DE “NOVA LISBOA” A “BRASÍLIA” A INTERIORIZAÇÃO DA NOVA CAPITAL DO BRASIL

Autores: Flávio Augusto Nogueira Noronha
Sexta, 11 Abril 2025
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A maior cidade construída no mundo no século vinte foi Brasília. Atualmente, ela é a terceira mais populosa do Brasil. Sua idealização é muito antiga. O longo percurso experimentado entre a vontade de transferir a capital brasileira para o centro do País e a sua efetiva implementação durou 211 anos, partindo da idealização de Francesco Tosi Colombina, em 1749, e de Sebastião José de Carvalho e Melo (futuro Marquês de Pombal), tendo este, em 1750, sugerido a mudança para o vale do Amazonas, e chegando à sua inauguração, em 1960, por Juscelino Kubitscheck de Oliveira.

Por mais de duzentos anos, no período colonial, São Salvador da Bahia de Todos os Santos foi a capital do Brasil. No ano de 1749, Francesco Tosi Colombina elaborou a Carta da Capitania de Goiás e Mato Grosso, fazendo nela constar a ideia de mudar a capital do País para a região central da Capitania de Goiás. Remetida ao então governador da referida Capitania e futuro vice-rei do Brasil, Dom Marcos José de Noronha e Brito, o Conde dos Arcos, este concedeu a licença para a exploração do que seria um “caminho novo”.

Em 1763, Salvador foi sucedida pela São Sebastião do Rio de Janeiro, cuja mudança visava ao maior controle do fluxo de ouro e de pedras preciosas, o que dificultaria os extravios que prejudicavam a Coroa Portuguesa.

Apesar de sua manutenção no litoral, a ideia que persistia era a de promover estratégica mudança, direcionando o centro do poder para o interior da colônia, o que, segundo os seus defensores, produziria maior segurança contra os avanços e pretensões de ataques de conquistadores. Com a Inconfidência de Minas Gerais, os revoltosos pensavam em transferir a capital para a Vila de São João del-Rei, fazendo-a “A Capital do Brasil Independente”. Falava-se também na criação de cidade chamada de “Nova Lisboa”, para corte e assento do rei no Planalto Central.

Em 1823, ano Constituinte do Império, o projeto de deslocamento da capital foi apresentado por José Bonifácio de Andrada e Silva, contendo a sugestão de chamar-se de “Brasília” ou de “Petrópole” a nova cidade, sendo que as mineiras São João del-Rei e Paracatu, e a goiana Formosa, disputavam a preferência de escolha, com Paracatu em vantagem, em razão do apoio por ela recebido do autor do projeto. Outra proposta foi apresentada, sugerindo o nome de “Pedrália” para a nova capital.

Em 1852, Holanda Cavalcanti, impulsionou a proposta de José Bonifácio no Senado, com o apoio de João Lustosa da Cunha Paranaguá, tendo este sugerido a mudança para a Vila de Monte Alto, na Bahia, atual Palmas de Monte Alto. Apesar destes importantes movimentos, a proposta “adormeceu” novamente.

Entre os anos de 1870 e 1875, o Senador José Martins da Cruz Jobim defendeu a necessidade da mudança, tendo sugerido sua localização no Vale do Paraíba do Sul, ideia que não prosperou.

Em 1877, Francisco Adolfo de Varnhagen fez a primeira viagem ao Planalto Central, visando localizar o ponto ideal de sua instalação ou até indicar novas regiões. Percorreu o trajeto em lombo de burro e sugeriu o nome de “Imperatória” para a nova capital, não podendo envidar esforços para a sua construção, haja vista sua morte, um ano depois, em 1878.

No ano de 1891, os debates sobre a interiorização receberam força advinda da nova Constituição, tendo havido proposta no sentido de chamar de “Cidade Tiradentes” a nova capital.

Em 1892, o Presidente Floriano Peixoto lançou ao trabalho 21 homens, conferindo ao grupo o nome de “Comissão Exploradora do Planalto Central”, o qual foi liderado por Luiz Cruls, major honorário do Exército Brasileiro, com a missão de desbravar o inóspito sertão de Goiás e demarcar a área do futuro Distrito Federal, apontando a que consideraria como a ideal.

Na manhã de nove de junho, a Comissão partiu do Rio de Janeiro a caminho de Goiás, sendo o primeiro trecho percorrido por trem, com destino a Uberaba (MG). O segundo trecho deu-se nos lombos de burros, com passagem por Catalão, Ipameri e Bonfinópolis, continuando por Santa Luzia e pela Vila Formosa de Imperatriz, hoje denominadas, respectivamente, de Luziânia e Formosa.

