Além da ética nas incertezas do futuro, o pensamento crítico como arma de guerra

Em um mundo cada vez mais veloz e multipolarizado, surgem alguns acrônimos na tentativa de descrever a atual realidade global, tal qual o mundo VUCA: vulnerável, incerto (uncertain), complexo e ambíguo. Ou o mundo BANI: frágil (brittle), ansioso, não-linear e incompreensível. Nesse interim, o Gen Ex Richard Fernandez Nunes traz, em seu artigo “O Mundo em Acrônimos e a Comunicação Estratégica do Exército”, publicado no EBlog em 27 de Abril de 2022, o conceito de mundo PSIC: premeditado, superficial, imediatista e conturbado, artigo no qual enfatiza a necessidade de novos desafios à liderança em todas as áreas, especificamente no ramo militar.
Esse mundo conturbado faz surgir a grande dificuldade que assola os líderes da atualidade: a tomada de decisões rápidas e efetivas, em um mundo cada vez mais indecifrável, dado às tamanhas variantes do espectro informacional, tecnológico e geopolítico do mundo atual. Como tomar a decisão mais acertada e em tempo, ante a diversidade e velocidade de disseminação da informação e desinformação? Um decisor querer esclarecer a situação por meio de um estudo completo e fidedigno, o fará dispender grande tempo, algo raramente disponível nos tempos atuais.
A velocidade da informação e das exigências decisórias do século XXI estão pressionando o comandante militar cada vez mais a desenvolver a habilidade de agir com presteza e assertividadade, tudo isso imerso em um mar de desinformação e fake news. Para contornar esse problema, a ética se torna um grande guia para evitar sair das zonas que balizam as estruturas de nosso Exército, evitando a perda da coesão, da legitimidade e da legalidade na Força. Ademais, é de compreender que: sem ética, sem prosperidade a longo prazo. Mas e no curto prazo? Como aplicar ética e assertividade para prosperar nesse cenário caótico? Pensamento crítico!
        O crescente volume de informação e desinformação produzida pode gerar nos decisores uma tendência de diminuição da profundidade de avaliação reflexiva. Tal fato poderá induzir a uma análise superficial da real situação e levar ao erro. O pensamento crítico trará profundidade no entendimento dos cenários e diminuirá a visão de túnel, ocasionalmente geradas por informações superficiais, acompanhadas de desinformações.
O pensamento crítico é a capacidade de se refletir mais profundamente sobre determinado problema ou assunto, buscando realizar as conexões desse impasse com diversos agentes e espectros do conhecimento, que possam vir a impactar ou ser impactado por cada ação ou decisão nossa. Que interesses esses agentes podem estar buscando por meio de suas atitudes, de desinformação ou de associações com outros atores do xadrez político ou geopolítico? Uma reflexão mais profunda de cada assunto poderá descortinar diversos vieses e desinformação do mundo PSIC. Se mantida a ética, somada à eliminação de vieses e de desinformação velada, por meio do pensamento crítico, há de haver decisões mais acertadas.
A adoção e disseminação desse conceito de pensamento crítico nas escolas militares e cursos de formação de temporários, pode conter um expressivo potencial de mitigar os efeitos nocivos do mundo PSIC nas decisões militares, já no curso e médio prazo.
A seriedade como uma necessidade e a reflexão como um pressuposto fazem do pensamento crítico uma forma de se entender ainda mais a fundo cada desafio, seja nas pequenas frações, seja já em alto escalão. A compreensão do campo de batalha, dos adversários e suas intenções serão cada vez mais necessárias e isso não será conseguido sem um pensamento crítico, profundo, sério e reflexivo.