Atividade física x síndrome metabólica: crenças e verdades nesse 1º de setembro

Autores: TC Lima Júnior
Segunda, 01 Setembro 2025
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Nessa semana, comemoramos o 1º de setembro, dia do Educador Físico no Brasil. A data celebra os profissionais responsáveis por promoverem a saúde e o bem-estar através da prática de atividades físicas e esportivas. A data foi escolhida por coincidir com a regulamentação da profissão em 1998. Saudamos todos os profissionais do Exército Brasileiro (EB), calções pretos, que trabalham em prol da atividade física e da saúde na Instituição.

Para que possamos abordar essa temática, a síndrome metabólica e a atividade física são questões que afetam diretamente a saúde e o bem-estar dos militares em geral. O estudo de Churilla (2008), do American College Sports Medicine (ACSM – sigla em inglês), traduzido de forma livre para “Colégio Americano do Esporte e Medicina” e publicado junto ao American Journal of Lifestyle Medicine (Revista Americana de Medicina do Estilo de Vida), aborda a seguinte definição:

A síndrome metabólica é o agrupamento de cinco fatores de risco cardiovascular (CV) que incluem glicemia de jejum alterada (GJ) ou diabetes tipo 2 (DT2) evidente, sobrepeso/obesidade (particularmente obesidade abdominal), hipertrigliceridemia (triglicerídeos altos), colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL-C) baixo e hipertensão (HTN). Um indivíduo que possui três ou mais desses fatores de risco CV seria diagnosticado com síndrome metabólica. As causas subjacentes da síndrome metabólica são numerosas e complexas; no entanto, pesquisas sugerem que as duas forças motrizes por trás do desenvolvimento da síndrome metabólica são a obesidade abdominal e a resistência à insulina.

Ressalta-se, de acordo com o autor, em sua revisão de evidências, que a síndrome metabólica está diretamente relacionada à execução ou não execução de exercícios físicos:

Outros estudos que monitoram a atividade física por períodos mais longos geralmente encontraram uma associação mais forte entre atividade física regular e menor prevalência ou incidência de síndrome metabólica. Estudos intervencionistas são limitados, mas sugerem que o exercício regular reduz a incidência de síndrome metabólica. A quantidade e a intensidade da atividade física necessárias para prevenir ou reverter a síndrome metabólica ainda não foram determinadas definitivamente.

Nesse sentido, é importante salientar que os fatores mencionados estão diretamente relacionados aos controles existentes na prática consciente e constante da atividade física, de forma a prevenir ações e problemas relacionados à obesidade abdominal e a resistência à insulina. A própria ACSM, em suas “Diretrizes para Testes de Exercício e Prescrição”, do inglês, indica que:

Todos os adultos saudáveis ​​com idade entre 18 e 65 anos devem praticar atividade física aeróbica de intensidade moderada por, no mínimo, 30 minutos, cinco dias por semana, ou atividade aeróbica de intensidade vigorosa por, no mínimo, 20 minutos, três dias por semana. Todos os adultos devem praticar atividades que mantenham ou aumentem a força e a resistência muscular por, no mínimo, dois dias por semana.

Além disso, o Instituto de Pesquisa da Capacitação Física do Exército (IPCFEx), conforme divulgado no website do próprio Instituto, realiza pesquisa científica intitulada de “Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica e Novos Biomarcadores de Síndrome Metabólica em Militares do EB”, cujos resultados esperados são: identificação de proteínas apontadas como potenciais biomarcadores de síndrome metabólica e de doença hepática gordurosa não alcoólica, além de associá-las com o grau de esteatose hepática e com cada fator de risco da síndrome metabólica, bem como com o nível de aptidão física dos militares. Dessa forma, o EB ajuda a combater as CRENÇAS sobre essa temática e trabalha em prol da redução e do acompanhamento dos casos de síndrome metabólica na Instituição.

A atividade física está diretamente relacionada com a síndrome metabólica, porque é a partir da execução da atividade física, devidamente orientada por um profissional de Educação Física, formado e credenciado pelo Conselho Regional de Educação Física (CREF) existente em todo o Brasil, que se pode estabelecer o controle de saúde e bem-estar das pessoas. Dessa forma, o EB, anualmente, forma profissionais dessa área, vocacionados para orientar e gerar SAÚDE, BEM-ESTAR e FELICIDADE para todos.

Mas de que crenças estamos falando? Existe uma visão de que a atividade física intensa gera lesões nos militares que executam o O TIAI (do inglês HIIT – High Intensity Interval Training) do nosso manual de Treinamento Físico Militar (TFM)! Temos a lenda de que a musculação é só para jovens e de que deixa a mulher “masculinizada”.

Vamos por partes! Estélio Henrique Martin Dantas, especialista formado na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), em 1979, é considerado um dos grandes profissionais de Educação Física do Brasil, além de ter participado da criação do CONFEF (Conselho Federal de Educação Física) e do CREF. Em sua obra “A Prática da Preparação Física”, a “bíblia” da Educação Física, o autor aborda a questão dos Métodos de Treinamento, tal como o treinamento intervalado aeróbio e anaeróbio, assim como os princípios da atividade física, em especial o da individualidade biológica.

