A Tomada de Montese – 75 anos

Autores: Subtenente Félix André Mendes
Terça, 14 Abril 2020
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O dia era 22 de setembro de 1944; a bordo do navio “General Meigs, 5.239 homens, a maioria integrantes do 11º Regimento de Infantaria (11º RI), se espremem na viagem de 14 dias para a travessia do Atlântico, infestado de submarinos alemães. Assim inicia a epopeia do 11º RI na 2ª Guerra Mundial, tendo seu ápice em 14 de abril de 1945, com o ataque à cidade de Montese, o combate em que a FEB mais perdeu homens em um único dia.

No início da ofensiva da primavera, o Gen Mascarenhas de Moraes compareceu a uma reunião no QG do 4º Corpo, em Castelluccio, no dia 08 de abril, propondo e conseguindo autorização para atacar a região de Montese-Montello. Era parte de uma operação de grande envergadura para libertar a região de Bolonha, a travessia do Rio Pó, e bloquear o Passo de Brenner (fronteira Ítalo-Suíça), principal rota de retraimento do inimigo.

Montese era um setor sobre o qual não havia informações precisas sobre o dispositivo e reservas inimigas. Era parte da famosa “Linha Gengis Khan”, um conjunto de posições fortificadas alemãs estabelecidas sobre os últimos contrafortes da cadeia dos Apeninos e bem defendidas. Sua ruptura permitiria às tropas aliadas alcançarem a planície do Rio Pó e, então, os Alpes, consolidando, assim, a reconquista do território italiano.

A 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) começa os preparativos para investir contra o inimigo entocado em Montese, lançando patrulhas para a obtenção de informações e limpeza de campos minados. No dia 12 de abril, a missão de uma dessas patrulhas foi interrompida por uma rajada de metralhadora. Ao se aferrar ao terreno para fazer frente ao ataque, descobrem que seu líder foi mortalmente atingido. Tratava-se do já lendário Sgt Max Wolf Filho, o “Rei dos Patrulheiros”, integrante do 1º Batalhão do 11º RI, sempre voluntário para realizar tais missões. Terminava, assim, a trajetória desse insigne herói que derramou o sangue naquele solo para que a paz voltasse a reinar; porém, a partir daquele momento, seria eternizado na história.

Se na tomada do Monte Castello, ocorrida no dia 21 de fevereiro, o ataque principal da 1ª DIE coubera aos elementos de manobra do 1º RI – o Regimento Sampaio –, desta vez, em Montese, ficaria a cargo do 11º RI - o Regimento Tiradentes –, sob o comando do Cel Delmiro Pereira de Andrade. A oportunidade para honrarem o sacrifício realizado pelo companheiro tombado em combate dias antes, justamente para auxiliá-los nesta árdua tarefa. 

O ataque aos postos avançados inimigos começou às 0935h do dia 14 de abril, com apoio da Artilharia Divisionária e do Esquadrão de Cavalaria. Os alemães reagiram violentamente à ofensiva dos brasileiros, concentrando fogos de artilharia e morteiros. Dos cerca de 2.800 tiros de artilharia disparados pelos alemães, caíram no setor da 1ª DIE nada menos que 1.800 (64% das granadas). A despeito das baixas sofridas, a reação alemã foi vencida, possibilitando o inicio da 2ª fase que consistia em um ataque contra as alturas de Montese, Cota 888 e Montello, atingidos às 1500h.

A luta prolongou-se mesmo durante a noite. Pelas características do ambiente urbano e pela forte resistência inimiga, a luta por Montese prolongou-se até 17 de abril. O preço foi alto para a FEB, com 426 baixas, sendo 34 mortos, 382 feridos e 10 desaparecidos. A cidade foi praticamente destruída, muitas vidas perdidas, entretanto o objetivo de libertá-la foi atingido. A conquista mais significativa para o esforço final dos aliados. Entusiasmado, o General Crittenberger, Comandante do 4º Corpo-de-Exército, declarou:

“Na jornada de ontem, 14 de abril, só os brasileiros mereceram as minhas irrestritas congratulações; com o brilho do seu feito e seu espírito ofensivo, a Divisão Brasileira está em condições de ensinar às outras como se conquista uma cidade”. (O Exército Brasileiro na 2ª GM).

