado em 8 NOV 23.

BI, Boletim Interno nº 80 do 1º Batalhão de Pontoneiros, de 6 de abril de 1942.

NASCIMENTO, Grazielle R. Fernando de Noronha e os ventos da Guerra Fria (a relação entre Brasil e Estados Unidos nos anos de JK). 2009. Disponível em <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7645/1/arquivo692_1.pdf>. Acessado em 8 NOV 23.

RAHMEIER, Andrea H. P. “1942 - Brasil corta relações diplomáticas e declara Guerra à Alemanha. Como isto aconteceu?. Revista Catarinense de História, núm. 26, 2015. Disponível em <https://www.redalyc.org/pdf/6720/672071483006.pdf>. Acessado em 08 NOV 23.

TARDE, Correio da. Audácia incrível dos submarinos do “eixo!”. Edição de 18 de agosto de 1942. Disponível em < https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=896276&pasta=ano%20194&pesq=guerra&pagfis=7010>. Acessado em 9 NOV 23.

1Estrutura construída sobre a água, destinada à atracação de barco. “Trapiches", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, Disponível em https://dicionario.priberam.org/trapiches. Acessado em 9 NOV 23.

 

CATEGORIAS:
Geral Defesa Operações

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Texto sensacional.
Desconhecia a história da referida guarnição na II GM. Excelente texto para manter viva a nossa história militar.

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