Dantas (1986) especifica que os treinamentos intervalados aeróbio e anaeróbio são de fundamental importância para o desenvolvimento da capacidade pulmonar, melhorias no funcionamento da força do coração e outras questões relacionadas ao bem-estar hormonal e ao gasto energético pós-exercício conhecido como Excess Post-exercise Oxygen Consumption" (EPOC), traduzido para “Consumo Excessivo de Oxigênio Pós-Exercício”, que é o aumento do consumo de oxigênio ocorrido após o exercício físico, onde o corpo continua a gastar mais calorias para retornar ao estado de repouso. Não é à toa que a ACSM indica exercícios de alta intensidade toda a semana para a manutenção e a melhoria da condição física.

Além disso, o IPCFEx já executou diversas pesquisas nos Projetos Teste de Aptidão Física (TAF), que reforçaram que a CRENÇA de que o TIAI gera lesões é FALSO. Obviamente, os militares deverão buscar a devida orientação junto ao Oficial “calção preto” de sua Organização Militar (OM) para a execução do treino, conforme os príncipios do treinamento da adaptação e individualidade biológica, assim como deverão checar, junto ao médico da OM, se estão APTOS para a atividade física com seus respectivos exames realizados. A VERDADE é que o TIAI é muito importante na manutenção dos padrões físicos e de saúde, evitando que o militar tenha a síndrome metabólica.

Quanto à CRENÇA da musculação “só para jovens” e não para mulheres, face à suposta “masculinização”, podemos citar a ACSM, que indica o treino de musculação ao menos duas vezes por semana, tanto para homens quanto para mulheres, de 18 a 65 anos. Na ciência da Educação Física, o treinamento de resistência muscular, a musculação, já é considerado necessário para todas as pessoas adultas, inclusive idosos e mulheres. Não obstante, o “artigo do ano” da ACSM, de 2023, reforçou os seguintes benefícios: saúde mental, cardiorrespiratória e vascular; capacidade oxidativa; e força e potência. Além disso, também reduz o risco de mortalidade independente de exercícios aeróbicos, melhora o prognóstico do diabetes tipo 2, reduz a perda muscular relacionada à idade e aumenta a quantidade de atividade física que idosos realizam fora da rotina de exercícios. Nesse sentido, o IPCFEx realiza o monitoramento da capacitação física de militares de ambos os sexos da Linha de Ensino Militar Bélica (LEMB), onde a CRENÇA de que a mulher fica “masculinizada” é combatido.

Jones (2025), no artigo publicado no Health Psychology and Behavioral Medicine (Psicologia da Saúde e Medicina Comportamental), com o título (tradução livre do autor) de “Fatores que influenciam o exercício regular em mulheres jovens: um estudo de pesquisa que avaliou as preferências e motivadores para exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular”, concluiu que:

Programas para mulheres jovens adultas devem considerar a incorporação de exercícios de resistência, pois este estudo demonstra que eles podem evocar motivação que pode levar à participação regular. Estratégias de autorregulação foram associadas à adesão a exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular, destacando a potencial importância da inclusão em intervenções futuras.

Assim, destaca-se que a atividade física para mulheres é fundamental para a manutenção da saúde e do bem-estar, preservando a massa magra, a saúde cardiopulmonar, os níveis e controles hormonais e outros fatores relacionados ao tratamento não medicamentoso com o remédio chamado “atividade física”. As mulheres militares que praticam a atividade física, devidamente orientada, estarão mais aptas para o cumprimento de suas missões profissionais e pessoais, melhorando a sua saúde, bem-estar e não se enquadrando na síndrome metabólica.

Mas, e o equilíbrio de tudo? Já combatemos asCRENÇAS, mas indago para essa questão da VIDA EM EQUILÍBRIO! Saúde, bem-estar, atividades físicas, atividades pessoais, atividades profissionais estarão sempre entrelaçadas no conjunto maior que é VIVER BEM E FELIZ! Devemos buscar sempre qualidade de vida, saúde e longevidade, com a utilização de todos os instrumentos para esse fim!

Por fim, sejamos saudáveis em todos os aspectos da vida, utilizando a ATIVIDADE FÍSICA para vencer a SÍNDROME METABÓLICA e permitir que a SAÚDE seja o melhor remédio para todos nós militares e família militar!

Fontes e referências:

- CHURILLA, James R.; ZOELLER JR, Robert F. Physical activity: physical activity and the metabolic syndrome: a review of the evidence. American Journal of Lifestyle Medicine, v. 2, n. 2, p. 118-125, 2008.

- DANTAS, Estélio H. M. A prática da preparação física. In: A prática da preparação física. 1986. p. 325-325.

- DO EXÉRCITO, ESTADO MAIOR. Manual de campanha EB70-MC-10.375: Treinamento Físico Militar. 2021.

- JONES, Chloe S.; SPRING, Katherine E.; WADSWORTH, Danielle D. Factors influencing regular exercise in young women: a survey study assessing the preferences and motivators for aerobic and muscle-strengthening exercise. Health Psychology and Behavioral Medicine, v. 13, n. 1, p. 2465613, 2025.

- https://acsm.org/education-resources/trending-topics-resources/physical-activity-guidelines/

- https://www.ipcfex.eb.mil.br/pesquisas-cientificas-da-capacitacao-fisica/saude-e-qualidade-de-vida/em-andamento

CATEGORIAS:
Saúde

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Excelente texto. Atividade física x operacionalidade e a Síndrome Metabólica. A importância da atividade física não só para a profissão e sim para o dia a dia.

Muito bom artigo.. informações bastante relevantes. 

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