Dois anos à frente de uma organização militar: o primeiro, com adjunto de comando; o segundo, sem. Fez falta! Apresento minhas percepções, que inclusive serviram de base para a justificativa de retorno deste importante cargo ao 4º Depósito de Suprimento.
Este texto é baseado na experiência prática e, acima de tudo, trata de liderança.
Imagine um dia tranquilo de trabalho, despachos de rotina, demandas corriqueiras... De repente, alguém irrompe no PC: “comandante, temos uma situação”. Era o adjunto de comando, solicitando sua gestão direta em dado assunto. Isto nem sempre ocorria, pois muitas vezes, ele solucionava potenciais crises na origem, sem que você percebesse.
“Devagarinho, pela sombra”, atuando no “chão de fábrica”, ele estabelecia uma ponte entre a tropa e o comando, eliminando ruídos: difundindo a intenção do comando por um lado; trazendo demandas e sugestões de melhorias na gestão por outro (não raro, contribuições relevantes que não chegariam pelo canal de comando formal).
Um trabalho silencioso e dedicado, de imensurável valor, que contribui sobremaneira para a coesão, o espírito de corpo e o aperfeiçoamento de processos e da atividade-fim, “levando em consideração o ponto de vista e a experiência dos graduados”. Estes são princípios básicos que regem o cargo.
Sábio aquele que tiver humildade para aceitar o assessoramento de subordinados. Sábio aquele que tiver humildade para não se deixar levar pela vaidade no cargo.
Considero a humildade um dos pilares mais importantes da liderança. Jim Collins, em Empresas feitas para vencer, a identificou como qualidade central em líderes que levaram grandes empresas à excelência. Muito antes, alguém escreveu: “antes da honra está a humildade” (Provérbios 15:33).
Não ter “o prestígio e a zona de conforto como foco”, diz o Guia do Adjunto de Comando. Não se trata de mera distinção, de uma ‘Medalha de Praça Mais Distinta’. Se houver, porventura, aqueles que ostentam o distintivo sem incorporar suas responsabilidades, não caiamos no erro de condenar a ideia em função dos que a desvirtuam.
Um militar altamente capacitado que “vaga pelo quartel sem função”, assim ouvi em reunião de Estado-Maior. “É preciso dar uma função a ele”. Um ano e meio depois, todos concordavam que fazia falta (oficiais e praças).
É justamente a liberdade de ação que faz dele detentor de informações que escapam aos demais, especialmente ao Estado-Maior. Dados valiosos para decisões que, sem informação completa, correm o risco de se afastar do fator humano. Não à toa, o adjunto de comando integra o Estado-Maior Especial da OM.
Coesão, espírito de corpo, cadeia de comando, bem-estar do pessoal; concordo que tudo isso deve ser preocupação de todos, mesmo sem o adjunto de comando. “As coisas sempre andaram bem sem eles”, dirão os que resistem à mudança. Por que, então, sou defensor do cargo?
Somos altamente demandados por acúmulo de atribuições técnicas, comissões e escalas, entre outros. Imagine isto em um órgão provedor regional e nacional com dois aquartelamentos, 330 militares, sendo 100 do efetivo variável. Em dois anos, 45% de rotatividade no efetivo profissional.
Elevada descentralização, cada pelotão se divide em inúmeras pequenas frações para as missões diárias. Há falta de contato aproximado e constante, o que dificulta a formação de vínculos de confiança entre superiores e subordinados, fazendo com que estes não tenham suas ideias levadas adiante. O Adj Cmdo atua justamente nesta lacuna, fortalecendo a cadeia de comando.
Outro aspecto é o elevado efetivo de técnico-temporários, com pouco tempo de formação militar e, não raro, incorporando ao Exército junto aos soldados. A muitos deles escapam atributos necessários ao líder de pequena fração. A rotatividade potencializa este aspecto, gerando no quartel a presença contínua de militares já trabalhando, mas ainda em formação. O Adj Cmdo atua buscando desenvolver neles o espírito militar.
No que tange à família militar, o Adj Cmdo é peça fundamental nas ações ligadas ao Plano de Assistência Social do Departamento-Geral do Pessoal. Quando inserido nos programas específicos, irá contribuir imensamente na identificação oportuna e judiciosa de demandas sociais. Remetendo-me ao Guia do Adjunto de Comando, há dias em que o mesmo é psicólogo, padre ou pastor e, até mesmo, pai!
Na gestão de pessoal, muitos eram os casos em que o adjunto de comando identificava militares desmotivados, fosse por capacidades individuais não aproveitadas, problemas pessoais, relacionamento interpessoal ou simples desejo de mudança (vontade de algo novo). E, então, sugeria mudanças, visando colocar “o homem certo no lugar certo”.
O militar não está rendendo bem? Onde ele poderá dar sua contribuição máxima? Possibilita-se, assim, que cada militar encontre o seu propósito no grupo, gerando “orgulho em pertencer”, um sentimento de utilidade fundamental para o bem-estar da tropa e, consequentemente, para o cumprimento da missão.
Você quer resultado? Não foque na meta, seja vetor do desenvolvimento pessoal e profissional de cada um, coloque as pessoas em primeiro lugar, construa uma visão comum a ser compartilhada e inclua o Adj Cmdo na difusão desta visão.
Por fim, cabe destacar que a aceitação e o reconhecimento de mérito em todos os níveis hierárquicos, incluindo o segmento feminino, são fatores determinantes para o desempenho da função. A nomeação de militar da OM favoreceu este aspecto no caso do 4º D Sup: a tropa já o conhecia e havia uma confiança previamente estabelecida.
Tendo esta base de confiança, atuou sempre como um fiel escudeiro (de todos), assessorando o comando com lealdade, proatividade e foco na solução!
“E o escudeiro lhe disse: Faz tudo o que está no teu coração; volve-te, eis que estou contigo de acordo com o teu coração” (1 Samuel 14:7)
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