Emprego do Adjunto de Comando em Operações de Engenharia de Construção

Autores: 2º Ten Rodrigo Silveira da Cruz
Sexta, 29 Agosto 2025
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INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo nortear o emprego e a atuação do Adjunto de Comando (Adj Cmdo) em Operações de um Batalhão de Engenharia de Construção (BECnst), onde procuramos abordar as atribuições e responsabilidades do cargo, boas práticas e lições aprendidas e as melhores oportunidades de emprego do Adj Cmdo.

HISTÓRICO DA ARMA DE ENGENHARIA

A origem da Arma da Engenharia é encontrada no Exército Português. No início, as missões da Engenharia eram estritamente ligadas à necessidade da guerra de sítio, realizando obras de fortificações e obras civis, tais como fortes, edifícios, aquedutos, estradas, pontes, etc. O Engenheiro era mais "doutor" do que soldado... A vinda de Dom João VI para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão, impôs a necessidade de se reforçarem as fortificações, ainda hoje existentes em pontos estratégicos do nosso litoral e nas mais distantes fronteiras terrestres. Para isso, os melhores nomes da Engenharia Portuguesa foram convocados, formando-se sob a orientação desses homens o embrião da Engenharia Militar em solo brasileiro. Da natureza do seu trabalho, surgiu o símbolo da Arma, o "Castelo Lendário".

Já no século XIX, vamos encontrar a Engenharia Militar no seu trabalho silencioso e diuturno, em prol da segurança interna e do desenvolvimento das regiões carentes.

Em 1880, a Lei Federal nº 2.911, de 21 de setembro, previa o seu emprego "na construção de estradas de ferro, de linhas telegráficas estratégicas e outros trabalhos de engenharia pertencentes ao Estado...".

O SISTEMA DE ENGENHARIA DO EXÉRCITO

O Sistema de Engenharia do Exército (SEEx) possui pessoal e equipamentos capazes de atender a essas necessidades. As possibilidades desse apoio podem ser ampliadas com o emprego de módulos especializados.

Nesse sentido, a Diretoria de Obras de Cooperação é o órgão central do Sistema de Obras de Cooperação, subordinada ao Departamento de Engenharia e Construção, que tem por finalidade: gerenciar as atividades relativas às obras de engenharia atribuídas ao SOC, visando ao adestramento da tropa e o desenvolvimento nacional.

MOVIMENTAÇÃO DO ADJ CMDO NA ÁREA DE OPERAÇÕES

O Adj Cmdo pode acessar os oficiais do Estado-Maior e demais Chefes de Seção, mas é fundamental seu contato com a tropa na “linha de frente”, ou seja, as praças que estão na execução das atividades-meio e atividades-fim de uma Op Eng Cnst.

Somente assim, no contato direto com os graduados e soldados, poderá observar o rendimento e incentivar seu crescimento profissional, identificar pontos fortes e fracos, e os anseios da tropa, referentes ao bem-estar e moral da tropa.

O Adj Cmdo acompanhará o Cmt OM nas visitas de orientação técnica, sempre que determinado, e ainda nas visitas de autoridades do escalão superior, geralmente em visitas de inspeção ou solenidade de entrega de trechos/lotes. Visando reforçar a intenção do Comando, dedicará a maior parte do seu tempo junto aos graduados, esclarecendo ou orientando as praças da SU, a respeito da missão da OM.

Especial atenção deve ser dada às praças em função chave, como Enc Mat, Sargenteante, Aux Aprov, Chefe de Campo, Apropriador, entre outros.

Podemos considerar como boas práticas e lições aprendidas do cargo de Adjunto de Comando em Operações de Engenharia o assessoramento ao Cmt Cia Eng Cnst, ao apoiar este oficial nas distribuições de militares, de acordo com seu perfil, nas diversas funções/equipes da Op Eng; acompanhar o desempenho profissional dos graduados destacados em uma Cia E Cnst.

Participar, caso seja solicitado, de reconhecimento de engenharia, para o início dos trabalhos em um futura Operação de Engenharia, fazendo contato com os Adj Cmdo da Guarnição, divulgando a intenção do Cmt e o modus operandi da tropa de engenharia, reconhecendo alojamentos para a tropa e necessidades de conforto e bem-estar.

No campo da assistência social, vale ressaltar que a PORTARIA n° 1.419, DE 31 DE OUTUBRO DE 2016 (EB10-IG-02.014) regula o Programa de Atendimento Social à Família dos Militares e Servidores Civis participantes de Missões Especiais, considerando público-alvo os integrantes de tropa ou militar isolado e servidores civis, empregados em atividades desenvolvidas pelas organizações militares (OM) do Sistema de Engenharia fora de sua sede e o Adj Cmdo pode acompanhar as atividades desenvolvidas pelo Capelão Militar; identificando soldados com ideação suicida, ou em situação de vulnerabilidade socioeconômica; e na área de Operações (trecho), atuar junto aos Sgt Ch Equipe, avaliando o moral da tropa e identificando possíveis necessidades e anseios referentes à assistência social, prevenção da vida e dependência química ou alcoolismo, muito comum em situações em que a tropa fica destacada muito tempo longe da sede.

