Caçadores de like? O que o Exército busca com seus perfis nas mídias sociais?

Autor: Cel Cesar Augusto Lima Campos de Moura

Quarta, 11 Outubro 2023
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As mídias sociais tornaram-se um dos principais espaços contemporâneos de debate, diversificando opiniões e expandindo narrativas. Inspirando-se no trabalho diário da equipe que faz a gestão dos seis perfis e canais (Twitter, Facebook, Instagram, LinkedIn, YouTube e Telegram) do Exército Brasileiro nas mídias sociais, este artigo lança luz sobre a presença e a atuação do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) nestas mídias, e sua busca por um diálogo franco e transparente com a sociedade brasileira.

Em tempos de comunicação instantânea, é imperativo que as instituições públicas se adaptem às dinâmicas e expectativas das redes sociais. Para o Exército Brasileiro, isso significa mais do que simplesmente estar presente: envolve engajar, informar e, o mais importante, ouvir.

A nova Ágora digital, como as mídias sociais têm sido frequentemente apelidadas, oferece uma plataforma inigualável para diálogo e engajamento, mas semelhante à Ágora grega, onde os antigos filósofos buscavam a verdade e a sabedoria, a Ágora digital está repleta de grandes desafios. Neste espaço, as discussões são frequentemente reduzidas a curtas mensagens, tweets ou posts, atualizando o status, na maioria das vezes, limitando a capacidade de explorar temas complexos em profundidade. Além disso, a anonimidade[1] relativa nas mídias sociais pode encorajar o discurso agressivo e desrespeitoso, prejudicando a qualidade do debate.

O imediatismo, a polarização e a busca incessante por likes e seguidores muitas vezes obscurecem a essência do debate substantivo. Como observado pela professora Margarida Kunsch, a comunicação pública requer autenticidade, transparência e responsabilidade, valores que o Exército Brasileiro tem no DNA de sua comunicação digital.

Desde seu ingresso nas mídias sociais, em 2009, o Exército Brasileiro tem se esforçado para criar um canal direto de interação com os brasileiros. A adesão às plataformas de mídias sociais não apenas ampliou a divulgação das atividades da Instituição, mas também permitiu a transmissão de informações para diversos públicos, estreitando a relação do Exército com uma audiência diversificada, abrangendo inúmeras faixas sociais e etárias, outras instituições e até uma audiência internacional.

Com mais de 12 milhões de seguidores em suas plataformas, a Instituição desponta como importante player digital público no Brasil. Os canais e perfis do Exército nas mídias sociais possuem uma linha editorial que contempla, não apenas divulgar as atividades da Força, mas também se empenha em transmitir valores, prestar serviço ao cidadão e, mais crucialmente, dar transparência da sua missão em prol da defesa da Pátria e do desenvolvimento nacional.

O ambiente das mídias sociais vem amplificando, significativamente, a voz do cidadão comum em diversos campos do debate público. Essas plataformas de relacionamento digital também oferecem oportunidades para o envolvimento cívico e político, permitindo que as pessoas participem de discussões políticas, compartilhem informações e se expressem.

Atualmente, as mídias sociais têm intensificado e polarizado o debate político no Brasil e no mundo. A estrutura desses ambientes digitais frequentemente favorece a criação de bolhas de filtros, onde as pessoas são expostas principalmente a informações que confirmam suas próprias crenças políticas. Isso pode levar à desinformação e ao isolamento de perspectivas diferentes. A disseminação de notícias falsas e desinformação é comum nas mídias sociais, o que pode agravar a polarização ao espalhar informações incorretas ou tendenciosas. Neste contexto, surgem grupos dos mais diversos enfoques políticos que usam as mídias sociais para descredibilizar seus oponentes, disseminando informações difamatórias ou distorcidas.

Em um cenário político polarizado, o Exército enfrenta desafios significativos em relação à sua estratégia de comunicação, principalmente nas mídias sociais. A Força, no entanto, se mantém fiel ao seu compromisso com a nação de promover um diálogo aberto e construtivo, apresentando-se como um pilar de estabilidade e fiel aos preceitos constitucionais.

Em um país tão digitalizado e receptivo às mídias sociais como o Brasil, o Exército Brasileiro está atento aos feedbacks gerados por essas plataformas sociais. De posse de uma equipe multidisciplinar na operação das mídias sociais, o Centro de Comunicação Social do Exército está em constante estudo das métricas geradas pelas redes sociais.

