Inteligência eficaz não pressupõe ausência de confronto

Autor: Cel R1 Carlos Frederico Gomes Cinelli

Quinta, 10 Janeiro 2019
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“Os espiões são os personagens centrais de uma guerra. Sobre eles repousa a capacidade de movimentação de um exército” (SUN TZU).

A literatura e o cinema ajudaram a cristalizar a percepção de que a boa inteligência é aquela que se baseia essencialmente na espionagem. Autores como Tom Clancy, Ian Fleming e Frederick Forsyth eternizaram personagens dotados de múltiplas qualidades, requeridas tanto para trabalhos de campo quanto para análise de informações. No mundo real, sabemos que isso raramente funciona. Bons analistas são dotados de atributos cognitivos que não têm a ver com a arriscada tarefa de garimpar dados brutos cuja qualidade é diretamente proporcional à periculosidade do ambiente em que estão diluídos. É o trabalho de análise dos dados, por sua vez, que resulta no assessoramento preciso ao tomador de decisão. Mas para que esse auxílio possa existir, é necessário que os fragmentos de informação cheguem ao analista.

É curioso, portanto, que determinados “especialistas” em segurança pública -  profissão em franca e lucrativa expansão no Brasil -, ao se expressarem sobre confrontos entre forças policiais e criminosos, repitam mecanicamente, na ausência de argumentação mais concreta e pragmática, que o problema da segurança pública no Rio de Janeiro é que “falta inteligência”. Além de ser vocalizada de modo recorrente e quase inconsciente, essa assertiva sugere também outra falácia: a de que a fricção ocorrida entre facínoras armados de fuzil, entrincheirados em fortalezas naturais, e os agentes policiais que tentam efetuar suas prisões, poderia ter sido evitada se “houvesse mais inteligência”.

O emprego eficaz da inteligência não pressupõe ausência de confronto, simplesmente porque o modo de obtenção da informação desejada é dependente do comportamento do alvo que a retém, podendo ser ele (o alvo) uma pessoa, uma emissão eletromagnética ou uma imagem de satélite, por exemplo. É descabida a noção de que será sempre possível acessar um dado importante, negado e protegido contra a difusão indiscriminada, de modo insidioso e disfarçado, sem o ônus da superação de determinadas barreiras físicas. Quando os obstáculos interpostos entre o agente e o dado buscado se valem de meios violentos, como nos casos da atividade de inteligência militar ou policial, não raro haverá fricção com desdobramentos imprevisíveis. A própria doutrina de operações militares contempla essa modalidade de obtenção de informações: o chamado Reconhecimento em Força.

Novamente é interessante notar que, licenças poéticas e exageros do cinema à parte, o próprio imaginário popular não só admite que um agente de inteligência altamente hábil tenha “permissão para matar”, como também enxerga, com naturalidade, o fato de que ele descarregue sua arma cada vez que a missão exige. Também é comum a confusão entre inteligência e investigação policial, como se fossem sinônimos. E como se o primeiro estivesse restrito ao trabalho técnico de obtenção de provas para instrumentalizar um inquérito, que é a essência do segundo.

A História Militar é pródiga em exemplos de como o emprego prévio da inteligência foi decisivo para as fases posteriores das campanhas, quando as operações de vulto são deflagradas. Embora a glamourização e a escassez de exemplos conhecidos deem grande destaque à espionagem sutil como técnica de inteligência, o fato é que dezenas de milhares de agentes - civis e militares - tombaram em decorrência de confrontações armadas, quer na tentativa de manutenção do disfarce, quer no patrulhamento ostensivo atrás das linhas inimigas. O próprio Direito Internacional dos Conflitos Armados, realístico por natureza, admite a existência da atividade de espionagem como ação basilar para o sucesso das operações militares, embora não estenda ao espião capturado em ação a proteção do Estatuto do Combatente. Como se sabe, grande parte dos países pune a espionagem de modo severo, em alguns casos com a pena capital.