Pode, ainda, apoiar estudos relacionados ao preparo e emprego, criação de estágios e cadernos de instrução para as Qualificações Militares específicas de Auxiliar Topografia e Laboratorista de solos, além de apoiar instrução de qualificação para estes militares.

CONCLUSÃO

O Estado Final Desejado para o Adj Cmdo em Op Eng Cnst é um militar com conhecimento básico de obras de engenharia e suas fases, preparo constante através de capacitação em assistência social, além de experiência na formação de militares, para que possa somar esforços no assessoramento voltado para o preparo e emprego da tropa e seus elementos especializados.

Para estar presente em toda a área de operações, considerando o desdobramento de um Btl Eng Cnst, o Adj Cmdo deverá liderar pelo exemplo, reforçando nos sargentos mais jovens, cabos e soldados seu papel fundamental na execução das tarefas do SOLDADO DE ENGENHARIA, uma missão dual, de adestramento constante da tropa e de desenvolvimento da nação, despertando o sentimento de cumprimento de missão, alinhado com sua qualificação técnica, saúde física e mental e o bem-estar e moral.

REFERÊNCIAS

A influência da liderança moderna no desempenho dos Adj Cmdo do Exército Brasileiro.ECEME. Rio de Janeiro. 2019. Fioravante, Richard Alves.

Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Guia do Adjunto de Comando. EASA. 1. Ed. 2019.

Ministério do Exército. Estado Maior do Exército. Manual de Campanha C 5-162: O Grupamento e o Batalhão de Engenharia de Construção.

Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. EB70-MC-10.237. A Engenharia nas Operações. COTER. 1. Ed. 2018.

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O Adjunto de Comando representa uma função chave na rotina adminstrativa e, principalmente, operacional com a tropa. Mostra a preocupação da instituição Exército Brasileiro em ter um articulador, observador, descobridor de soluções, uma ferramenta eficiente entre um militar experiente, que é o praça escolhido como adjunto de comando, e os demais militares, para identificar e propor soluções, bem como valoriza o militar selecionado para tão nobre missão.

Excelente reconhecimento sobre essa figura importantíssima para um comandante 

A figura do Adjunto de Comando vem se moldando ao longo do tempo. Desde a segunda turma já foi possível perceber melhorias nos destacamentos de obra e nas condições das praças.

Atualmente nos trechos ainda se pensa apenas em produção e em cumprir normas de construção, mas as NR-18 e NR-24 — acabam ficando de lado — a primeira trata das condições e do meio ambiente de trabalho na construção civil (sim, obras são construções civis), enquanto a NR-24 aborda as condições sanitárias e de conforto em todos os locais de trabalho.

Foi a partir da segunda turma de Adjuntos que vimos pedidos simples, mas de grande importância, começarem a ser atendidos: lavanderia com máquinas suficientes para o efetivo, varais de roupa, circulação de ar nos alojamentos, rodízio de militares, até mesmo algum incentivo ao TFM; melhora na quantidade de proteína diária (há o mito de que no trecho se come bem, mas o contrário também é comum. Já estive em trecho que foram 39 dias de arroz misturados com alguns pedaços de frango).

Não posso deixar de lembrar do 2º Ten Rodrigo, que na época era Subtenente, fez muito pelas nossas praças nos trechos, incentivou o aprimoramento técnico e deixou orientações que serviram de guia para outros Adjuntos.

Esse artigo sem dúvida enriquece a nossa doutrina, mas acredito que ainda vale reforçar a obrigatoriedade do conhecimento e da aplicação das NR-18 e NR-24 em nossos destacamentos de obras. Isso faria toda a diferença, inclusive para reduzir problemas sérios como ideações suicidas, dependência química e alcoólica.

Não se pode misturar adestramento contínuo de consrução com o treinamento de prisioneiro de guerra (pensando nas longas jornadas de trabalho, gasto x ingestão calórica, tempo de descanso, rodízio de militares, condições sanitárias e de bem estar). O papel do Adjunto de Comando tem sido justamente o de somar forças para que sejamos um Exército mais objetivo, humano e profissional. Parebéns pelos seus trabalhos, Ten Rodrigo!

Achei o artigo interessante porque mostra como o trabalho do Adjunto de Comando faz diferença nas operações de Engenharia de Construção. Ele vai além da parte técnica, cuidando também do bem-estar e da motivação da tropa, o que resulta em mais organização e coesão.

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