Fundamentos de análise do terreno

Autor: Cap Álex Dave 

Sexta, 21 Junho 2024
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A Geoinformação assume um papel crucial nas estratégias e operações da Força Terrestre, oferecendo uma base para o planejamento e execução de ações militares com efetividade. A compreensão detalhada do terreno, sua composição e ter seu correto entendimento é fundamental para antever e superar obstáculos naturais e artificiais que possam afetar a mobilidade e as eficiências defensiva e ofensiva das forças em campo, desde a própria definição do Teatro de Operações (COSTA, 2014). Além disso, a capacidade de construir mapas e modelos tridimensionais precisos do terreno transforma a Geoinformação em uma ferramenta indispensável para a tomada de decisões estratégicas (FITZ, 2008), desde a seleção de rotas de ataque até a definição de posições de defesa. 
A análise do terreno, no âmbito militar, envolve um exame detalhado das características geográficas e físicas de uma região, utilizando a geoinformação como alicerce para este processo. Essa análise é vital para a identificação de vantagens e desvantagens táticas que o terreno pode oferecer, facilitando a elaboração de planos de ação mais efetivos. Por meio do processamento de dados geográficos, como relevo, tipos de solo e condições climáticas, é possível prever os impactos do terreno nas operações militares. Assim, a geoinformação não só enriquece o entendimento do terreno, mas também amplia as capacidades de planejamento estratégico e operacional das Forças Armadas, destacando-se como um recurso indispensável para o sucesso de operações militares. A integração de conhecimentos de Fotogrametria, Sensoriamento Remoto, Geodésia, Cartografia, Computação Aplicada e Sistemas e Ciência da Informação Geográfica, Banco de Dados Geográficos e Processamento Digital de Imagens evidencia a relevância da geoinformação na modernização e eficiência das operações militares, sublinhando a necessidade de investimentos contínuos em tecnologia e formação especializada na área. 
No contexto das operações militares, a distinção entre geoinformação básica e temática é fundamental para o planejamento estratégico e tático. A básica refere-se a dados geoespaciais de uso geral que descrevem precipuamente características permanentes do terreno, como relevo, hidrografia, infraestruturas e vegetação. Esse tipo de produto fornece a fundação sobre a qual informações adicionais, específicas a determinadas aplicações – a geoinformação temática – são sobrepostas. A temática, por sua vez, faz uso de ilustrações, composições de cores e camadas, além de simbologia para representar, além das feições básicas, aspectos específicos do terreno. Exemplos incluem mapas históricos, demográficos, econômicos, de transportes, climático, de trafegabilidade de blindados, etc. (DSG, 2018). 
O Banco de Dados Geográficos do Exército (BDGEx) é a ferramenta do Exército Brasileiro (EB) para disponibilizar produtos geográficos, gerido pela Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) e suas Organizações Militares Diretamente Subordinadas (OMDS). O sistema, seguindo padrões do Open Geospatial Consortium (OGC), oferece uma gama de serviços essenciais, como consultas por metadados e download de produtos, facilitando o acesso à geoinformação precisa e atualizada, necessária para o planejamento de operações (DSG,2021). Essa infraestrutura é alinhada com a Estratégia Nacional de Defesa, que visa reduzir a dependência de fontes externas, inclusive de informação geográfica, garantindo que as necessidades dos militares sejam atendidas de maneira e com capacidade nacional (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2020). 
Ademais, sistemas de webmapping, como o SIG Bandeirante, desenvolvido originalmente pelo 4º Centro de Geoinformação, permitem a criação independente de cartografia temática pelos usuários, atendendo às demandas específicas das operações militares. Essas ferramentas se destacam por sua capacidade de oferecer uma interface amigável e funcionalidades adequadas para a interação com os dados, mapas e representações (SZRAJBMAN, 2022). 
        A aplicação da Geoinformação no contexto das operações militares tem se transformado significativamente com o avanço das tecnologias digitais. Nesse contexto, podemos mencionar a aplicação de tecnologias de Inteligência Artificial (IA). A capacidade de gerar, analisar e interpretar grandes volumes de dados geoespaciais com precisão e eficiência é fundamental para o planejamento e a execução de operações militares. O uso de IA nos SIG tem potencial de abrir novas possibilidades para a automatização da produção de mapas, análise de terreno e detecção de mudanças, oferecendo ganhos significativos na tempestividade de disponibilidade de informação (MORETT NETTO, 2024). Diversas são as aplicações de técnicas de IA e deep learning na produção e atualização de geoinfo. Pode-se citar como exemplo atualização de bases de dados (CAN et al., 2021), classificação de áreas construídas (BHUYAN, 2021), identificação de alvos militares, entre outras. 
Esses avanços indicam uma tendência crescente na incorporação de tecnologias de IA nas atividades de análise e representação do terreno, sugerindo que o futuro da geoinformação militar envolverá uma integração cada vez maior entre as tecnologias envolvidas. Isso não apenas aumentará a efetividade da aplicação da informação geográfica durante as operações militares, mas, também, permitirá uma resposta mais rápida, adaptativa e tempestiva a ambientes em constante mudança. 
Em conclusão, ressalta-se a evolução constante e a importância crítica da geoinformação nas operações do Exército Brasileiro. À medida que avançamos para uma era dominada pelo espaço digital e pela inteligência artificial, a capacidade de analisar e interpretar o terreno com precisão ultrapassa os métodos tradicionais, abrindo novas avenidas para a eficiência operacional e estratégica. A integração de tecnologias avançadas, como a IA, na produção de mapas e na análise de terreno, não apenas otimiza a tomada de decisões em tempo real, mas também aprimora a capacidade de previsão e planejamento em longo prazo. Além disso, a autonomia proporcionada por sistemas como o SIG Bandeirante e o fortalecimento de infraestruturas como o BDGEx, alinhados à Estratégia Nacional de Defesa, garantem que o Exército Brasileiro esteja preparado para enfrentar desafios futuros com informações geoespaciais precisas e atualizadas. Portanto, é imperativo que se continue a investir em tecnologia, formação especializada e inovação, para que a análise de terreno se mantenha como um pilar fundamental na garantia da segurança e eficácia das operações militares. A evolução da geoinformação militar reflete não apenas o progresso tecnológico, mas também a adaptabilidade e a resiliência do Exército Brasileiro diante dos desafios emergentes do século XXI. 
 