A operação do Comando Conjunto da Intervenção Federal nos Complexos do Alemão, Penha e Maré, no dia 20 de agosto, foi didática no sentido de demonstrar dois aspectos. Primeiro, o emprego integrado de diferentes abordagens da atividade de inteligência, que permitiu tanto efetuar prisões em flagrante, sem nenhum disparo sequer, quanto mapear preliminarmente os principais pontos de interesse no terreno. Segundo, o grau de irracionalidade da criminalidade carioca que ultrapassa todos os limites do razoável: mesmo cercados por 4.200 homens, 20 blindados e 3 aeronaves, os criminosos se recusaram a aceitar a rendição oferecida, partindo para um confronto em meio à população civil inocente. O saldo indesejável de 8 óbitos - 5 criminosos e 3 militares do Exército -  somente reforça o fato de que, não fosse a sinergia obtida pelas inteligências militar e policial, certamente o desfecho teria sido ainda mais doloroso e lamentável. Nota-se que houve também, de modo concreto, a aplicação das três funções operacionais básicas: sensoriamento (coleta e busca de dados), processamento (análise dos dados e tomada de decisão) e atuação (uso legítimo da força).

 Embora tenha caráter atual, seja abrangente e esteja alinhada aos objetivos do Estado brasileiro, a Política Nacional de Inteligência (Decreto nº 8.793, de 29 de junho de 2016) não visualiza a possibilidade de que agentes possam, no decorrer da busca sigilosa de dados, obter uma excludente de ilicitude na prática de eventuais atos que, mesmo estando tipificados como crime, sejam indispensáveis à sustentação de seu personagem na organização ou atividade que tenta escrutinar. Obviamente isso esbarra em questões sensíveis de limites éticos indispensáveis ao exercício do poder no Estado Democrático de Direito, mas é uma possibilidade que poderia ser trazida à discussão quando se fala em eficácia da atividade de inteligência com fins de proteção da sociedade. Infelizmente, o que temos visto é uma discussão ideologizada e a cegueira epistêmica de certos especialistas que disseminam absurdos como: “o que falta à inteligência é mais transparência”.

Nada no juramento feito pelos policiais e militares os obriga a sublimar seu instinto básico de autopreservação, sobretudo em face de um fora da lei armado de fuzil que, negando-se à rendição oferecida, atira impiedosamente contra eles. Isso nada tem a ver com inteligência. Trata-se de uma resposta proporcional e legítima contra indivíduos cruéis que se acostumaram a atacar policiais outrora enfraquecidos e compreensivelmente desmotivados, devido ao abandono a que foram submetidos por décadas de negligência e descaso.

