Comunicando a Intervenção Federal: o paradoxo informacional da confiabilidade verde-oliva

Autores: Cel R1 Carlos Frederico Gomes Cinelli
Segunda, 11 Junho 2018
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As características da Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro – setorial, consentida e com cargo de titularidade de um militar da ativa – representaram um ineditismo não apenas político e jurídico na História do Brasil. Todas as áreas funcionais que, tradicionalmente, apoiam as tomadas de decisão corporativas viram-se também diante de uma situação peculiar: seus contornos de atuação precisaram ser rapidamente definidos e, ainda mais importante, estipulados, preservando a natureza e as especificidades das Forças Armadas. Não foi diferente com a Comunicação Social, à qual foram impostos dois importantes desafios iniciais.

O primeiro deles foi estabelecer a adequada arquitetura de relacionamento entre os diferentes atores do processo de comunicação, que agora haviam passado à subordinação de um único ente centralizador. E quais seriam esses atores? Embora alguns permeiem eventualmente mais de um nível de decisão (como é o caso da Secretaria de Segurança), em linhas gerais, foi visualizado, para os fins da Comunicação Social, o seguinte escalonamento:

- no nível político, o Gabinete de Intervenção Federal (AsCom GIF);

- no nível estratégico, o Comando Militar do Leste (E7-CML);

- no nível operacional, o Comando Conjunto (D7-CCj) e a Secretaria de Segurança (AsCom SeSeg);

- no nível tático, as três Forças Armadas, o Comando-Geral de Polícia Militar e a Chefia de Polícia Civil.

Desse modo, os quatro atores dos níveis político, estratégico e operacional (AsCom GIF, E7-CML, D7-CCj e AsCom SeSeg) foram selecionados como depositários da responsabilidade pelo alinhamento do discurso. A centralização do comando e controle na Segurança Pública, que é inerente à Intervenção e, em tese, vantajosa para a gestão organizacional sob a ótica do pensamento cartesiano militar, não resultou em unicidade plena de narrativa da Comunicação Social. A razão pela qual não se conseguiu atingir aquele estado é simples: não era desejável que assim ocorresse. Embora todos os entes comunicadores tenham objetivos estratégicos comuns, como a recuperação da capacidade operativa dos órgãos de segurança pública e a redução dos índices de criminalidade, as searas de cada um guardam particularidades que precisam ser satisfeitas, sob pena de comprometimento de sua vocação prioritária.

É necessário, por exemplo, que o Comando Conjunto comunique seu protagonismo no contexto das operações de garantia da lei e da ordem "integradas" (aquelas nas quais as Forças Armadas atuam em parceria com os órgãos de segurança pública); da mesma forma, é importante que seja permitido à Polícia Militar, operando isoladamente, divulgar sua efetividade como força policial autônoma em aperfeiçoamento, pois esse é justamente um dos objetivos estratégicos estabelecidos. Igualmente, quando se trata de implementar medidas de reorganização interna da Polícia Militar, é imperioso que esse tema seja de exclusiva competência da Secretaria de Segurança, embora o efeito da maioria das medidas tenha reflexos diretos na atuação de outros órgãos do processo de Intervenção, em especial, do Comando Conjunto. Compreendidas as necessidades de comunicar, vis-à-vis, os traços inerentes ao perfil de cada um dos componentes, as exclusividades temáticas foram assim estabelecidas:

- AsCom GIF: medidas estruturantes da Intervenção, especialmente as de caráter político (ex.: negociação de recursos financeiros federais, normas de reformulação do sistema prisional, normas para fluxo de carreira de policiais, medidas administrativas para reequipamento das Polícias etc.), e a agenda do Interventor Federal;

- E7-CML: assuntos sobre o Exército no Rio de Janeiro, mas que não envolvam a execução de operações integradas de GLO e os temas ligados aos estados do Espírito Santo e Minas Gerais (também integrantes do CML);

- D7-CCj: operações integradas de GLO;

- AsCom SeSeg: temas eminentemente afetos às Polícias Civil e Militar (ex.: reestruturação de Unidades de Polícia Pacificadora, operações policiais isoladas, recompletamento de efetivos, investigações em curso etc.).

Estabelecida a arquitetura da comunicação, o segundo desafio que se impôs (de caráter permanente e sensível aos humores da opinião pública) foi o de romper a tendência decorrente dos altíssimos níveis de confiabilidade das Forças Armadas no âmbito da população brasileira: o desejo de ver tropas armadas e meios bélicos personificando a última nesga de esperança pelo restabelecimento da paz social. Trata-se, em verdade, de um efeito colateral do reconhecimento que é auferido às instituições militares, ou seja, um preço a ser pago pela legitimidade e pelo respeito conquistados em longa caminhada de profissionalismo, de apego a valores morais sólidos e de gestão eficiente de recursos públicos.

Embora esse fenômeno não seja necessariamente danoso para o processo de Intervenção, ele pode induzir as pessoas à percepção enganosa quanto à verdadeira eficácia de cada uma das medidas implementadas. Nesse sentido, a ideia-força de que "a Intervenção é federal e não militar" não é, por si só, suficientemente impactante para dissipar, do inconsciente coletivo, a imagem dos soldados atuando permanentemente e de modo ostensivo nas operações em força, que resultem na prisão de delinquentes e na recuperação de territórios alegadamente controlados pela criminalidade. Como resultado, os cidadãos fluminenses em geral – e a imprensa em particular – buscam enfatizar, por vezes hiperbolicamente, quaisquer demonstrações da aplicação dessas "virtudes marciais", percebidas como panaceia à grave crise de segurança do Estado: blindados, helicópteros, militares fortemente armados e efetivos massivos de tropas constituem o principal alvo dos noticiários.