A análise do desempenho dos canais e perfis do Exército, nos primeiros seis meses de 2023, nos trazem diversos ensinamentos. Um olhar mais atento aos números nos permite entender a magnitude e os contornos da presença da Força nas plataformas digitais. A redução do alcance e engajamento na plataforma Facebook, que já foi líder absoluta no cenário das redes sociais, está alinhada com uma tendência global de migração dos usuários para outras plataformas mais dinâmicas. Entretanto, é preciso considerar que o Facebook ainda serve como um valioso repositório de informações e conteúdos, funcionando muitas vezes como uma ponte para outros canais da Instituição.

Neste primeiro semestre de 2023, o canal do Exército na plataforma de vídeos YouTube demonstrou estar em sintonia com as tendências de consumo de conteúdo. Com 108 publicações, o destaque foi para o formato Shorts, comprovando a crescente preferência por conteúdos mais curtos e dinâmicos. A manutenção da audiência média em 2 minutos demonstra que, apesar da brevidade do conteúdo, a mensagem central está sendo transmitida e retida.

O perfil @exercito_oficial no Instagram, plataforma conhecida por seu apelo visual, mostrou, por meio de 714 publicações, um alcance de 95.240.519 pessoas. O engajamento total, próximo dos 7 milhões, corrobora a assertividade da estratégia adotada pelo Exército. Essa plataforma sofreu um expressivo crescimento no período de 72 horas, logo após o término da eleição de 2022. Entre 30 de outubro e 3 de novembro, o perfil decolou dos 2,2 milhões para 8,4 milhões de seguidores, tudo de forma orgânica e não estruturada pela Força. A queda de mais de 1,3 milhão de seguidores é um ponto que merece atenção, mas é compreensível quando estudamos mais a fundo todo o fenômeno ocorrido no período antes citado. Em geral, ao considerarmos o alcance e o engajamento alcançados, percebemos que o conteúdo gerado tem qualidade e relevância, conseguindo ressoar em uma vasta audiência.

Já no X, antigo Twitter, plataforma conhecida por sua natureza efêmera e rápida, o perfil do @exercitooficial, com um alcance de 77,2 milhões, ainda demonstra ser relevante para a estratégia de comunicação da Força. A média de seguidores entre abril e julho de 2023 indica que, embora haja um leve desgaste, a plataforma ainda mantém um público fiel e engajado.

Além de compartilhar informações e interagir com a sociedade, o Exército Brasileiro também adota uma abordagem proativa no que diz respeito ao monitoramento do que o público fala em seus canais e perfis institucionais nas mídias sociais. Todo o conteúdo gerado, sejam comentários, mensagens ou interações, é acompanhado de perto pelos setores de comunicação social e outros setores correlatos.

Esse monitoramento permite à Instituição avaliar a recepção das informações compartilhadas e entender como o público reage a elas. Isso ajuda a adaptar a estratégia de comunicação e garantir que o conteúdo seja relevante e eficaz. Além disso, o monitoramento identifica tendências e tópicos de interesse para a sociedade, o que pode orientar a criação de conteúdo futuro.

Outro aspecto fundamental do monitoramento é a coleta de feedback da sociedade. O Exército Brasileiro valoriza as opiniões e preocupações dos cidadãos e percebe as mídias sociais como um canal valioso para receber esse feedback. Comentários, perguntas e sugestões feitas pelo público são considerados e ajudam a pensar sobre ações futuras da Instituição.

O processo de monitoramento também desempenha um papel importante no combate à desinformação. Ao identificar informações falsas ou enganosas que estão circulando nas mídias sociais, o Exército pode tomar medidas rápidas para desmenti-las e fornecer informações mais precisas e verificadas. Isso, não apenas protege a segurança nacional, mas também ajuda a construir uma imagem de confiabilidade e credibilidade para a Instituição.

É importante ressaltar que os dados apresentados foram coletados e rigorosamente tratados para análise, com o auxílio de ferramentas especializadas. As capacidades de big data e inteligência artificial apoiam o trabalho constante dos analistas digitais do CCOMSEx. As ferramentas de análise de métricas das plataformas, incluindo o X (Twitter), Meta (Facebook e Instagram), YouTube Studios e LinkedIn Analytics também apoiaram esse processo meticuloso que nos permitiu obter insights valiosos sobre a relevância e o impacto da presença nas mídias sociais do Exército Brasileiro.