Louis Ferdinand Cruls registrou tudo o que viu: fauna, flora e hábitos dos interioranos do Brasil; orologia, condições climáticas e higiênicas de toda a região; natureza do solo, qualidade da água, e se a havia em profusão; apresentando ao Presidente, em 1894, o quadrilátero que demarcou durante nove meses de viagem empreendida, e cinco mil, cento e trinta e dois quilômetros percorridos. Seu estudo ficou conhecido como “Relatório Cruls”.

Uma segunda Comissão foi criada em 1894, cujo relatório foi apresentado em 1896, tendo sido Cruls, por seus prestimosos trabalhos e por sua participação em defesa da República que o naturalizou, promovido à posição de tenente-coronel honorário.

Entre os anos de 1893 e 1919, alguns projetos de lei foram apresentados, os quais não prosperaram, chamando a atenção o que autorizava “(...) o Poder Executivo a transferir para a Cidade de Minas, atual Belo Horizonte, a Capital da República dos Estados Unidos do Brasil.

A Constituição de 1934 tratou explicitamente da transferência da capital para o Planalto Central, havendo a sugestão de que esta se chamasse “Cabrália”. Outras sugestões, vencidas, sugeriam a transferência para a cidade de Campinas (SP) e para Belo Horizonte (MG).

Letra Magna de curtíssima duração, recebeu novo texto, no qual falou-se tão somente da temporariedade da manutenção do Distrito Federal na cidade do Rio de Janeiro.

A Constituição Federal de 1946, por sua vez, tornou imperativa a mudança para o Planalto Central, o que moveu o Presidente Eurico Gaspar Dutra a indicar o General Djalma Polli Coelho para comandar nova Comissão Técnica, visando ao “Estudo da Localização da Nova Capital da União”, o qual desincumbiu-se da missão dois anos após, escolhendo a região do Planalto Central Goiano como a ideal, o que ratificou o trabalho de Cruls. “Vera Cruz” foi o nome sugerido pela missão, a ser dado ao novo Distrito Federal. Nas discussões sobre o melhor local para a sua construção, houve sugestões indicando o Triângulo Mineiro; Goiânia (GO); algum ponto a ser determinado no Planalto Central; e Uberlândia (MG). Em 1951, Uberlândia voltaria a ser indicada por um parlamentar.

Projeto de Lei da referida Comissão foi apresentado, tendo, durante três anos, recebido emendas, até convolar-se na Lei 1.803/53. Ao final deste ano, criou-se a “Comissão de Localização da Nova Capital Federal”, presidida pelo General de Brigada Agnaldo Caiado de Castro.

Em 1954, Café Filho assumiu a Presidência da República, mantendo os trâmites legalmente previstos para a mudança da capital. Entretanto, alterou o comando da Comissão, passando-o para o Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, tendo este, ao lado de cem voluntários, se desincumbido de localizar a nova metrópole, e, também, planejado a sua construção e mudança.

Dentre cinco sítios propostos, de similares tamanhos e marcados em cores diversas, escolheu-se o de cor inusual - o “Sítio Castanho”, vindo José Pessoa a sugerir que a cidade fosse chamada de “Vera Cruz”.

Em 1955, o Presidente Café Filho aprovou os estudos, tendo o candidato JK prometido, em um comício na cidade de Jataí (GO), que, se eleito Presidente da República, construiria a nova capital, incluindo esta promessa no que chamou de “Meta-Síntese”. Vitorioso, cumpriu seu compromisso, determinando a Oscar Niemeyer e a Lúcio Costa que transformassem em realidade o que, até então, era um sonho, tendo, também, ordenado a implementação de Comando do Exército responsável pela área da nova sede do Governo Federal, e pelo estabelecimento de medidas e planos para dotá-la de segurança e de defesa.

O decreto do ano de 1957 marcou a abertura de caminho para a criação de Comando de Área e Região Militar na Capital Federal, o que efetivamente restou implementado quatro dias após a criação de Brasília, em 25 de abril de 1960, com a implantação do “Comando Militar de Brasília e 11ª Região Militar”.

Do sonho, desejos, e trabalho do Marquês de Pombal e de Francesco Tosi Colombina, iniciados em 1749 até a sua convolação em realidade, passaram-se duzentos e onze anos. Em 1960, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, diferenciando-se de todos os seus antecessores no comando do Executivo Nacional, construiu, efetivamente, no Planalto Central Brasileiro, a NOVA CAPITAL DO BRASIL: BRASÍLIA.

Base de Pesquisa:

Livro “Comando Militar do Planalto na Interiorização da Capital”, de autoria de Flávio Augusto Nogueira Noronha e de Luiz Augusto Rocha Nascimento (Neste livro há inúmeras remessas a sites pesquisados).

CATEGORIAS:
História

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