Dia 16 de dezembro - Dia do Reservista, lembrai-vos de Olavo Bilac!

Autores: Cap R1 Francisco Leonardo dos Santos Cavalcante
Segunda, 15 Dezembro 2025
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Em 16 de dezembro comemora-se o Dia do Reservista. A data foi instituída por representar o dia do nascimento do Patrono do Serviço Militar, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac ou apenas Olavo Bilac, como passou a ser mencionado na historiografia poética e militar do Brasil.

Todavia, o que se sabe no âmbito castrense sobre essa insigne figura oitocentista? Que é o Patrono do Serviço Militar no Brasil, tendo sido ao mesmo tempo o primeiro civil a receber esse título dentre os demais Patronos? Que saiu pelo País entre os anos de 1915 e 1916 a propagar o nacionalismo e o patriotismo em memorável campanha cívica? Que defendeu a aplicabilidade efetiva da lei do sorteio militar aprovada desde 1908? Que é o autor da letra do Hino à Bandeira? Que recebeu o epíteto de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”? Que foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL)? Que foi um dos mentores intelectuais da Liga da Defesa Nacional (LDN)?

Embora esse conhecimento seja bastante significativo, há ainda muito o que se explorar e aprender sobre a trajetória de Olavo Bilac (1865-1918) porque, para além de todas as considerações mencionadas, Bilac foi um homem de propósitos e de ação! Um homem extemporâneo na acepção da palavra, possuidor de sensibilidade poética ímpar e um dos maiores expoentes da poética parnasiana no Brasil.

Nesse mister, a face estética da poesia Bilaquiana funde-se a sua visão de homem, mundo e sociedade almejada de igual maneira para o povo brasileiro. Eis, portanto, o objetivo principal dessa reflexão, ressaltar o Dia do Reservista e, concomitantemente, explorar um pouco mais o perfil desse ilustre brasileiro evidenciando sua práxis cívico-patriótica, notadamente, no primeiro quartil do século XX.

Em que pese seu pai, o Doutor Brás Martins dos Guimarães Bilac, ter servido como Voluntário da Pátria na Guerra da Tríplice Aliança, Bilac não descendia de uma tradicional família militar há época, tampouco se achava aferrado a causas militares stricto sensu, mas aos mesmos valores e princípios patrióticos que devem moldar o caráter do homem de bem, independentemente se suas vestes são civis ou militares.

Não bastasse a maestria poética, Bilac possuía aguçada capacidade de articulação entre nichos distintos da sociedade, especialmente, o jornalístico, o político, o social, o educacional e o militar, talvez por isso tenha vislumbrado a possibilidade de despertar o sentimento patriótico do cidadão brasileiro numa república incipiente e necessitada de coesão social. Para tanto, o fio condutor de Bilac foi o caminho da educação, porém, não se tratava de qualquer educação, senão daquela que objetivasse desenvolver desde cedo a alfabetização da criança e ao mesmo tempo despertar em todos, o amor incondicional à Pátria.

Tal intenção ficou evidente não só nas diversas conferências que proferiu ao longo de sua jornada, mas também em suas variadas obras literárias, por exemplo: A Terra Fluminense – Educação Cívica – produzida em conjunto com Coelho Neto1:

(Sic)

A Terra

Para bem amar a Pátria, é preciso conhecel-a bem. Só quem já estudou todos os seus recursos, só quem já admirou todas as suas bellezas é que póde ter o coração cheio da sua imagem e ser capaz de por ella dar a própria vida. A Pátria é mais do que a família, porque a felicidade de todas as familias depende da bondade com que a terra alimenta os seus filhos, e da sua segurança que é a segurança de todos, e da sua paz que permitte o trabalho calmo e productivo de cada um (1898, p.5).

