Durante o período de 31 de julho a 04 de agosto, ocorreu a mais destacada operação militar com tropas do Exército Brasileiro em território estrangeiro no ano de 2023, a Operação Arandu, reforçando o nível de prontidão, adestramento operacional e logístico das tropas de nossa Força Terrestre, especialmente da Brigada de Infantaria Pára-quedista, na qual tive a oportunidade de comandar o Pelotão brasileiro de fuzileiros paraquedistas e compor uma Força-Tarefa Paraquedista Combinada.
Fruto da XIV Conferência Bilateral em 2020, o ciclo de exercícios militares conjunto combinado teve início com exercícios de simulação no Sistema de Batalha Virtual para o trabalho do Estado-Maior Conjunto Combinado no ano de 2022 e culminou com o Exercício de Simulação Viva no Campo de Instrução General Ávalos, em Monte Caseros, na Argentina neste ano de 2023. A operação contou com cerca de 1.400 militares, destes, 300 militares eram do Exército Brasileiro oriundos do Estado-Maior do Exército, do Comando de Operações Terrestres, Comando Militar do Sul, do CCOMSEx, da 2ª Bda C Mec, da 12ª Bda Inf L Amv, da Bda Inf Pqdt, do CAvEx e do COpEsp.
O Pelotão de Fuzileiros Pára-quedista era composto por 43 militares e se constituía de frações do 26º Batalhão de Infantaria Pára-quedista, da Companhia de Precursores Paraquedista e do Batalhão de Dobragem e Manutenção de Paraquedas e Suprimento pelo Ar (BDOMPSA).
Trabalhando no contexto da guerra moderna, em um combate de amplo espectro, com tropas de diferentes naturezas, que atuam simultaneamente em frentes de combates distintas e com situações complexas, um nível de planejamento integrado de todas as funções de combate se faz necessário e - para isso - contou-se com uma ferramenta importante para o desenvolvimento desse exercício, a formação de frações mistas até o nível pelotão; sendo assim, militares brasileiros e argentinos operaram e planejaram juntos, sendo integrantes de uma mesma fração, ressaltando as Ideias-Força desta Operação: FORÇA - UNIÃO - INTEGRAÇÃO.
Com isso, o Pelotão Paraquedista foi composto como uma “Mini FT”, com 12 precursores paraquedistas e 03 especialistas DOMPSA e 28 fuzileiros com a finalidade de mostrar as capacidades da tropa paraquedista de nosso país. Isso me permitiu, como comandante dessa fração, uma maior flexibilidade para o planejamento e execução da operação. Cabe destacar que os precursores tiveram uma integração muito boa com os “Guías Paracaidistas”, sua tropa argentina análoga, permitindo o trabalho de reconhecimento, balizamento e operação das ZLs no país vizinho. Do mesmo modo, os nossos especialistas “DOMPSAs” se integraram à Companhia de Apoio argentina, facilitando todo o trabalho de apoio ao salto durante a operação militar.
Seguindo com os ideais de integração do exercício, recebi um Grupo de Combate argentino e passei um GC para o Pelotão do país amigo. Isso ocorreu já na fase de preparação inicial. Logo, essa união aconteceu desde as ordens iniciais, ensaios, infiltração por salto de paraquedas semiautomático e marcha para a conquista do objetivo. Operação tipicamente aeroterrestre. Coisa Nossa!
Para o assalto à posição, os GCs voltaram aos seus pelotões de origem com o intuito de realizarmos o assalto com munição real (“live fire”), que foi uma experiência única e gratificante, pois mostramos as nossas Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTPs) e observamos a maneira como o Pelotão argentino realiza o assalto. Disso resultaram importantes lições aprendidas de ambas as partes e afirmo que nosso desempenho foi bastante elogiado pelo Comandante da Força Tarefa Aet.
Em uma análise, viu-se uma integração muito grande entre os dois exércitos, que as diferenças de TTPs não atrapalham a interoperabilidade. Cabe destacar que um assunto bastante comentado pelos argentinos foi a possibilidade de criação de uma embrionária Força de Ação Rápida Combinada entre as principais tropas argentinas e brasileiras no mesmo modelo da que já existe entre Argentina e Chile e de alguns países da OTAN, o que evolui para um contexto geopolítico de projeção de força do Brasil em relação aos países da América do Sul, por meio do desdobramento de suas principais tropas operacionais em território estrangeiro, pelo “know how” e constante nível de adestramento, mostrando seus equipamentos e tecnologia de desenvolvimento nacional da Base Industrial de Defesa, como os Fuzis I-A2, a família de Blindados Guarani, os equipamentos do Projeto COBRA, dentre outros.
Ressalto, ainda, a destacada condução das atividades desse exercício combinado, uma vez que desdobramos um grande número de viaturas, material e pessoal sendo muito bem recebidos pela nação amiga. Pode-se salientar que havia uma grande vontade ou até mesmo curiosidade de nossos vizinhos em observar e destacar o modo “brasileiro de combater”.
Dessa forma, nós comprovamos que o Brasil tem posição de destaque internacional, principalmente na América do Sul, no que tange às atividades paraquedistas; sendo exercícios desta magnitude um bom exemplo a ser replicado com outros países sul-americanos e/ou que estejam em nossa esfera de interesse.
Por fim, considero que a ARANDU 2023 trouxe muitos ensinamentos e lições aprendidas para nosso Exército, nos diferentes níveis. No nível mais elementar, o pelotão, observamos que nossa preparação, nossos adestramentos deram a cadência de nosso excelente desempenho, nos fazendo crer que o treino difícil torna o combate mais fácil. Ademais, esta insigne operação permitiu ao soldado paraquedista entender, de forma mais clara, a importância de sua missão, de seu invicto Exército e do imensurável valor de sua Pátria. Brasil Acima de Tudo!
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