“Grandes empreendimentos provocam enormes mudanças”, assim Tânia Bacelar, consultora da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (FECOMÉRCIO), destacou em sua explanação na reunião setorial sobre a Escola de Sargentos do Exército, desenvolvida no I Encontro da Rede Nordeste de Estudos Estratégicos e Inovação (I ERENEEI).
Esse encontro foi organizado pelo Comando Militar do Nordeste, nos dias 29 e 30 de março do corrente ano, com o objetivo de marcar a ativação do seu Núcleo de Estudos Estratégicos, de forma a replicar as estruturas do Exército Brasileiro já existentes em Brasília, São Paulo, Porto Alegre e, mais recentemente, em Belém.
O encontro visou contribuir para a construção de parcerias de longo prazo entre instituições de Governo, da Academia e do Setor Produtivo da região nordeste do País, como ratificou o General Richard Nunes, Comandante Militar do Nordeste, na solenidade de abertura do evento: “criar conexões, provocando o conhecimento interpessoal e entre as instituições”.
Reunidos no Centro de Turismo e Lazer do Serviço Social do Comércio (SESC) de Guadalupe, em Pernambuco, cerca de 350 pessoas, entre autoridades, professores, doutorandos, mestrandos, graduandos, empresários e militares debruçaram-se em seis mesas temáticas que abrangeram a Escola de Sargentos, fronteiras tecnológicas, indústria e inovação, geopolítica e segurança internacional, Environmental, Social e Governance (ESG) e sustentabilidade, energia do futuro e segurança cibernética.
Por ser o mais importante projeto estratégico do Exército na atualidade e por vir a ser construída na Região Metropolitana do Recife, a Escola de Sargentos recebeu uma atenção especial da organização do evento, sendo desenvolvidos um painel e duas reuniões setoriais.
Foram apresentados, na manhã do dia 29 de março, os aspectos mais relevantes desse grandioso projeto, sob o ponto de vista dos eixos estruturantes das concepções e dos legados. Participaram o General R1 Joarez Alves, gerente do subprograma; o Diretor de Patrimônio Imobiliário e do Meio Ambiente (DPIMA) do Exército; e General Jorge O’ de Almeida, os quais apresentaram as concepções. Na sequência, flashes de informações acerca da atual formação dos sargentos e uma ambientação das peculiaridades socioeconômicas da região onde o estabelecimento será erguido foram explanados pelo Coronel Rodrigo Medeiros, da Escola de Sargentos das Armas (ESA), e pela Senhora Sheilla Pincovsky, ex-diretora da Agência de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco.
As premissas do subprograma foram assinaladas. A primeira remete à necessidade, para a formação prática do sargento, de um amplo terreno onde possam ser realizados os exercícios táticos simulados e as instruções de formação das 12 diferentes especialidades, local chamado no meio castrense de “campo de instrução”.
A segunda premissa a ser atendida é a da centralização na formação, hoje distribuída em 16 organizações e escolas militares distintas, com a consequente criação, a partir da implantação da Escola, de um sentimento de pertencimento a um grupo coeso.
Uma terceira premissa é a necessidade dessa futura escola contar com estabelecimentos civis de referência que auxiliem o Exército na complementação da formação acadêmica de tecnólogo, introduzida nos currículos dos alunos desde o ano de 2019. Chama a atenção, como ponto forte, o horizonte temporal de 12 anos de desenvolvimento do subprograma, permitindo a maturação, o adequado planejamento e o desenvolvimento de ferramentas diferenciadas em todas as áreas envolvidas.
Várias ideias importantes foram lançadas, ainda no painel, pelo órgão central de meio ambiente do Exército Brasileiro, a Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente, não só por explorar os aspectos construtivos da escola, com insights do masterplan, mas em especial por detalhar aspectos fundamentais das ações efetivas relacionadas ao meio ambiente e à sustentabilidade, presentes no subprograma. Desta feita, as conclusões a que chegaram os geólogos, geógrafos, biólogos, engenheiros florestais, reunidos pela diretoria e que estudaram, em profundidade, o Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), local de construção da escola, não deixam dúvidas de que as áreas selecionadas se compõem de vegetação secundária em estado médio de regeneração.