Em última análise, o monitoramento e o feedback recebidos nas mídias sociais são uma parte essencial do compromisso do Exército Brasileiro com o diálogo aberto e transparente com a sociedade. Através dessa abordagem, a Instituição demonstra que está atenta às preocupações e interesses da população, está disposta a ouvir e colher aprendizados com este diálogo. Isso fortalece ainda mais a relação entre o Exército e a sociedade, construindo uma base sólida e compreensão mútua.

Não é possível negar que diante de um cenário político-social polarizado, como o que vivenciamos no Brasil, o Exército Brasileiro, assim como diversas instituições públicas, enfrenta desafios significativos em relação à sua imagem nas mídias sociais. Como uma instituição de Estado, o Exército deve manter-se neutro em questões políticas e partidárias, focando na defesa da nação e no bem-estar da população. No entanto, as redes sociais muitas vezes se tornam palco de debates acalorados e polarizados, nos quais o Exército pode ser alvo de críticas e ataques.

É importante lembrar que as mídias sociais não são apenas uma ferramenta de comunicação, mas também um espelho da sociedade. Elas refletem as divisões e tensões presentes na sociedade, e o Exército Brasileiro não está imune a esse contexto. Em momentos de crise política e polarização, a instituição poderá ser alvo de questionamentos e críticas, muitas vezes injustas e infundadas, como já ocorreu em outros momentos da história recente do Brasil.

No entanto, é fundamental que o Exército mantenha sua postura de instituição de Estado, alinhada com os anseios da sociedade e comprometida com a defesa da democracia e da Constituição. A manutenção do diálogo com o povo brasileiro através das mídias sociais é essencial neste contexto. Mesmo diante de críticas e ataques pontuais que refletem o momento político, o Exército deve continuar a usar as redes sociais como uma ferramenta para informar, educar e interagir com a sociedade. O diálogo aberto com a população é uma forma eficaz de esclarecer mal-entendidos, corrigir informações falsas e reforçar o compromisso da Instituição com a transparência e a prestação de contas.

Em suma, no cenário de comunicação contemporânea, o Exército Brasileiro, inspirado pelos princípios da comunicação pública, tem em vista construir pontes e estreitar laços com a sociedade. Em tempos de "caçadores de likes", a autenticidade e a responsabilidade emergem como os pilares da comunicação genuína.

 

[1] Estado ou qualidade de estar anônimo, ou seja, de permanecer desconhecido ou não identificado. É a condição de não ter a identidade pessoal revelada ou de estar oculto.

 

Referência bibliográfica:

- COSTA, Ana. Redes Sociais: Anatomia do conteúdo. Rio de Janeiro: Novaterra, 2019.

- COSTA, Ana. Redes Sociais: Estratégias de Monitoramento. Rio de Janeiro: Novaterra, 2015.

- Júnior, E. G. S. L., de Sousa, G. N., Junior, A. F. L. J., & Lobato, F. M. F. (2020). Ferramentas para análise de mídias sociais: Um levantamento sistemático. Anais do Computer on the Beach, 11(1), 389-396.

- Klein, G. H., Guidi Neto, P., & Tezza, R. (2017). Big Data e mídias sociais: monitoramento das redes como ferramenta de gestão. Saúde e Sociedade, 26, 208-217.

- KUNSCH, M. M. K. (2018). A comunicação estratégica nas organizações contemporâneas. Media & Jornalismo, 18(33), 13-24.

- MARTINO, L. M. S., & MARQUES, Â. C. S. (2018). Ética, mídia e comunicação: relações sociais em um mundo conectado. Summus Editorial.

- MATTA, C. A. R. (2017). A comunicação estratégica na gestão da comunicação de crise nas organizações e o papel do profissional de assessoria de imprensa (Doctoral dissertation).

- SCHAEFFER, C. L. (2018). Marketing e as novas mídias: produção de conteúdo a partir do monitoramento de mídias sociais. International Journal of Business Marketing, 3(2), 003-015.

- SILVA, T., & STABILE, M. (2016). Monitoramento e pesquisa em mídias sociais: metodologias, aplicações e inovações. Análise de redes em Mídias Sociais. São Paulo: Uva Limão, 237-260.

 

Comentarios

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Acho que vocês não estão lendo os comentários!
Muito bom artigo. Parabéns ! Espero que o orgão encarregado de acompanhar as referências, positivas e negativas, ao EB não adote a antiga postura de não rebater, para não polemizar, e, principalmente, seja um órgão eficiente de assessoramento oportuno, franco e leal da comunicação do EB com o povo brasileiro.
PARABÉNS, pelo Artigo!

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