Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear do Exército Brasileiro - 80 anos de desafios e constante evolução

Autor: Cel Alexandre Marcos Carvalho de Vasconcelos

Segunda, 09 Outubro 2023
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O ano de 2023 marca os 80 anos da Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN) do Exército Brasileiro (EB), proporcionando uma valiosa oportunidade para uma ampla reflexão sobre sua história, sua estrutura e o seu futuro.

O marco oficial da especialidade na Força coincide com a instalação do Centro de Instrução Especializada (atual Escola de Instrução Especializada - EsIE), em 1943, onde foi criado o Curso de Guerra Química, tendo como objetivo preparar as tropas da Força Expedicionária Brasileira.

Na sequência, fruto da necessidade de uma Organização Militar vocacionada para o tema, foi ativada, no ano de 1953, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a Companhia Escola de Guerra Química (Cia Es G Q), atual 1º Batalhão (Btl) DQBRN. Esta Unidade constituiu a primeira tropa operacional de DQBRN no âmbito das Forças Armadas brasileiras.

Em 1987, integrantes da EsIE e da Cia Es G Q foram empregados no acidente com o radioisótopo Césio 137, ocorrido na cidade de Goiânia (GO). Neste episódio, militares e civis realizaram o monitoramento radiológico de pessoal e auxiliaram na retirada e no tratamento de rejeitos radioativos.

Fruto dos ensinamentos colhidos no acidente, o Exército verificou a necessidade de renovar seus equipamentos e aperfeiçoar sua doutrina. Desta forma, em 1987, a Cia Es G Q foi extinta, sendo ativada a Cia DQBN, com maior efetivo e melhor preparo de seus quadros para a defesa diante da ameaça QBN.

A partir do ano de 1989, o Exército passou a participar do Exercício Geral do Plano de Emergência das Usinas Nucleares de Angra, em coordenação com o Plano de Emergência Complementar do Comando Militar do Leste (CML) e com o Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON).

Desde o ano de 2001, o 1º Btl DQBRN realiza o monitoramento e a desconquítaminação preventiva do material oriundo das tropas que cumpriram missão de paz fora do território nacional. Este trabalho foi realizado nos contingentes que participaram de missões de paz no Timor-Leste (UNMIT) e no Haiti (MINUSTAH).

Demonstrando novamente o seu pioneirismo, no ano de 2002, o EB aprovou o seu Sistema de DQBN (SDQBNEx). Este Sistema apresentou uma série de novas considerações para o assunto e teve por finalidade dotar a Força de um instrumento capaz de responder prontamente a uma ameaça e/ou desastre QBN.

Em 2003, foi criado o 1° Pel DQBN, atual Cia DQBRN, sediado na cidade de Goiânia (GO). Esta estrutura tem por característica principal estar apta para ser empregada nas missões de apoio às Operações Especiais e em conjunto com outras tropas de DQBRN.

No ano de 2007, nos Jogos Panamericanos, ocorreu a primeira ação de apoio de DQBRN em um Evento Desportivo no Brasil. Nesta atividade, a Cia DQBN realizou varreduras QBN nas instalações do Complexo Deodoro na Vila Militar, durante as competições desportivas, sendo o EB a única Força presente.

Outro marco para a especialidade foi o apoio da Cia DQBN no primeiro curso de capacitação coordenado pela Organização para Proibição de Armas Químicas (OPAQ) realizado no Brasil, em 2009. Desde então, a DQBRN do EB vem apoiando, com material e instrutores, as atividades da Organização que possibilitam um profundo debate e capacitação de quadros na prevenção contra armas químicas.

Destaca-se ainda que a DQBRN foi empregada nos 5º Jogos Mundiais Militares (2011) e na Conferência para o Desenvolvimento Sustentável (RIO+20) 2012. Durante os eventos, foram utilizados meios de comando e controle, descontaminação, reconhecimento e identificação.

Com a confirmação dos Grandes Eventos no território nacional para o período 2013-2016 (Copa das Confederações 2013, Jornada da Juventude 2013, Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016), coube ao Exército Brasileiro a responsabilidade pela coordenação do emprego das frações de DQBRN. Desta forma, ocorreu a reformulação da estrutura existente com: a atualização do Sistema de DQBRN (2012), o aumento do número de especialistas (evolução da Cia DQBN para 1º Btl DQBRN e do Pel DQBN para Cia DQBRN), a aquisição de modernos equipamentos, a reestruturação e criação de cursos e estágios de DQBRN, a montagem do laboratório NB-3 no IBEx e o aperfeiçoamento da doutrina em vigor.

Como consequência, no ano de 2013, teve início o emprego da nova estrutura de DQBRN do EB. As atividades trouxeram uma série de lições aprendidas, além de terem possibilitado o debate sobre o tema e a potencialização das ações interagências com especialistas dos níveis federal, estadual e municipal.

Outro fato relevante ocorreu no ano de 2015, em que a DQBRN do EB foi empregada na segurança da visita do Papa no Paraguai, constituindo-se a única fração especializada, no âmbito das Forças Armadas brasileiras, empregada fora do território nacional.

Em 2020, como consequência da declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, a estrutura de DQBRN do Exército foi empregada no apoio da sociedade no combate à COVID-19.

A partir de 2021, o Brasil passou a fazer parte de um grupo de 21 (vinte e um) países que possuem laboratórios designados pela OPAQ para receber amostras ambientais oriundas de situações de conflito, de inspeções de rotina ou de outros eventos envolvendo armas químicas. Essa distinção foi alcançada pelo trabalho de excelência dos integrantes do Laboratório de Análises Químicas (LAQ) do Instituto de DQBRN do Centro Tecnológico do Exército (CTEx).

Este breve artigo apresentou alguns eventos que retratam o trabalho incessante dos especialistas de DQBRN, que contribuíram, positivamente, para a preservação da imagem das Instituições Brasileiras no âmbito nacional e internacional. Evidenciando, ainda, o pioneirismo do Exército em diversas atividades e tarefas de DQBRN no âmbito das Forças Armadas brasileiras.

Finalmente, foram 80 anos em que a estrutura evoluiu, conforme o seu emprego, para fazer frente aos diversos desafios que se apresentaram. Desta maneira, a DQBRN continuará o seu constante processo de aperfeiçoamento com o objetivo de dotar o EB de frações aptas para o apoio da sociedade brasileira diante de possíveis ameaças QBRN.

Comentarios

Comentarios
Muito enriquecidor! Eu não conhecia a história da DQBRN do nosso Glorioso EB! E o Artigo do Caríssimo Cel Vasconcelos foi uma inestimável fonte de conhecimento sobre o assunto.
Excelente sintese acerca dos 80 anos da estrutura DQBRN no Exército Brasileiro.
Excelente matéria. Exército Brasileiro, nosso orgulho.

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