As 3 lições do General Douglas MacArthur para a aplicação da liderança militar estratégica no ambiente informacional atual

Autor: Cel Luiz Augusto Fontes Rebelo

Segunda, 24 Julho 2023
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            No início do século XXI, os estudos sobre a liderança aumentaram significativamente, uma vez que o líder é um indutor de mudanças organizacionais em um ambiente inundado de incertezas, complexidades e instabilidade. Esse ambiente é composto dos predicados marcantes e conjugados de um mundo VUCA ∕ BANI.

            Na década de 1990, o termo VUCA foi idealizado e modelado pela US Army College, em um cenário pós-Guerra Fria. VUCA é o acrônimo das palavras em inglês: Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, ou seja, em português, volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.

            Mais recentemente, o futurista norte-americano Jamais Cascio, em seu artigo publicado “Enfrentando a Era do Caos”, apontou a desestruturação que impera em uma realidade que não é simplesmente de instabilidade, mas sim, uma realidade em que é praticamente impossível entender o que está acontecendo e prever o que vai acontecer. Nesse artigo, Cascio alcunhou o termo BANI (Brittleness, Anxiety, Nonlinearity and Incomprehensibility) para ilustrar o cenário em que chefias, lideranças e colaboradores estão vivenciando, nos dias atuais. Tal acrônimo está perfeitamente alinhado e convergente ao VUCA.

            A disseminação de Fakes News, a forma de se comunicar com as mídias sociais e as suas repercussões são características comuns na Era da Informação, potencializando o cenário VUCA ∕ BANI. Atento a essas mudanças no ambiente informacional e a imprescindibilidade de influenciar e modificar comportamentos, o Comandante do Exército Brasileiro expediu em sua Diretriz (2023-2026) a necessidade de prosseguimento na implantação da Comunicação Estratégica, com vistas a alinhar, integrar e sincronizar o discurso no âmbito do EB, maximizando os esforços e resultados de ações que contribuam para o atingimento dos Objetivos Estratégicos do Exército (OEE) e a contraposição de narrativas desfavoráveis à Força.

            É nesse contexto disruptivo e complexo que será realizada uma sucinta análise das lições de estratégia e liderança militar da carreira exitosa do General do Exército norte-americano Douglas MacArthur, no espectro informacional.

            MacArthur faleceu em 1964 e, obviamente, não vivenciou as incertezas e as rápidas mudanças do século XXI. Não obstante, os seus ensinamentos e as suas lições, no campo da liderança militar estratégica, não se tornaram obsoletos e anacrônicos em relação aos reveses atuais.

            Dentre as suas principais lições, merecem relevo três, que são perfeitamente aplicáveis pelos atuais líderes estratégicos e que são o CORE (Combined Operations and Rotation Exercise) deste artigo: assuma riscos no ambiente informacional, domine a arte da comunicação e aprenda a lidar com a imprensa de maneira inteligente.

             Assuma riscos no ambiente informacional

            De forma reducionista, o ecossistema informacional está relacionado com o ambiente interno e com o ambiente externo em que está inserida a Instituição. A capacidade da Força para operar dentro desse ecossistema é uma condição primária e capital para o seu triunfo no espectro informacional. Deve-se gerenciar riscos e buscar combater a desinformação com mais informação (verdadeira). O foco aqui é a opinião pública, centro de gravidade das nossas ações, visando à promoção da credibilidade e da legitimidade da Força e à preservação e o fortalecimento de sua imagem.

            MacArthur, no seu tempo, nos ensina que muitos líderes evitam correr riscos. Eles o veem de maneira negativa e lutam para evitá-lo. Embora MacArthur considere o risco como uma aventura ousada, não era imprudente quando se arriscava, particularmente quando estava investido no cargo de comandante-chefe no TO do Pacífico. Sabia que havia um risco em todas as suas decisões, incluindo a escolha de não agir, com reflexos na opinião pública mundial.

            Domine a arte da comunicação

            Em um mundo VUCA ∕ BANI, a comunicação propositiva, assertiva e eficaz é fundamental para a garantia de uma imagem positiva e fomento da legitimidade e confiança do seu público-alvo, uma vez que as pessoas, cada vez mais, estão ansiosas e inseguras com o volume hiperbólico de informações, muitas delas infundadas (Fakes News e meias-verdades). Alia-se a esse cenário o Mundo PSIC (precipitado,superficial,imediato e conturbado)1, previamente definido pelo General Richard neste blog, para caracterizar o ambiente informacional da atualidade.

            MacArthur é rememorado como um dos grandes oradores da história mundial. Ele transmitia empolgação, grandiloquência e esperança, sendo extremamente persuasivo nos seus discursos. Mas como ele fazia isso? Colocando-se nos próprios discursos, tornando-os um apelo pessoal. O melhor de vários exemplos está no discurso: “Eu voltarei”. No auge da batalha contra os japoneses, no dia 11 de março de 1942, o general recebeu a ordem do presidente dos Estados Unidos para que abandonasse a Península de Bataan, nas Filipinas, sendo uma noite negra para a sua tropa deixada para trás. Dois anos e meio depois, o general retornou, recapturou a península e libertou os prisioneiros, cumprindo a sua promessa.

            Aprenda a lidar com a imprensa de maneira inteligente

            Na Era da Informação, o mundo de hoje é interligado por uma vasta rede de meios de comunicação. Durante 7/7, sons e imagens aparecem instantaneamente nas telas dos celulares oriundas dos quatro cantos do planeta. Qualquer um com um celular na mão se acha investido do manto de jornalista.

            MacArthur foi um dos líderes militares estratégicos mais inteligentes do século XX, pois sabia usar o grande consórcio de mídia a seu favor. De maneira hábil, MacArthur usou sua posição e a relação com a imprensa para conseguir apoio aos objetivos e para pressionar o nível político a fornecer os recursos necessários à realização dos propósitos.

            Conclui-se, assim, que para o aumento da coesão, da credibilidade perante a opinião pública, em um mundo cada vez mais VUCA ∕ BANI e PSIC, cabe ao líder militar estratégico estar ainda mais atento as rápidas metamorfoses e plasticidades do espectro informacional, a fim de utilizar, de maneira sinérgica, as ferramentas da comunicação estratégica para o atingimento dos OEE e a contraposição de narrativas desfavoráveis ao Exército invencível de Caxias.

 

1 NUNES, Richard Fernandez. O Mundo PISC e a Ética Militar. Disponível em: https://eblog.eb.mil.br/index.php/menu-easyblog/o-mundo-psic-e-a-etica-militar.html. Acesso em: 10 mar. 23

Comentarios

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Excelente concerteza são ricos conhecimentos parabéns meu comandante. (Cabo Alex )
Muito bom então aqui no Brasil o exército combateu o garimpo ilegal os desmatamento nas áreas proibida. Minério só pode tirar onde não afeta a nossa água e a natureza. Plataforma da Petrobras sim pode ser Offshore. Se torna mais barato pra quem compra o petróleo. Não afetara a Petrobras porque já vende o petróleo fica bom
Parabéns pelo texto. Excelente abordagem deste problema tão atual e complexo para o Exército e para todos. Cel Alves da Costa, A3/Gab Cmt Ex.
Parabéns meu amigo Cel Rebelo. Gostei. Resumi para mim mesmo em assumir risco, se comunicar e ser inteligente. Sensacional.

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