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Cel Carlos parabéns pelo artigo ! Os ditos ( especialista de TV ) não acrecentam nada ao conhecimento as tropas federais ou estaduais, só sabem criticar as atuações, ficar atrás de uma ( TV) é fácil quero ver é especialista ir a campo junto a tropa para ver realmente o que acontece no dia a dia e na situação de cada pelotão na cena onde está, os ditos ( especialista de TV) se quer conhecem as técnicas do general (san tzsu ) de quer sabem que os aliados usaram o engodo na segunda guerra técnica de San tzsu, se quer perceberem o uso da técnica recentemente pela força terrestre que teve o êxito de encontrar os infiltrados no movimento Nacional dos caminhoneiros, que tinham ideias exclusas, parabenizoa todos da força terrestre, deixemos que os ditos ( especialista de TV) falem pois até papagaio fala ! Os mesmos tem ciúmes por não ter cacife para acompanhar um soldado seja pé Preto ou PQD, enquanto isto os soldados crescem intelectualmente, e cumprem a missão constitucional. Sd Moacir Sérgio e Silva 291 ccsv 33 BIMEC turma de 1992 a 1994.
A política “fake ideologized” anda por trás de tudo o quanto está ocorrendo no Brasil. Infelizmente o poder público civil fracassou e abriu as portas para esse caos absoluto. Essa do politicamente correto só serve para dar proteção a um sistema que se julga capaz de fazer juízo de valor somente das coisas que lhes convém estas por vezes inconfessáveis. Pobre Brasil! A que ponto chegou!? Inegável que a sociedade de mais alto padrão de vida, fechou os olhos para todos os graves problemas em sua volta e o resultado disso é que agora ela cobra dos outros, aquilo que poderia ser evitado se esta saísse pelo menos um pouco de suas áreas de conforto procurando entender os problemas dos excluídos e abandonados às suas próprias ‘más’ sortes; resultado: todos estão agora suplicando por uma solução ou quem sabe, um milagre. Voltando à “fake ideologized”, só não enxerga quem quer e infelizmente aqueles milhões de compatriotas que são enganados sistematicamente por políticos em suas maiorias ideologicamente somente em favor de seus próprios benefícios. Para eles o que interessa é o poder seja de qual bandeira for desde que continuem enganando aos milhões de nativos desprovidos de um mínimo de conhecimento pátrio e formados pelo sistema alienador deles. Para o deleite de milhões desses seres graduados pela forte ausência de um estado patriota, com exceção das forças armadas e parte da segurança pública, o candidato líder nas pesquisas de intenção de voto, foi atacado covardemente por elemento de comportamento desconhecido. O tempo dirá de onde partiu a tal ordem, se foi de Deus como afirmado pelo próprio, o Deus dele não é o Altíssimo senhor celestial e sim o baixíssimo ser das trevas. Hoje comemora-se 196 anos da nossa independência. Aquele brado forte retumbante às margens do rio Ipiranga ainda ecoa por esse imenso solo mãe gentil, mas aqueles dizeres do nosso pavilhão nacional precisam ser resgatados urgentemente para por fim a essa guerra fratricida que tanto nos aflige. “Ordem e Progresso” no contexto da política e “Brasil acima de TODOS, Deus acima de TUDO”, no âmbito da glória e espiritualidade.
“O ódio quando você planta você colhe tempestade”. (Ex- presidenta). Por sinal ela acabou de plantar uma sementinha ao não fazer o mínimo de silêncio em sinal de desconhecimento ao simples mortal, mesmo que desafeto e ainda em condição moribunda. Senhora, ‘iolanda2606@gmail.com’, quanto amor já produzido em sua fraternal existência. -Soldado Mário Kozel filho, que Deus o tenha no panteão das almas valorosas!
Cumprimento o autor pela lucidez e honestidade do preciso artigo e espero que os “intitulados especialistas em segurança” sejam menos ouvidos pelos “midiáticos” que cultuam os intelectualismos sem fundamentos, e que se busquem informações com os verdadeiros operadores de segurança do Brasil!