Os treze mantras de sustentabilidade nos projetos e construções foram apresentados, desde o foco no uso racional dos espaços, planejamento de edificações, com conforto térmico, iluminação natural e minimização no consumo de água e energia elétrica, até as certificações nos materiais, projetos e obras. O emprego de fontes renováveis de energia, com plantas fotovoltaicas de até 5 MW e a tecnologia de reúso da água foram ressaltados, dentre outros. Uma compensação ambiental inteligente que agregará muito mais que o simples cumprimento formal das exigências legais está sendo concebida de forma colaborativa, com a discussão de implementação de corredores ecológicos ligando fragmentos de mata atlântica, recuperação de margens degradadas dos cursos d’água da região e outras iniciativas que entreguem à sociedade pernambucana um legado ambiental diferenciado.
Ainda no painel, destacou-se a formação atual do sargento, em especial o que se espera do profissional militar do século XXI: sua participação em operações multinacionais e interagências, plena comunicação nos idiomas inglês e espanhol, desenvolvimento do pensamento crítico, conhecimento profundo da história e ética militares e capacidade de gerenciamento de crises. Além dos aspectos correntes da formação, foram ressaltadas as competências militares agregadas diuturnamente aos alunos:conhecimento, habilidades, atitudes, valores e experiências.
No prosseguimento das atividades, foi traçado um detalhado perfil socioeconômico, tanto do município de Abreu e Lima, no qual o Campo de Instrução se insere, quanto das demais cidades da área de influência da escola, citando-as: Paudalho, Carpina, Araçoiaba, São Lourenço da Mata e Camaragibe.
Após o painel centralizado, realizaram-se as discussões sobre os legados educacional e socioeconômico da Escola, em ambientes distintos, com participações da FECOMÉRCIO, Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa, consultores das federações, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE),Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e militares com experiência nas escolas de formação de sargentos.
A Federação das Indústrias realizou um verdadeiro escaneamento das porções do estado de Pernambuco, com as suas diferentes vocações: gesseira (Araripina), fruticultura irrigada (Petrolina), plásticos e baterias (Belo Jardim), artesanato, couro e confecções (Caruaru), tecnologia da informação, polo médico, indústria de transformação e eletrônica, turismo (Região Metropolitana de Recife). Espera-se, a partir da perspectiva da FIEPE, que a Escola de Sargentos seja a indutora de um novo polo econômico e pedagógico, no oeste metropolitano do Recife.
Necessário rememorar o caso da fábrica da Jeep, instalada em Goiana, demonstrada à assistência com os estudos de impacto antes, durante e após o início de sua operação. Esse empreendimento representa 43% do emprego formal daquele município, 7% da indústria de transformação do estado, apresentando um robusto impacto positivo na redução da taxa de abandono do ensino médio nos municípios da área de influência da fábrica.
No legado educacional, foram discutidos os reflexos da linguagem computacional e da inteligência artificial nos atuais processos de ensino-aprendizagem, necessitando que os alunos aprimorem o raciocínio lógico, abstrato e o pensamento crítico, configurando a chamada Educação 4.0. As jornadas integradas de capacitação e as tecnologias interativas também foram objeto de apresentações específicas, assim como ressaltadas as necessidades prementes de integração do Exército com o meio acadêmico. Já o SENAC, SESI e SENAI demonstraram de forma bastante clara de que forma poderiam contribuir para a capacitação das cerca de 28 mil pessoas que deverão ser empregadas, de forma direta e indireta, na construção do empreendimento.
Nos dois dias do ERENEEI, em especial nas jornadas de discussão da Escola de Sargentos, legados e conexões foram os conceitos mais repetidos. A continuidade dos contatos entre o Exército, a Academia, os Setores Produtivos e os Governos garantirão a conectividade almejada. Essa conjunção de ações e planejamentos permitirá legar ao estado de Pernambuco, ao Nordeste e ao País estruturas com os mais modernos conceitos de sustentabilidade e ambientalmente corretas, incremento do desenvolvimento social e econômico local e um polo educacional de referência. Que venha a Escola de Sargentos do Exército!
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