As relações institucionais ocupam papel destacado na consecução dos objetivos estratégicos das organizações. Em um cenário cada vez mais complexo, marcado pelo dinamismo e incertezas, redes e conexões fortes compõem, com a comunicação tradicional e as mídias digitais, o amálgama da comunicação estratégica, sendo capazes de potencializar ações e catalisar resultados.
A despeito da atualidade do tema, as relações interpessoais evidenciam sua importância desde os primórdios da humanidade. Em sua obra Sapiens, o historiador Yuval Harari, ao analisar a evolução da espécie humana, assevera que o fator primordial do sucesso e da primazia do Homo Sapiens foi sua capacidade de formar redes de cooperação.
O autor reforça que foi a comunicação e a construção de crenças e narrativas comuns que fortaleceram ainda mais essa colaboração, levando a espécie a prevalecer sobre as demais, ainda que mais fortes. A troca de informações e o conhecimento mútuo facilitaram a consecução de objetivos comuns, como a obtenção de alimentos, a dominação de rivais ou a própria proteção.
Avançando até a antiguidade clássica, a questão vem à tona, mais uma vez, nas considerações de Aristóteles sobre a Philia. Em Ética a Nicômaco, o filósofo afirma que a convivência entre indivíduos e grupos era essencial à vida e à sobrevivência da pólis, sendo, portanto, uma virtude política por natureza.
Isso porque, quem possuía laços de amizade e convivência (philia) seria mais capaz de enfrentar crises, pois obteria dos parceiros aquilo que lhes faltava per se. Cabe relembrar que, para os gregos, o conceito de virtude diferia do sentido tradicional do cristianismo, conformando-se como uma capacidade que levava ao bom desempenho de uma função ou tarefa; ou seja, conduzia à excelência. Assim, conviver e cooperar levavam à excelência política, passo fundamental para o atingimento dos objetivos das cidades-estado.
Da mitologia também se extraem ensinamentos importantes acerca do valor da confiança mútua e parceria, particularmente, da lenda de Damão e Pítias, discípulos de Pitágoras. Em viagem a Siracusa, Pítias foi preso e acusado de traição por Dionísio, sendo condenado à pena capital.
No momento da sentença, solicitou que lhe fosse permitido, antes da execução, voltar a Atenas para despedir-se de sua família e resolver assuntos pendentes. Dionísio aceitou o pedido sob a condição de que Damão ocupasse o lugar do amigo, e, caso este não retornasse, seria executado em seu lugar.
Conforme Dionísio previra, o condenado não retornou e Damão seguiu para cumprir a sentença. No momento final, porém, para a surpresa de todos, Pítias adentra o local pedindo perdão pelo atraso, que atribuiu a um naufrágio e ataque de corsários que sofrera durante o regresso a Siracusa. Surpreso com a lealdade e a confiança dos amigos gregos, Dionísio resolve, então, cancelar a pena mediante um pedido: que ele também fosse incluído naquele círculo de amizade.
Simples análise dos exemplos acima aponta algumas observações relevantes. Nota-se que as relações institucionais promovem a complementariedade, ampliando capacidades por meio da cooperação e do intercâmbio entre os agentes. Isto nos leva a um segundo ponto, qual seja, a percepção de que indivíduos, grupos e instituições potencializam suas ações ao relacionarem-se, encontrando soluções e alcançando objetivos e metas mais facilmente. Como na mecânica, quanto maior o número de polias, menor a força para levantar o peso.
Percebe-se, ainda, que a colaboração se funda e se fortalece na confiança, que, por sua vez, se estabelece por meio da comunicação. Foram as crenças e as narrativas comuns, por exemplo, que levaram o Homo Sapiens a cooperar entre si, o que só ocorreu por intermédio da comunicação.
Ao final, há um ciclo virtuoso, pelo qual a comunicação e as relações institucionais se fortalecem mutualmente, constituindo-se em firme alicerce à construção de uma comunicação estratégica sólida, perene e efetiva.
No mito de Damão e Pítias, a integração entre as duas parcelas (relacionamento e comunicação) foi tão forte que foi capaz de alcançar o objetivo dos filósofos, de evitar a morte, e, ainda, cooptar o Rei. Imperioso destacar que foram os princípios e valores da sólida amizade que impactaram Dionísio, alterando o status quo favoravelmente. Ou seja, uma comunicação sólida, estruturada em princípios éticos e morais imutáveis, favorece as relações internas e externas, e é capaz de proporcionar narrativas de impacto positivo.
Cônscio da importância dessa temática, o Exército Brasileiro vem empreendendo ações no sentido de fortalecer suas relações institucionais. Com uma comunicação social fortemente estruturada, e possuindo números expressivos nas mídias digitais, o fortalecimento e a sistematização das relações institucionais é o derradeiro desafio rumo à consolidação de uma comunicação estratégica de excelência. Portarias recentes vêm estruturando o sistema, que tem por órgão central o Alto Comando do Exército; por órgão normativo o Estado-Maior do Exército; e por órgão técnico-consultivo, o Centro de Comunicação Social do Exército.
O resultado prático dessas ações é notório. Nas ações de enfrentamento à COVID-19, por exemplo, o aprimoramento das relações institucionais do Exército, assim como sua integração e sincronização com a comunicação social, tem fortalecido a comunicação estratégica da Força, cooperando para resultados altamente positivos.
Nos diversos Comandos Conjuntos, a união e a colaboração de atores distintos (Forças Armadas; agências federais, estaduais e municipais; órgãos de segurança pública e defesa civil, etc.), indubitavelmente, têm favorecido o sucesso das operações, e, portanto, potencializado o atingimento dos objetivos estratégicos da Instituição.
A História deixa evidente a necessidade de se possuir relações institucionais fortes. Em um tempo onde conjunturas tornam-se cada vez mais complexas e incertas, soluções multidisciplinares e dinâmicas despontam como a opção mais eficaz. A união de atores, facilitada e fortalecida pela comunicação, permite a análise compartilhada dos problemas, a construção de narrativas integradas e o complemento de capacidades, que concorrerão para o atingimento dos objetivos e das metas das organizações.
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