Corrobora o ideário patriótico de Bilac, o chamamento dirigido à juventude, especialmente, aos jovens estudantes das Faculdades de Direito e Medicina de São Paulo, nos idos de 1915. Na oportunidade, a verve poética de Bilac serviu de fio condutor para situar o seleto público estudantil à realidade vivida pela grande maioria da população brasileira que, a seu escrutínio, estava distante do civismo, do patriotismo e da educação moral, como expresso em seu discurso “EM MARCHA!”2:

(Sic)

Não vos deixeis deslumbrados do magnifico progresso d'esta cidade e d'este Estado: São Paulo não é todo o Brazil; e a verdadeira grandeza de um paiz não é a sua riqueza. [...] Ainda há muita ventura e dignidade nas casas em que não ha muito pão; mas nada ha, quando não ha amor e orgulho. O que me amedronta é a mingua de ideal que nos abate. Sem ideal, não ha nobreza de alma; sem nobreza de alma, não ha desinteresse; sem desinteresse, não ha cohesão; sem cohesão, não ha pátria (1915, p.4).

Bilac alinhou seu discurso à causa cívico-patriótica, porém, ainda hoje há quem pergunte em tom cético, por que Bilac, oriundo do meio civil foi escolhido para Patrono do Serviço Militar? Que tecitura teria constituído a trama dos fios invisíveis que o ligaram solenemente ao Exército Brasileiro?

Por certo, esse questionamento não está restrito apenas à sociedade civil e revela o interesse em ampliar o legado de Bilac, dando maior visibilidade aos seus propósitos de ver consolidado o Serviço Militar Obrigatório no Brasil como instrumento promotor da elevação humana. Nesse viés, o poeta responde à própria indagação, asseverando:

(Sic)

Que é o serviço militar generalizado?

E' o triumpho completo da democracia; o nivelamento das classes; a escola da ordem, da disciplina, da cohesão; o laboratório da dignidade própria e do patriotismo. E' a instrucção primaria obrigatória; é a educação civica obrigatória; é o asseio obrigatorio, a hygiene obrigatória, a regeneração muscular e psychica obrigatória (ibidem, p.6).

Vê-se, portanto, que o pensamento de Bilac em relação ao Serviço Militar extrapolava a restrita preparação do homem para a defesa da Pátria, de fato, a lente Bilaquiana focava na interface formativa do cidadão-soldado: instruído, educado, cívico, patriótico e hígido.

Vivenciando o contexto da Primeira Grande Guerra (1914-1918), que espraiava notícias da Europa para os demais continentes, o Brasil, preliminarmente, declarou neutralidade ao conflito, mas administrando as adversidades provocadas por grupos internos tendentes a apoiar os dois lados beligerantes – a Tríplice Entente (Reino Unido, França e Império Russo) e a Tríplice Aliança (Império Austro-Húngaro, Alemanha e Itália) – devido aos diversos matizes que compunham a sociedade brasileira.

Nesse recorte histórico, os afundamentos de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães em 1917 foram decisivos para que o governo rompesse com a lógica da neutralidade e participasse efetivamente da guerra. Por inferência, é razoável aceitar a premissa de que a campanha cívica empreendida por Bilac nos idos de 1915/1916 foi, também, estratégica.

A despeito do relevante trabalho realizado, Bilac reconhecia não se tratar de ideário genuíno seu a necessidade de despertar os jovens acadêmicos para a questão cívico-patriótica. Humildemente, o poeta atribuía a empreitada como sendo obra de tantos outros brasileiros que irmanados a ele faziam coro pelo mesmo ideal de ver praticada a Lei do Sorteio Militar que, desde de 1908, ano de sua criação, não havia sido executada.

Tal consciência ficou evidenciada ao agradecer o jantar oferecido pelo Clube Militar em sua homenagem:

(Sic)

A vossa generosidade exaggera o préstimo do meu nome e a importância do meu trabalho. Nada fiz, que merecesse tão alto prêmio. O que disse e fiz já estava no pensamento de todos os brazileiros bons, e já tinha sido proclamado. A lei do sorteio militar, que sempre reputei benéfica para a necessidade da cohesão nacional, está decretada ha mais de sete annos; e já muitos homens de espirito clarividente e de leal patriotismo, estudando e annunciando os perigos que nos ameaçam, apontaram o ' remédio e a salvação. Nada inventei, nada criei.[...] (1917, p.18)3.