REFERÊNCIAS
BHUYAN, K. Characterisation of Built-up Area Using Artificial Intelligence and Open-Source Data for Assessment of Hazard Exposure. Dissertação (Master of Science in Geo-information Science and Earth Observation) – Faculty of Geo-Information Science and Earth Observation, University of Twente, Holanda, 2021. 
CAN, R.; KOCAMAN, S. e OK, A. O. A WebGIS Framework for SemiAutomated Geodatabase Updating Assisted by Deep Learning. The International Archives of the Photogrammetry, Remote Sensing and Spatial Information Sciences, Volume XLIII-B5-2021 XXIV ISPRS Congress, 2021. 
COSTA, L. P. S. Teatro de Operações Militares Conjunto: Definição de 
Espaço Geográfico. Coleção Meira Mattos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, p 195-
203, set./dez. 2014. Disponível e: https://www.ebrevistas.eb.mil.br/RMM/issue/view/26/13. Acesso em: 4 MAR 2024. 
DIRETORIA DE SERVIÇO GEOGRÁFICO (DSG). Caderno de Instrução de 
Geoinformação (EB80-CI-72.001). Departamento de Ciência e Tecnologia, Brasília, 2018. 
DIRETORIA DE SERVIÇO GEOGRÁFICO (DSG). BDGEx - Generalidades. Geoportal do Exército Brasileiro, 2021. Disponível em: 
https://bdgex.eb.mil.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=8 0&Itemid=346&lang=pt. Acesso em: 4 JUL 2022. 
FITZ, P. R. Geoprocessamento sem Complicação. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2008. 
MINISTÉRIO DA DEFESA. Estratégia Nacional de Defesa. Governo Federal, Brasília, 2020. 
MORETT NETTO, O. da C. Inteligência Artificial: a chave para a geoinformação tempestiva nas operações militares. Eblog, 2024. Disponível em: https://eblog.eb.mil.br/index.php/menu-easyblog/inteligencia-artificial-achave-para-a-geoinformacao-tempestiva-nas-operacoes-militares.html. Acesso em: 4 MAR 2024. 
SZRAJBMAN, Á. D. Comparação entre formas de disponibilização e utilização de geoinformação digital para planejamento de operações militares. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2022. 
SZRAJBMAN, Á. D. Geoinformação Digital: uso e necessidades no Exército Brasileiro. Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2020. 

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