Memórias são ótimas para alimentar argumentos que sustentam decisões importantes. Já as perspectivas desafiam a inteligência por se estabelecerem sobre cenários inexistentes, prováveis no futuro, às vezes surreais para os que vivem no presente, no entanto, são mais reflexivas e racionais. Nesse contexto, insere-se o verdadeiro papel da mulher no Exército Brasileiro.
Desde sempre, o mito da fragilidade é erroneamente atribuído às mulheres, raramente são notadas como o esteio de uma sociedade que parte para o campo de batalha. Na Guerra de Tróia, Aquiles, a lenda da mitologia grega, surgiu em meio à disputa por Helena. Sun Tzu, ao ensinar em suas primeiras páginas de “A Arte da Guerra” como um soberano deve dar ordens, o faz por meio de um grupamento de mulheres.
Na guerra e na história, tudo é por elas e para elas.
Ao longo da nossa história, as mulheres ocuparam novos espaços em todos os ambientes, sempre superando reações de velhos costumes; sempre com luta contra tudo que limita seu papel na sociedade.
No Exército não foi e não é diferente.
O papel formal e definitivo da mulher nos quartéis da Força Terrestre iniciou-se em 1992, com a Turma Maria Quitéria, na Escola de Administração do Exército, muito depois da História Militar Brasileira ter registrado episódios fabulosos de suas atuações em quase todas as campanhas militares, notoriamente na da Tríplice Aliança. Lembra de Anna Nery acompanhando os filhos e o irmão?
Logo que incorporaram, em fevereiro de 1995, por meio de processos seletivos para militares temporários, dirigiram-se para o Serviço de Saúde do Exército, como um espelhamento do que existia no mercado de trabalho do setor à época. Hoje, elas são a maioria nesse Serviço.
Aquele momento foi um desafio para filhas, esposas e mães que, invariavelmente, cumpriam ao menos três expedientes e, ainda assim, apresentaram-se voluntariamente, altivas, bem uniformizadas, disciplinadas e, acima de tudo, vibrando, tais como os melhores soldados.
Contudo, sair do espaço da Saúde ao qual foram formalmente circunscritas para abrir trilhas para as próximas gerações que as sucederiam era uma responsabilidade que pesava sobre os ombros das pioneiras, sem que soubessem disso, afinal, a farda camuflada era uma exclusividade dos homens. Talvez essa condição continuasse a predominar se essas primeiras falhassem.
Não falharam!
Quase três décadas mais tarde, vê-se que aquela passagem evoluiu para uma estrada pavimentada. Em 2017, jovens, acompanhadas de suas famílias orgulhosas, ingressaram na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, consolidando o acerto daquela decisão, de abrir as portas dos quartéis para que ocupassem, não mais os cargos que podiam, mas os que queriam.
E isso foi muito bom!
Em nenhum país do mundo a guerra é feita exclusivamente pelas mãos masculinas. No conflito armado, toda a população é chamada para contribuir. Atualmente, a Ucrânia vive essa realidade, há mais de dois anos, e Israel abriu o Teatro de Operações (TO) da Faixa de Gaza fazendo sua máquina de guerra operar com suas melhores moças.
Em todos os TO, as mulheres sempre lutam com bravura.
Assim foi, assim será, pois a necessidade as convocou e a modernidade as exigirá. Abrir mão das capacidades femininas é deixar de empregar mais da metade do poder de combate nacional. A proteção excessiva desse segmento da população é algo a ser repensado e, talvez, deixado de lado. Esse tipo de atitude cavalheiresca não ocorre somente no Brasil.
Na Europa, berço das lutas feministas, onde as duas maiores catástrofes bélicas varreram o continente no século XX, ainda há resquícios dessa excessiva proteção, em oposição ao voluntarismo para o serviço militar em todos os postos, graduações e armas na maioria dos países da OTAN. Lá, a história ensinou mais cedo que a luta pela igualdade implica na ruptura de idiossincrasias arraigadas, o que é um combate difícil e prolongado.
No Brasil não foi diferente.
O homem não será menos homem por se subordinar a uma mulher. É curioso como radares inteligentes não capturam essa suscetibilidade escondida nos corações masculinos, premissa que cria pequenos obstáculos, os quais se tornam intransponíveis pela quantidade com que são depositados na maratona da vida e que desanimam os corações mais arrojados a alcançar o objetivo principal: alcançam os cargos que elas queiram.
Não os culpem. É impossível cessar esse sentimento de proteção intangível e tão entranhado em uma dinâmica social secular, da noite para o dia. Mudanças assim ficam ainda mais lentas em meio às turbulências ideológicas que alimentam discussões infrutíferas para as mais legítimas aspirações. Na verdade, o pensamento masculino de suporte a essas aspirações deve mover-se pela igualdade dos direitos e dos deveres, sobretudo fortalecido pelo respeito geral entre os indivíduos.
Para uma mudança mais profunda, duradoura e sustentável, nós, homens, temos que nos engajar decisivamente em combate.
E, para romper essa linha de partida imaginária, pergunte-se:
- Vamos enviá-las despreparadas para o front em um eventual conflito?
- Quando elas poderão servir ao Exército por meio da Conscrição?
As respostas são suas, prezado leitor.
A meu ver, pensar diferente é promover maiores chances para o futuro do Brasil e, lembre-se, não se pode errar na guerra e nem se enganar com o sofisma do sexo frágil feminino, porque, sob o manto da delicadeza, esconde-se uma força que subestimamos.
Para finalizar e lhe ajudar com sua resposta, deixo a lembrança da Heroína dos Dois Mundos, Anita Garibaldi, e um pensamento da protagonista do clássico E O Vento Levou, de Margaret Mitchell, ambientado na Guerra de Secessão (1861-1865), nos Estados Unidos:
- Os fardos são feitos para ombros fortes.
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