Exército Brasileiro: distribuição de medicamentos e valores militares

Autor: Coronel Maurício Gröhs

Quarta, 28 Abril 2021
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A nossa missão, nestes tempos difíceis, é levar esperança onde há medo. Entre 16 de março e 20 de abril de 2021, o 3° Grupamento Logístico (3° Gpt Log) distribuiu mais de 500 mil medicamentos para 128 hospitais de 97 cidades do Rio Grande do Sul. Uma missão subsidiária que evidencia a capacidade logística do Exército Brasileiro e desvela inúmeros elementos da ética militar.

 

Entrega de medicamentos pelo 3º Grupamento Logístico no Hospital de Charqueadas (RS).

Fonte: Comunicação Social do Comando Militar do Sul. Créditos: 2º Sgt Clândio Abrante.

Em 46 dias, cenas como a registrada na foto acima repetiram-se 460 vezes, número de entregas realizadas pelo 3º Gpt Log no período. Foram percorridos mais de 60 mil quilômetros em 9 missões de transporte (com 7 a 12 rotas de distribuição cada). Uma "baita" logística de transporte, no modo gaúcho de dizer, com dezenas de militares de mais de 30 unidades da Força envolvidas.

Mas por que o Exército Brasileiro? A Secretária da Saúde do Rio Grande do Sul afirma que o governo do estado não teria capacidade logística para a pronta resposta exigida pela situação emergencial configurada: “Graças à nossa parceria com o Exército Brasileiro, conseguimos agilizar a entrega desses remédios [...] Vocês têm uma capilaridade para chegar rapidamente a todos os pontos do estado do Rio Grande do Sul” [i].

A compra dos medicamentos pelos gestores dos hospitais é inviabilizada devido à falta de estoque nos fornecedores. Em função dessa escassez, para cada lote de medicamentos recebido, uma nova missão de transporte é planejada pelo 3º Gpt Log. “Se observa que não há hora, não há momento difícil. Essa prontidão, rapidez, e agilidade em sair a qualquer hora e chegar ao destino em segurança são muito importantes para quem está à espera”, declara a Secretária de Saúde.

Contextualizando, ao meio-dia de 26 de março de 2021, uma nova remessa de medicamentos chegava ao 3° Batalhão de Suprimento (3° B Sup). Na noite daquela sexta-feira, a primeira entrega do lote já era realizada pelo 3° Gpt Log no Hospital São Vicente de Paulo, na cidade de Passo Fundo (RS). “No sábado, ao meio-dia, terminaria o estoque”, atestou o coordenador da área de farmácia do hospital[ii]. No referido sábado, a 5ª missão de transporte era desencadeada, e 18 militares se deslocavam para a entrega de medicamentos em outras 42 cidades.

Mas por que o 3º Gpt Log? Por ser o Grande Comando Logístico encarregado de planejar, coordenar e executar, por meio de suas Organizações Militares Diretamente Subordinadas (OMDS), o apoio de material, ao pessoal e de saúde na área da 3ª Região Militar. Embora não possua organização militar específica de transporte, a OM é responsável pela distribuição de suprimentos de diversas classes (incluindo material de saúde) e conta, eventualmente, com apoio de outras organizações militares (seja no transporte de material militar, seja em apoio a instituições civis).

A doutrina militar é dinâmica e evolui conforme os cenários e as hipóteses de emprego estabelecidos. Na logística, o 3º Grupamento Logístico é uma organização militar nova, e sua estruturação está prevista no Plano Estratégico do Exército 2020-2023[iii]. Dentro dessa evolução, a ativação de um batalhão (ou companhia) de transporte pode vir a ocorrer ou não, mas isso depende de inúmeros fatores e não é o foco deste texto. O que se destaca é a pronta resposta do Exército Brasileiro, independentemente da estrutura vigente, e a capacidade de adaptação dos meios de defesa existentes para auxílio em uma crise sanitária.

