Na recente pandemia da COVID-19, esteve em voga o termo “VUCA”, acrônimo que agrega os constructos Volatililty (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade), conforme explicado por Deranian (2021). Nesta realidade pós-pandêmica, este artigo possui como objetivo discutir os conceitos de resiliência e antifragilidade, sobretudo como componentes de estratégias para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Originalmente, a sigla VUCA estava mais vinculada à análise do ambiente dos negócios das organizações e a fatores controláveis, convergindo para o contexto imprevisível, instável, dinâmico e de convergência ao caos (Calvosa & Franco, 2022). No entanto, Cascio (2021) propôs a substituição do VUCA pelo cenário BANI, derivado de: Brittle (frágil), Anxious (ansioso), Nonlinear (não linear) e Incomprehensible (incompreensível).
Figura 1 – distinção entre os mundos VUCA e BANI
VUCA |
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BANI |
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Fonte: o autor (2024).
Por condizer com o ambiente contemporâneo, Cascio (2021) assegura que o acrônimo BANI é mais adequado para o ambiente de transformações, além da complexidade caracterizada como caótica. O mundo BANI destaca-se pela necessidade da resiliência aos líderes e demais pessoas, por ser um sistema frágil e carregado de ansiedades (Cascio, 2021).
A humanidade é marcada pela superação de inúmeros desafios, desde a pré-história aos tempos atuais, não deixando de ditar o ritmo das nossas vidas com uma constante fonte de estresse (Baihé, 2020). Na dinâmica do mundo moderno, baseado em mudanças e incertezas constantes, a mentalidade com a qual se abordam desafios e oportunidades vem se tornando cada vez mais crítica (Farias Júnior, 2023).
É bem verdade pela evolução social e material significativa da humanidade nas últimas gerações, os desafios mais significativos não estão relacionados somente à nossa sobrevivência, mas também pelo progresso profissional (Baihé, 2020). Dessa forma, muito se foi discutido sobre os indivíduos bem-sucedidos profissionalmente se declararem resilientes (Deranian, 2021).
Neste ambiente de mudanças causadas no mundo pela globalização, indivíduos mais resilientes tendem a melhor desempenhar as suas funções e manter condições laborais saudáveis (Bottini, de Paiva & Gomes, 2021). Por essa linha de raciocínio, a resiliência se torna uma das competências fundamentais para o bem-estar físico, psíquico e emocional das pessoas (Baihé, 2020, p. 6).
Em termos conceituais, a resiliência pode ser entendida como um processo contínuo e dinâmico de redução de vulnerabilidades e ampliação de forças (Baihé, 2020). Por outro lado, o conceito apresentado pelo analista de riscos Nassim Taleb pretende aperfeiçoar a visão de como lidar com as adversidades e os erros (Deranian, 2021).
O termo antifrágil é um neologismo proposto por Taleb na obra de 2012: “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos” (Baihé, 2020). Nesse livro, Taleb constatou não existir uma palavra para conceituar o extremo oposto de frágil, o qual não poderia ser apenas robusto, resistente ou resiliente, como as pessoas devam acreditar, mas algo superior, o antifrágil (Baihé, 2020).
Frente aos desafios, o resiliente resiste, sobrevive e permanece igual, enquanto o antifrágil se beneficia das adversidades do estresse e prossegue melhor (Deranian, 2021). No entanto, há coisas que não apenas sobrevivem ou resistem às adversidades e retornam ao seu estado original, mas que se beneficiam das adversidades, sendo superiores às resistentes ou resilientes, ou melhor, antifrágeis (Baihé, 2020).
A antifragilidade surge como um elemento crítico na construção da mentalidade de crescimento, caracterizada pela habilidade de se beneficiar do caos e da mudança, tornando-se mais robusto e capaz diante de situações de instabilidade e incerteza (Farias Júnior, 2023). Estando além da resiliência e da robustez, a antifragilidade é uma característica que está por trás do que muda ao longo do tempo: evolução, cultura, ideias, inovação tecnológica, sucesso econômico, sobrevivência corporativa etc. (Taleb, 2012).
Pode-se dizer na dinâmica da antifragilidade humana, o indivíduo não é apenas capaz de se recuperar dos reveses da vida e voltar ao seu estado original, mas de se beneficiar deles, tornando-se mais forte (Baihé, 2020). A antifragilidade prepara o indivíduo de maneira eficaz para prosperar em um mundo em constante fluxo, proporcionando uma vantagem estratégica em diversos domínios da vida (Farias Júnior, 2023).
Ao assimilar os mecanismos da antifragilidade, pode-se construir um amplo e sistemático guia para a tomada de decisões não preditiva, sob condições de incerteza, nos negócios, na política e na vida em geral, onde quer que predomine o desconhecido, em qualquer situação em que exista aleatoriedade e imprevisibilidade (Taleb, 2012). A pérola, por exemplo, se desenvolve em virtude da invasão de um corpo estranho na ostra, como resultado do mecanismo de defesa utilizado para se defender (Baihé, 2020).
Pelo conceito de antifragilidade pode se compreender ainda a formação do diamante sob condições extremas de temperatura e pressão (Baihé, 2020). Em comparações baseadas na mitologia grega, o resiliente age como a Fênix, renascida ao seu estado normal sempre ao ser destruída, ao passo que o antifrágil está para a Hydra de Lerna, que ao ter uma de suas cabeças cortadas, duas outras nascem no lugar (Taleb, 2012).
Na vida contemporânea, os benefícios não são encontrados somente na resiliência e adaptabilidade, mas também na antifragilidade, capacidade de se extrair proveitos da mudança e do caos (Farias Júnior, 2023). Sendo assim, estando no mundo VUCA ou BANI, há de se esperar que o indivíduo e as organizações estejam capacitados para a recuperação dos reveses da vida, beneficiando-se deles, tornando-se melhores.
Referências
Baihé, M. H. A. (2020). Resiliência na prática. Disponível em: https://www.egape.pe.gov.br/images/media/1665420270_Apostila%20Resilincia%20na%20Prtica.pdf . Acesso em: 1º de maio de 2024.
Bottini, F. F., Paiva, K. C., & Gomes, R. C. (2021). Resiliência individual, prazer e sofrimento no trabalho e vínculos organizacionais: reflexões e perspectivas de pesquisas para o setor público. Cadernos Ebape. Br, 19, 45-57. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1679-395120200091 . Acesso em: 1º de maio de 2024.
Calvosa, M., & Franco, I. (2022). Descomplicando o VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity). Investigação e considerações sobre as publicações A1 da Área 27 do Qualis/ Capes. XLVI EnANPAD - Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. Disponível em: https://anpad.com.br/uploads/articles/120/approved/21c2c25487b9f30af6c4a9f6f10b09b2.pdf . Acesso em: 1º de maio de 2024.
Cascio, J. (2021). A educação em um mundo cada vez mais caótico. Boletim Técnico do Senac, 47 (1), 101-105. Disponível em: https://doi.org/10.26849/bts.v47i1.879 . Acesso em: 1º de maio de 2024.
Deranian, M. (2021). Antifragilidade em tempos de pandemia. Tribuna do ABCD. Disponível em: https://www.tribunadoabcd.com.br/antifragilidade-em-tempos-de-pandemia/ . Acesso em: 1º de maio de 2024.
Farias Júnior, T. A. (2023). O poder da mentalidade de crescimento e a antifragilidade. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, 9 (9), 604 - 609. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/11190/4896 . Acesso em: 1º de maio de 2024.
Taleb, N. N. (2012). Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Objetiva.
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