Samuel Huntington, no livro "O Soldado e o Estado", afirmou que "as características que distinguem uma profissão como um tipo especial de vocação são: especialização, responsabilidade e corporatividade". Esses conceitos estão relacionados à experiência prolongada, ao serviço à sociedade e ao espírito de grupo, respectivamente, atributos fielmente alinhados à profissão das armas e que são igualmente basilares para as demais instituições ligadas aos setores de segurança. Sendo assim, a conduta de profissionais que atuam no campo de ação da segurança inspira a fiel observância de preceitos e normas institucionais que, em última análise, possam dirimir riscos à integridade física das pessoas, dos materiais, do patrimônio e das informações, estejam eles no exercício de suas funções ou não.
A era da informação ampliou o conceito de segurança e, hoje, deparamo-nos com expressões, tais como: segurança jurídica, biossegurança, segurança da informação e segurança cibernética. No viés que tem como objeto principal a informação como ente a proteger, o Exército Brasileiro dispõe de vasta legislação normativa, destacando a que envolve a segurança nos meios de tecnologia da informação (TI), em razão dos riscos para a atividade militar, esses motivados, entre outros, pelo uso constante da rede mundial de computadores nas organizações militares. Cabe destacar que, desde 2008, com o advento da Estratégia Nacional de Defesa (END), o setor cibernético brasileiro ganhou importância no âmbito das estruturas estratégicas e dos sistemas de defesa, o que denota o correto alinhamento do País com tendências mundiais de vanguarda nesse setor.
Curioso notar que, a despeito do desenvolvimento vertiginoso do aparato tecnológico na atualidade, ainda vivemos uma conjuntura mundial de falta de segurança no que tange às informações, sejam elas pessoais, sejam corporativas. "Esse é o paradoxo de nosso mundo saturado de dispositivos de vigilância, quaisquer que sejam seus pretensos propósitos: de um lado, estamos mais protegidos da insegurança que qualquer geração anterior; de outro, porém, nenhuma geração anterior, pré-eletrônica, vivenciou os sentimentos de insegurança como experiência de todos os dias (e de todas as noites)", escreveu o sociólogo Zygmunt Bauman.
É sabido, também, que o mundo pós-moderno tem exigido processos de comunicação cada vez mais ágeis (tempo real) e com altas taxas de disponibilidade, o que tem provocado certa negligência no uso de medidas de salvaguarda e proteção, mesmo no meio das categorias de profissionais dos setores de segurança. Ainda é comum, por exemplo, o uso de aplicativos de mensagens instantâneas e e-mails não corporativos (comerciais) para a troca deliberada de documentos e informações institucionais, muitas delas podendo ser de conteúdo sensível e/ou sigiloso, como no caso de investigações criminais e assuntos de justiça. Isso deixa clara a pouca mentalidade de segurança da informação existente, mesmo no universo daqueles que deveriam, no mínimo, dar o exemplo.
Nesse cenário de potenciais vulnerabilidades envolvendo informações (e aqui me refiro somente à parte que cabe ao uso dos meios de tecnologia da informação), a única saída é incorporar e praticar hábitos seguros, entendendo que a relativa estabilidade e disponibilidade das soluções de comunicação comerciais não podem tomar o lugar das soluções corporativas, principalmente quando se trata de assuntos de serviço.
Na busca por proporcionar o trâmite seguro de informações institucionais e mesmo pessoais entre seus integrantes, além da complexa infraestrutura de segurança das redes corporativas existentes nos 12 Centros de Telemática de Área (CTA) e Centros de Telemática (CT) espalhados pelo País, o Exército Brasileiro avança e difunde, entre seus integrantes, o uso do EBChat e do EBMail, ferramentas próprias que se alinham às políticas de segurança da informação na Administração Pública Federal e que oferecem grande parte dos recursos de outras aplicações comumente utilizadas por usuários das redes sociais.
É lógico que essas e outras soluções corporativas, por si sós, não são perfeitas, mas é preciso que se credite confiança nos benefícios de seu uso para a segurança das informações. Dessa forma, torna-se possível a mitigação dos riscos envolvidos na difusão de conteúdos, tanto institucionais, quanto pessoais. O fato de não haver sistemas que ofereçam uma taxa de segurança de 100% não tira o mérito dessas iniciativas, que promovem a melhoria da mentalidade de segurança e criam ambiente propício ao desenvolvimento de outras medidas de proteção mais complexas. Nesse mister, o Exército Brasileiro oferece uma grande contribuição para a segurança institucional e de seus integrantes, com a implantação e difusão do EBMail e do EBChat.
O fator humano tem a maior parcela de responsabilidade no sucesso de qualquer processo de segurança e nós, como parceiros da Instituição de maior credibilidade no País, damos provas de profissionalismo no trato das informações, quando adotamos as mencionadas ferramentas corporativas em nossa rotina. Retornando a Huntington e a seu livro: o compromisso do militar é para com a sociedade. Sendo assim, em se tratando de segurança de informações, não há espaço para descuido, improvisações e amadorismo.
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