Enfrentando desafios: foco na solução!

Autor: Coronel Maurício Gröhs

Quarta, 05 Junho 2024
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“Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, 
e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá”


Arnold Toynbee, em sua teoria geopolítica “Desafio e Resposta”, defendeu que as civilizações que aceitaram e venceram os desafios, sobreviveram e se desenvolveram. Assim é a vida, ela nos apresenta desafios; o que será de nós depende de como os enfrentamos.
Quando as coisas ficam difíceis, você pode gastar tempo e energia buscando culpados, causas externas ou justificativas, lamentando erros ou tragédias ocorridas. Ou, como aprendi com meu irmão, focar na solução! 
Busca por causas externas ou terceirização de responsabilidade por revezes cotidianos pode ser consequência do que Carol S. Dweck define como mindset fixoi, uma mentalidade limitante que leva à estagnação. Muito dificilmente coragem e inovação sobrevivem em uma organização dominada por esse tipo de mentalidade, defende a autora.
A coragem, atributo tão caro aos militares, deve transbordar para todas as áreas da vida. É preciso ter coragem para encarar as adversidades, para inovar e enfrentar mentalidades limitantes do tipo “não vai funcionar”, “sempre foi assim” ou “de quem é a culpa?”.
Lembremos daquele que empresta seu nome à denominação histórica da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Marechal Castello Branco: “ao chefe não cabe ter medo das ideias, nem mesmo das ideias novas. É preciso, isto sim, não perder tempo, empreendê-las e realizá-las até o fim”.
Acredito que este seja o maior ensinamento daquela Escola: despertar para a necessidade do pensamento crítico e criativo. Veja a definição do manual militar: “o pensamento criativo envolve a criação de ações inovadoras ou originais e permite conceber novas abordagens, perspectivas e soluções para os problemas militares”. ii
Um ensinamento valioso para a vida: pare de fixar no problema, desenvolva sua capacidade criativa e parta para a ação... Foco na solução! Trata-se da refutação da mentalidade de estagnação do “sempre foi assim” ou “não tem jeito”. Um estado de espírito voltado para a inovação de ideias e para a proatividade (e positividade) no enfrentamento dos desafios cotidianos. 
Malcolm Gladwell, em Davi e Goliasiii, ensina que a atitude é mais importante do que vantagens aparentes. “O fato de enfrentar condições imensamente desfavoráveis produz grandeza e beleza”, diz o autor. São os desafios que geram oportunidades de crescimento, é a condição desfavorável que faz despertar a capacidade criativa!
Vivemos uma crise ambiental-humanitária no sul do país, o caos tomou conta de um estado inteiro. Neste contexto, vemos a atitude positiva de uma multidão de pessoas e o despertar de mentalidades proativas: “como posso ajudar com minhas capacidades e meios?”. Blindados do Exército atuando ao lado de jipeiros, surfistas com seus jet-skis atuando junto aos bombeiros militares. Inúmeros são os exemplos.
Mas, como reagir quando o caos bate à sua porta? Primeiro, não permita que ele domine sua mente! Segundo, é preciso priorizar e focar. Greg McKeown, em Essencialismoiv, ensina que você até pode ser multitarefa, mas não multifoco. Uma abordagem essencialista consiste em dividir o todo em pequenas partes e focar no que é mais importante em cada momento. 
No caso das enchentes, tenho ouvido: “de quem é a culpa pela catástrofe?” ou “que medidas deixaram de ser tomadas”? Estas perguntas em nada ajudam no momento da crise, são desagregadoras quando precisamos de união. É preciso reagir rápido com os meios disponíveis. De imediato, salvar vidas em áreas afetadas e prover necessidades básicas de alimentação, saúde e segurança. Equipes especializadas são direcionadas ao salvamento, outras equipes ao suporte dos evacuados. Em um segundo momento, priorizar a reconstrução já pensando em novas medidas preventivas. É o chamado faseamento da manobrav.
Em operações como a COVID-19 ou TAQUARI I e II, as Forças Armadas operam de forma articulada com diferentes instituições públicas e entidades privadas, “com vistas à conciliação de objetivos e à complementariedade de capacidades”vi. É preciso abrir mão do não essencial no momento e direcionar energia ao que é urgente.
No contexto da pandemia, o 3º Grupamento Logístico, por exemplo, apoiou diversas ações do governo do Rio Grande do Sul. Em entrevista a este autor, a Secretária de Saúde estadual salientou que muitos medicamentos somente chegaram a hospitais tempestivamente graças à eficiência e prontidão logística do Exército. E afirmou: “Eu observo que a palavra “não” (não dá, não é possível), não está no vocabulário de vocês”. vii
E, mesmo em meio ao caos, ressurgem velhos debates: “Isto não deveria ser papel das Forças Armadas” ou “As Forças Armadas deveriam fazer mais”. Debater atribuições de qualquer instituição de Estado é sempre válido, mas não podemos nos dar ao luxo de tratar o assunto de forma superficial e leviana. Especialmente em tempos de crise, quando não há espaço para divagação e é preciso ação. 
Na pandemia, enquanto aqueles que podiam se recolhiam em seus lares (alguns se embrenhando em debates teóricos ou batendo panelas), nos lançávamos às estradas, ajudando a resolver o problema. Assim, tem sido na crise ambiental-humanitária que assola o sul do País: há inúmeros críticos atuando, os “guerreiros de rede social”, e há aqueles com água até o pescoço salvando vidas.
Veja, há sempre duas opções: a estagnação ou a ação. A polarização ou a união. 
Ao enfrentar desafios, foco na solução!

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