Definitivamente que o PT não respeita ou não gosta do EB. Ao qualificar o comandante geral como insubordinado por ter dito o obvio no caso do ex-presidente apenado, esse partido não só atacou toda a força como também a opinião pública que enxerga, segundo pesquisa realizada, a maior fonte de confiabilidade do país, acima até de instituições religiosas. Ressalta-se também que a FAB e a MB também se incluem na pesquisa. Com um índice de 68%, segundo a FGV o EB ganharia fácil e em primeiro turno se este participasse da eleição presidencial. Com esse tratamento grotesco por parte desse partido, acaba criando-se um clima de desconfiança sobre quem aceitaria assumir o posto de comandante do EB, caso esse partido vença as eleições. Pelo que eu conheço do exército de Caxias, não seria de pasmar se nenhum oficial indicado para o cargo não aceitasse o cargo, pois em pouco tempo aquela pesquisa de confiabilidade estaria degradada. -Caro Cel Cinelli, são tantos os acontecimentos que causam indignações que me valho deste Blog patriótico e democrático para exprimir opiniões sobre temas que sufocam insistentemente a todos, no dia a dia. Ás vezes penso que estou contribuindo para se estabelecer um Blog das lamentações.
Estou pronto para ajudar no que for preciso para tirar o meu país da mão desses políticos corruptos bandidos.intervenção militar já
Assisti o vídeo em anexo do youtube e confesso que as forças armadas, não podem mais esperar precisam definitivamente intervir, salvando o povo do socialismo e o comunismo não permitindo que jamais nossa bandeira venha a ser vermelha. Colocando todos envolvidos no desvio do erário público na cadeia, sem nenhuma exceção, restituindo a paz. harmonia e confiança no País. Portanto baseado no exposto, solicito que as forças armadas,partam para cima, não vamos ficar com a boca escancarada cheias de dentes esperando a morte chegar, já dizia o grande poeta da música popular Brasileira. Indignação de um veterano PQD 1G909383/A 71/2 . Atenciosamente. Já identificado.
https://youtu.be/TGR6MSdu43U
Estamos em uma Ditadura dos Partidos Políticos. Estão destruindo o Brasil, assassinando sua população dentro do Sistema Público de Saúde e nas ruas. O narcotráfico tomou conta do país nos tirando o Direito de ir e vir em segurança, nossas escolas, além de sucateadas estão cheias de ideologias de Esquerda, estão destruindo os valores de nossa Sociedade, tirando os Direitos do Cidadão e imputando-lhes pesados impostos para bancar esse monstro no qual está se tornando o Brasil de Políticos inescrupulosos que estão sucateando o país e roubando a Nação Brasileira em uníssono com o corrompido e vergonhoso Judiciário que rasgam o que ainda resta de decente em uma Constituição toda retalhada nos governos que o poder através das Diretas Já! Senhores Militares, vocês ainda são a nossa esperança da volta de um Brasil honrado e de uma grande potência. Precisamos resgatar nossos antigos valores, precisamos dos senhores a nosso lado, pois nos desataram e vocês são os Guardiães da Pátria e do Povo Brasileiro. Peço que façam valer o artigo no qual o povo é soberano e que todo o poder advém dele e não de pessoas inescrupulosas que estão nos assassinando e nos deixando reféns de todo mal. Nossa única esperança está em nossas Forças Armadas. Pedimos uma Intervenção Militar Urgente com uma Limpeza Geral nos 3 Poderes.??
Lúcido e brilhante. Para prosseguir nessa guerra, algumas mudanças na legislação deverão ser incrementadas. A sociedade não aguenta mais tanto cinismo, tanto escárnio.
Faço minha estas palavras
Irretocável, de uma clareza a toda prova. Parabéns!
Perfeita e realista a abordagem apresentada pelo Cel Cinelli. Da sabedoria popular: "não se fazem omeletes sem quebrar ovos." Cel Cav Neves
O Brasil e a politica do Governantes atuais no processo de Democracia a Segurança Nacional. Vale lembra que diante do processo politico democrático em que o Brasil enfrenta, devolver o Ministério da Defesa ,e o cargo de ministro aos militares ,representa ser um ato de conciliação, alias na verdade nunca se deveria ter sido tirado o direito do comando , cargo de Ministro aos militares, as forças armadas representa ao pais um fator único ou seja integração e segurança nacional, digo que as fronteiras do território brasileiro precisam ser melhores protegidas ,lembrando que os vencimentos salariais dos militares federais precisam ser atualizados com os salários dos demais servidores federais, inclusive com equiparação aos da policia federal, a melhor valorização do soldado brasileiro é um processo fundamental de equilíbrio a guarda da pátria e ao desenvolvimento do pais , o Tiro de guerra nos municípios Brasileiro,não recebe nenhum tipo de salario ou vencimento, ai pergunto? como comandar um recruta que não se quer recebe os vencimentos de um salario mínimo. com certeza que o congresso nacional a partir de 2019 vai propor leis que iguale a vida social e econômica e do trabalho aos militares do Brasil.

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