Ao percorrer a extensa obra literária de Bilac é possível perceber três temas que lhe eram muito caros: a educação, o patriotismo e o civismo. Certamente, essa tríade serviu de mote para aproximar cada vez mais o jornalista e escritor do Exército Brasileiro, especialmente no tocante à temática do Serviço Militar Obrigatório.

Bilac estava convencido de que a Força era peça fundamental para viabilizar a construção social do novo homem brasileiro e, por conseguinte, a sociedade próspera que ele vislumbrava. É flagrante em seu discurso intitulado “A Defesa Nacional” a confiança que Bilac depositava na missão a ser cumprida pela instituição:

(Sic)

Precisamos de instrucção militar e de exercito nacional, para a defesa do nosso território e da nossa civilização, e para a defesa individual do organismo physico e moral de cada Brazileiro.[...] queremos um exercito verdadeiramente nacional, sendo a própria nação composta de cidadãos-soldados, em que cada Brazileiro seja o próprio exercito e o exercito seja todo o povo. (ibidem, p.138).

A rigor, se por um lado em seus escritos pode-se encontrar a relevância do papel destinado ao Exército, noutro diapasão, é possível afirmar não se tratar de uma visão monocular, porque teceu críticas contundentes em diversas ocasiões. De todo modo, Bilac protagonizou um período de mudança não só no contexto social brasileiro, mas acima de tudo, contribuiu para reforçar a vocação natural e histórica do Exército Brasileiro no seio de nossa sociedade, ensejando desde sua origem a díade do “Braço Forte e da Mão Amiga”.

Justa, portanto, é a homenagem feita pelo Presidente Castello Branco, por intermédio do Decreto N° 58.2224, de 19 de abril de 1966, nos termos que se seguem:

Considerando

- que Olavo Bilac foi o grande propugnador do Serviço Militar obrigatório, em favor de cuja adoção emprendeu uma campanha de âmbito nacional nos anos de 1915 e 1916;

- que seus poemas, a letra do Hino da Bandeira e seus discursos vibrantes, constituem, o catecismo cívico da juventude brasileira;

- que o sentimento do dever cívico se inspira nos momentos em que a Pátria tem a oportunidade de rememorar os seus vultos maiores, buscando em suas atitudes exemplos para as novas gerações,

Decreta:

     Art. 1º É considerado "Patrono do Serviço Militar" - Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac.[...] (Brasil,1966).

Vida eterna ao Patrono do Serviço Militar, que o seu ideário seja luz perene a fatiar a consciência de cada integrante da Força Terrestre, de ontem, de hoje e de sempre!

Parabéns, Reservistas!

OBS: Aos interessados em conhecer um pouco mais da trajetória de Bilac disponibilizo o link https://drive.google.com/drive/folders/19xCOM73936YQgC1kQDyUktKLeNBgOS75?usp=sharing onde constam as referências usadas no presente ensaio, além de um compilado das obras literárias do Patrono do Serviço Militar.

1 NETO, Coelho; BILAC Olavo. A TERRA FLUMINENSE. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro. 1898.

2 BILAC, Olavo. Discursos – Na Faculdade de Direito e na Faculdade de Medicina de São Paulo. Casa Vanorden. São Paulo, 1915.

3 BILAC, Olavo. A Defesa Nacional – Discursos. Rio de Janeiro, 1917.

4 BRASIL. Decreto n° 58.222, de 19 de abril de 1966. Institui Olavo Bilac como Patrono do Serviço Militar. Disponível em <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-58222-19-abril-1966-398813-publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 10 novembro 2024.

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