No artigo do dia 15 de março, neste blog, comentamos que, ao organizar as Forças Armadas com base na hierarquia e na disciplina, a Constituição Federal estabeleceu o rumo geral para nossa conduta, individual e coletiva, quando julgarmos afrontados os nossos valores. Esse preceito nos marca tão fortemente que ambos os atributos das corporações militares se transformaram em valores máximos da cultura castrense. Com a peculiaridade de que eles se reforçam mutuamente, pois o valor disciplina assegura eficácia ao conceito de hierarquia e este exige que aquela seja inquestionável.
Essas considerações nos remetem a outro conceito, que, com disciplina e hierarquia, constitui o tripé de apoio de nossas instituições e dinamiza o ciclo do fortalecimento recíproco deles: a chefia.
A maneira mais eficiente de chefiar passa pela influenciação da vontade dos subordinados, sempre sob a égide da ética – isto é, por meio da persuasão e do exemplo, sem artifícios de manipulação do seu arbítrio –, com vista a motivá-los para se comprometerem com o êxito das atividades de que participem, garantindo os resultados desejados e dando-lhes sustentação ao longo do tempo. Ademais, com eles sentindo-se corresponsáveis pelos destinos de suas Unidades e da Força, por expansão do espírito de corpo. E assumindo um compromisso que, geração após geração, vem garantindo às Forças a sua natureza de instituições nacionais permanentes. A essa maneira de conquistar o comprometimento dos subordinados por meio da mobilização ética de suas vontades podemos chamar chefia com liderança.
Chefia é o exercício do dever institucional de empregar a autoridade e o poder do cargo para conduzir pessoas, visando ao atingimento de metas.
Chefia com liderança é a chefia acompanhada da habilidade de influir sobre as vontades, a fim de conquistar o comprometimento das pessoas e conseguir que interiorizem atitudes que as predisponham a adotarem, continuadamente, comportamentos benéficos para a organização. É o modo de chefiar que harmoniza autoridade do chefe e vontade dos subordinados.
Uma vez obtido esse comprometimento, ocorre um fenômeno que muito instiga o observador atento do fantástico universo das relações interpessoais, no campo da conexão de autoridade e obediência. Trata-se de fatos que se situam muito além da gestão formal dos processos institucionais e que denotam a situação resultante da predominância da participação ativa do pessoal nos destinos da organização, por decisão livre e por vontade de todos, cumprindo as ordens como se elas fossem emanadas deles próprios. É uma circunstância de união e ação conjunta dos impregnados do mesmo sentimento de corresponsabilidade, indutor da entrega do melhor de cada um no desempenho das funções e dos encargos, com disciplina espontânea e iniciativa. Pode-se dizer que é um estado da organização consequente do comprometimento coletivo.
A disciplina que maximiza o desempenho, individual e coletivo, no cumprimento das normas e ordens não é a que se manifesta sob a forma de docilidade, de obediência passiva, que nada cria nem aperfeiçoa salvo o que tenha sido determinado pelo chefe ou pelas normas. A iniciativa obediente – disciplina dos comprometidos – avança bem adiante do cumprimento protocolar do expressamente ordenado. É o modo de obediência que complementa e dá vida concreta ao senso de iniciativa.
Esse conceito tem aplicação plena no ambiente de chefia com liderança. Ele define bem o tipo de disciplina desejável, que induz os executantes a agirem conforme as intenções gerais da ação global de chefia, mesmo em situações inusitadas e na ausência de ordens específicas que não se podem aguardar devido à premência de tempo, ao senso de oportunidade e ao nível de delegação.
Nós, militares, a denominamos, com muita pertinência, disciplina consciente.
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