Para missão dessa envergadura, alguns aspectos são primordiais na definição dos meios empregados: 1) prazo (normalmente o período entre o recebimento dos fármacos e a saída das rotas de distribuição é menor que 24 horas); 2) especificações técnicas (controle de temperatura como aspecto crítico); 3) volume a ser transportado para cada hospital; 4) distribuição geográfica dos hospitais destinatários; e 5) locais para abastecimento de viaturas, alimentação e alojamento de pessoal. Ao todo, foram empregadas 10 organizações militares para o transporte, e outras 23 para demais apoios.

Nesse contexto, não apenas as estruturas e os meios materiais existentes contribuem para o cumprimento da missão, mas também (e talvez principalmente) a capacidade dos recursos humanos. O esforço conjunto, a dedicação e o envolvimento, tudo nos remete ao juramento feito por ocasião da incorporação às fileiras do Exército, assim como denota inúmeros valores inerentes aos profissionais da carreira das armas, dentre os quais destaco alguns.

O patriotismo. Pode ser entendido como o ideal de servir à Pátria[iv]. Em um momento de isolamento social, quando aqueles que podem se recolhem em seus lares, os militares do Exército Brasileiro lançam-se às estradas, rumo a dezenas de hospitais, contribuindo para o gerenciamento da crise de saúde pública que assola o País. A prioridade é o interesse da Pátria, o atendimento a uma demanda da sociedade. Destaca-se aqui o atributo da abnegação!

A fé na missão do Exército. Dispõe o vade-mécum militar que "o Exército do presente é [...] a mão amiga que ampara nos momentos difíceis". A missão do Exército é decorrente da legislação, da percepção dos legisladores (representantes da sociedade). Em tempos de paz, as chamadas atribuições subsidiárias se sobressaem; em situações de calamidades, as capacidades do Exército Brasileiro contribuem sobremaneira para a solução de problemas em cooperação com outras entidades estatais. Ressalta-se a dedicação ao cumprimento do dever!

O espírito de corpo. É representado pelo apoio mútuo, pela coesão e pela união, sintetizados em um conhecido lema na caserna: "Não pergunte se somos capazes, dê-nos a missão!". É refletido na atuação do Exército Brasileiro, unindo esforços ao Ministério da Saúde e ao governo do RS em apoio a hospitais do Estado; é refletido na pronta-resposta de mais de 30 organizações militares que tornam possível o cumprimento da missão. Nas palavras da Secretária de Saúde do RS: “Eu observo que a palavra “não” (não dá, não é possível), não está no vocabulário de vocês”. Destaca-se aqui o atributo da cooperação!

Esses são apenas alguns aspectos da ética militar presentes na atuação do Exército Brasileiro em apoio ao governo do estado do Rio Grande do Sul. De uma forma geral, ficam evidenciados o elevado comprometimento, a união de esforços e a ação conjunta focada na complementaridade de capacidades (mediante coordenação precisa entre diferentes entes e diversas organizações militares). Tudo em prol do bem comum.

Que esses valores, tão caros para o Exército Brasileiro, possam servir de exemplo e guiar a sociedade como um todo na superação de seus obstáculos. Que a união prevaleça sobre a segregação.

A missão continua... Brasil acima de tudo!

 

[i] Entrevista concedida ao autor via WhatsApp, em 27 MAR 21.

[ii] Informação fornecida ao autor via WhatsApp, em 31 MAR 21.

[iii] Disponível em: https://www.ceadex.eb.mil.br/images/legislacao/XI/plano_estrategico_do_exercito_2020-2023.pdf. Acesso em 05 ABR 21.

 

[iv] Os conceitos aqui utilizados foram extraídos do Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército - Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10), 1ª Edição, 2002.

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Incrível como nosso Exercito, consegue atender demandas tão complexas e cumprir missões tão importantes, principalmente neste momento em que vivemos . Brasil a cima de tudo.

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