O aproveitamento do êxito possibilitou a rendição da 148ª Divisão alemã em Fornovo, em 29 de abril, o prosseguimento para a cidade de Alessandria e o estabelecimento da ligação com os franceses em Susa, dando por terminada a guerra no território italiano.

A guerra havia acabado, mas o espírito combativo do 11º RI permaneceria, transformando-se, em 1973, em 11º Batalhão de Infantaria. Em muito devido à experiência adquirida na II Guerra Mundial, junto à 10ª Divisão de Montanha dos EUA, tornou-se o berço do Montanhismo Militar no Exército e, em 1992, teve alterada a sua denominação para 11º Batalhão de Infantaria de Montanha.

Todos os anos no calendário de eventos do Batalhão, as comemorações da Tomada de Montese possuem significativa relevância, com eventos esportivos, cerimônias, confraternizações, palestras e visitas ao Museu da FEB pelo público em geral. Entretanto, no ano em que se completa 75 anos, as comemorações públicas sofreram restrições pelas medidas para a contenção da COVID 19. Lamentavelmente, a região norte da Itália é uma das mais atingidas pelo avanço do vírus.

Nesse sentido, este artigo tem a finalidade de contribuir para mantermos vivos, na memória, os feitos heroicos de brasileiros que, em nome de ideais de liberdade e democracia, deixaram seus lares; enfrentaram os rigores do treinamento; cruzaram o oceano; e deram suor e sangue para a libertação do mundo das mãos do regime nazifascista.

 

 

Referências

______OLIVEIRA, Dennison de. Aliança Brasil-EUA: nova história do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Curitiba, Juruá Editora, 2015.

_______Fundação Getúlio Vargas – CPDOC, disponível em https://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/forca-expedicionaria-brasileira-feb, acesso em 18 Mar 20.

______Ministério da Defesa, Batalha de Montese: 70 anos da histórica atuação brasileira em um dos mais sangrentos combates da II Guerra. Disponível em:  https://www.defesa.gov.br/noticias/15466-batalha-de-montese-70-anos-da-historica-atuacao-brasileira-em-um-dos-mais-sangrentos-combates-da-ii-guerra. Acesso em 21 Mar 20

______ Exército Brasileiro. Noticiario do Exército. A conquista de Montese - 14 de abril de 1945. Disponível em: https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/a-conquista-de-montese-14-de-abril-de-1945. Acesso em 24 Mar 20

_______ Portal FEB. A Tomada de Montese na Itália e os Correspondentes de Guerra (jornadas de 14 a 17 de abril de 1945). Disponível em: https://www.portalfeb.com.br/a-tomada-de-montese-na-italia-e-os-correspondentes-de-guerra/. Acesso em 25 Mar 20.

 _____ Exército Brasileiro, O Exército Brasileiro na 2ª Guerra Mundial, disponível em https://www.eb.mil.br/exercito-brasileiro?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized &p_p_mode=view&_101_struts_action=/asset_publisher/view_content&_101_assetEntryId=1556825&_101_type=content&_101_urlTitle=o-exercito-brasileiro-na-segunda-guerra-mundial&inheritRedirect=true, acesso em 28 Mar 20.

Comentarios

Comentarios
Excelente artigo ST Félix! Certamente a memória dos ex-pracinhas sempre estará viva em nossos corações!
Obrigado meu amigo.
belo artigo, ST Félix , a história dos pracinhas é lendária e de extrema importância para a nossa força.
Excelente S Ten Felix! Parabéns pelo artigo.

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