Tal como o filósofo grego Diógenes, que, durante o dia, percorria as ruas empunhando uma lamparina e alegando estar em busca de um homem honesto, as luzes lançadas sobre o hard power da Intervenção, embora obtenham o apelo imagético que estimula o consumo da notícia, também não contribuem para a construção de uma lógica inescapável que precisa ser comunicada adequadamente: a de que o legado sustentável pós-Intervenção bebe na fonte das medidas estruturantes e não na dos balanços de apreensões de drogas e armas que, embora necessários, não são nem suficientes, nem determinantes para os resultados de longo prazo desejados.

Desse modo, estabelece-se um paradoxo informacional: a ênfase da mídia concentra-se nas ações ostensivas, que são emergenciais, porém espetaculosas, quando a chave para a consecução dos objetivos estabelecidos repousa nas ações de gestão (no soft power), que são silenciosas, todavia consistentes, mas que, em geral, padecem da notoriedade que lhes deveria fazer justiça. Como a imagem das Forças Armadas funciona indubitavelmente como lastro de credibilidade ao processo de Intervenção Federal, é preciso não apenas preservá-la, mas também divulgá-la adequadamente, uma vez que a comunicação constitui fator determinante para o sucesso.

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Comentarios

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Ficou interessante e muito explicativa as informações desse momento particular da Intervenção. Muito lúcido e esclarecedor.
Artigo abrangente no seu conteúdo, sintético na sua análise e oportuno no seu aspecto. Parabéns ao autor pelo seu poder de síntese e de prospeccao.
Caro coronel Gomes Até que se diga em contrário o exército ao lado das outras duas forças armadas, são tidas como as maiores fontes de credibilidade para todos os brasileiros de bem. Acima até da igreja católica, segundo pesquisa de opinião pública. Por outro lado ao vislumbrar o futuro da Pátria nesse conturbado momento de indecisão e insegurança política as coisas entram no campo do inimaginável. Só de pensar em outros novos comandantes das três forças para o próximo governo já causa arrepios. Hoje temos discursos a fartar querendo dizer que passados 30 anos da nova constituição, temos o direito de liberdade resgatado. É “EXpressionante”, tem até de inventar palavra para exprimir tamanho espanto. Chama o exército, chama o exército, assim que ocorre quando essa tal de liberdade pra não dizer libertinagem sai dos limites sustentáveis de controle. Após sanados os problemas ainda que momentâneos, os atores de plantão voltam em cenas novamente para dizer que documentos descobertos incriminam nada mais nada menos de que um ex-presidente honrado, por crimes da ditadura militar. De maneira alguma pode-se pensar que as FFAA ao final, sempre fazem o papel de bobas da corte, ainda que é notório que as mesmas conversas de bobos com ladinos paladinos da pseudo liberdade sempre prevaleçam. Muito difícil de entender como um apenado pode fazer campanha presidencial e instituições de pesquisas venham incitar a discórdia através de resultados seletivos. Chegou ser constrangedor aquele apresentador do jornal da Band tentar entender o porque daquele ex-deputado receber regime domiciliar e ainda poder voltar aos trabalhos na câmara. Quanto ao Brasil que todo brasileiro quer para o futuro é o verdadeiro, pois o “fakeZIL” que hoje está não é o Verde, amarelo, branco e azul do honrado Pavilhão nacional. De último espera-se que essa credibilidade assumida do povo para com as FFAA não seja um sentimento não correspondido para o futuro tão próximo.
É importante frisar que, analogamente, o general americano David Petraeus usou nas cidades iraquianas uma massa de tropas junto dos núcleos urbanos, o que gerou inicialmente uma crescente dos números de embates e de mortos e feridos, no entrando, a longo prazo, os resultados apareceram na diminuição dos níveis de violência e no retorno das cidades ao controle da polícia iraquiana.
A atuação das Forças Armadas nesse episódio do Rio é meramente politiqueira e serviu para enterrar temporariamente a combalida "Reforma da Previdência". Após o quadro eleitoral definido, em Outubro, a intervenção vai cessar, sob a falácia de "já ter atingido seus objetivos", e a reforma passará. Só isso!
Intervenção federal e a corte mais alta de justiça deste país não estão afinadas com o mesmo diapasão!? alguém está atravessando o samba, ou melhor dizendo a marcha, por nunca ter aprendido marchar. Não é assim que a banda toca não. O senhor da batuta não executa a regência certa por falta de conhecimento ou por falta de respeito à Pátria mesmo. Estaria tudo dominado? Temo no porvir obscuro quanto aos interesses dessa ditadura não declarada, mas notória. Isso não vai dar certo. Ou as partes se entendam dentro da partitura constitucional soberana ou parem com provocações levianas que só instilam mais incertezas nesse cenário já todo combalido. Quem será o próximo bem muito próximo dos togados imbatíveis a usar aquela faixa que um digníssimo ex, se recusou a passa-la para o seu sucessor? "Brazuela" está curiosa de saber!
Os “intoGáveis”. Estreia hoje em todo o território nacional. Episódio de hoje – Mostra a tua cara de pau Brasil. Estrelando. A alma viva mais honesta deste país e os intoGáveis de uma corte suprema totalmente acovardada. Público alvo: um povo desabilitado de sua maior arma que é a sua inteligência própria e com os efeitos colaterais de uma fala antiética. Togado diz em pleno exterior que prisão de ex-presidente é ilegal. Por fala em legalidade, uma ex-presidente destituída de seu cargo, anda por aí firme e forte com seus direitos políticos assegurados. Isso se deve à atitude de um “intoGável” e sua interpretação única de leitura constitucional. Será que 99,9999........% do restante de toda população brasileira não sabe nada de nada e nem mesmo escovar os próprios dentes?

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