BDGEx: a Geoinformação à disposição do combatente

Autor: Cap QEM Isabella Dantas Lima

Segunda, 02 Setembro 2024
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A revolução do acesso à Geoinformação
No passado, o acesso à geoinformação era um obstáculo considerável para o combatente brasileiro. Os usuários militares desconheciam a variedade de produtos disponíveis, limitando-se às cartas físicas que conheciam. Estas, por sua vez, elaboradas pelas Organizações Militares Diretamente Subordinadas (OMDS) à DSG, precisavam ser solicitadas por meio de mapotecas e enviadas pelos Correios. Esse processo lento e burocrático, além de gerar custos adicionais, limitava o acesso à informação e impedia o planejamento preciso das operações militares.

A partir da década de 1990, a Cartografia vivenciou uma profunda transformação com a mudança de paradigma de produção, de analógico para digital. A adoção de softwares específicos e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) revolucionou a maneira como mapas e cartas são construídos, armazenados, utilizados e compartilhados.

A era analógica era marcada por um processo manual e meticuloso de produção de mapas e cartas em papel, com o uso de equipamentos mecânicos. Já a cartografia digital se baseia em dados geográficos coletados eletronicamente e armazenados em bancos de dados, permitindo a criação e edição de geoinformação em softwares especializados, aprimorando a acurácia, flexibilidade e interatividade.

Acompanhando a evolução tecnológica, em 2006, o Banco de Dados Geográfico do Exército (BDGEx) surgiu como uma solução inovadora para organizar e distribuir a geoinformação. Fruto da ideia de catálogo, a plataforma online democratizou o acesso ao acervo da DSG, permitindo que o militar, de acordo com seu nível de autorização, baixasse as cartas do Exército Brasileiro e consultasse diretamente os produtos disponíveis pela internet.

Embora o BDGEx tenha agregado ferramentas valiosas ao longo dos anos 2010, como o mosaico multiescala e recursos mais avançados de navegação, seu acesso ainda se limita a navegadores conectados à internet. Essa restrição impede, por exemplo, a consulta offline dos dados, crucial para missões em áreas remotas ou com conectividade instável.

Disponibilidade e adoção do BDGEx em plataformas móveis
O BDGEx, criado antes da era dos smartphones e tablets, está passando por uma atualização crucial para atender às demandas da era digital e às necessidades dos combatentes modernos. Com o avanço das novas tecnologias e a implementação de um aplicativo oficial para plataformas móveis, o sistema terá uma capacidade ainda maior de impactar e aprimorar a rotina dos combatentes. Esse aplicativo proporcionará agilidade na busca por informações e na tomada de decisões em situações dinâmicas, além de facilitar o compartilhamento de dados geoespaciais entre os membros da equipe durante as operações, otimizando a comunicação e a coordenação das ações.

Vale ressaltar que o militar utiliza, na sua vida particular, tecnologias embarcadas em dispositivos móveis para navegação em atividades particulares, deixando de utilizar guias impressos que eram muito utilizados até os anos 2000. Isso demonstra uma abertura ao aprendizado e à utilização de novas tecnologias por parte desses profissionais. No entanto, há receio de que a adoção de tecnologias possa fazer com que o militar dependa cada vez mais dela do que dos fundamentos.

Um ponto de virada neste cenário é a chegada da nova geração de combatentes, nascida na era da internet, os quais possuem uma afinidade natural com recursos digitais. Essa familiaridade é um ativo valioso para impulsionar a adoção de soluções tecnológicas para ampliar a consciência situacional do militar.

Olhando para o futuro: IA e RA
Olhando para o futuro, o BDGEx está se preparando para incorporar inteligência artificial (IA) e realidade aumentada (RA), elevando a experiência do usuário e ampliando as possibilidades de aplicação da geoinformação. A integração dessas tecnologias possibilitará o desenvolvimento de ferramentas interativas e imersivas, simplificando a visualização e análise dos dados geográficos, e abrindo caminho para a criação de novos serviços e produtos inovadores.

A inteligência artificial será um valioso aliado na busca por informações, facilitando a usabilidade do BDGEx de várias maneiras. Por exemplo, um chatbot estará disponível para oferecer suporte ao usuário, fornecendo respostas rápidas e precisas às suas dúvidas a qualquer hora do dia. Além disso, a IA personalizará a experiência do usuário, sugerindo produtos e serviços relevantes que atendam às suas necessidades específicas, e realizará análises de dados para identificar padrões e tendências, fornecendo insights valiosos para a tomada de decisões.

Por sua vez, a realidade aumentada permitirá que o usuário visualize informações geográficas sobrepostas à realidade física. Por exemplo, apontando o celular para uma carta em papel, o usuário poderá visualizar informações adicionais sobre o local, como nomes de ruas, pontos de interesse e até mesmo imagens históricas. Além disso, ao navegar por um ambiente real com informações georreferenciadas, o usuário receberá instruções em tempo real e poderá visualizar informações relevantes sobre o local, como rotas, pontos turísticos e estabelecimentos comerciais.

Conclusão: a Geoinformação à disposição do combatente do século XXI
O BDGEx representa um marco na evolução da geoinformação militar. Ao longo dos anos, o BDGEx tem facilitado o acesso à informação geoespacial para o planejamento e condução de operações militares. Com a implementação de um aplicativo móvel oficial e a perspectiva de incorporar inteligência artificial e realidade aumentada, o BDGEx está se preparando para oferecer uma experiência ainda mais completa e eficiente, alinhada às demandas da era digital e às necessidades dos combatentes modernos.

O BDGEx: Mais do que um banco de dados, um portal para a disseminação da geoinformação.

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Quando entrei para o Exército, as únicas cartas que manuseava eram raras, velhas e cedidas sob cautela, algo como documento de acesso restrito. Nela se debruçavam os alunos para medir distâncias, traçar azimutes, planejar uma patrulha, muitas vezes à luz da lanterna ou até vela, às vezes sob um poncho.

Hoje, tudo mudou tanto e parece tão mais fácil, contudo, na selva, ainda acho melhor um militar guia indígena e, se possível, com tecnologia agregada à patrulha.

Parabéns Cap Isabella, seu artigo é bastante interessante e ilustrativo.

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