A semelhança da estratégia logística nos cenários militar e empresarial–uma breve abordagem

Autor: Ten R1 Roner Terence Dias

Sexta, 26 Abril 2024
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“Você não terá dificuldade em provar que batalhas, campanhas, e mesmo guerras foram vencidas ou perdidas primariamente por causa da logística”. (General Eisenhower)

O ponto comum entre logística militar e logística empresarial é que ambas estão inseridas no planejamento estratégico, pois é de fundamental importância para o sucesso das operações e para a consecução dos objetivos estratégicos.

O Manual de Campanha EB 20-MC-10.204 “LOGÍSTICA”/Estado-Maior do Exército (2014-3ª Ed, pág. 1-3) define Logística Militar como “o conjunto de atividades relativas à previsão e à provisão dos recursos e dos serviços necessários à execução das missões das Forças Armadas”. No Teatro de Operações, a sua missão é prover a tropa em todas as suas necessidades, sejam as relacionadas com as necessidades básicas dos homens em combate ou aquelas relacionadas ao aparato bélico, incluindo: alimentação, água, uniforme, equipamento individual, armamento, munição, apoio em saúde, transporte, combustível, etc. O objetivo principal é possibilitar o material/apoio certo, no local certo e na hora certa, exigindo envolvimento de todos os escalões operacionais, no que tange a planejamento logístico em combate.

No campo empresarial, a Council of Supply Chain Management Professional (CSCMP-2010), principal associação mundial de profissionais de gestão de cadeias de abastecimento, definiu “Logística ou Gestão Logística” como Parte da Cadeia de Abastecimento que é responsável por planejar, implementar e controlar o eficiente e eficaz fluxo (direto e inverso) e as operações de armazenagem de bens, serviços e informações relacionadas entre o ponto de origem e o ponto de consumo, de forma a ir ao encontro das necessidades dos clientes. Para Ballou (2007), o papel da logística é facilitar para que os consumidores tenham bens e serviços no momento, no local e nas condições físicas que desejarem. Um aspecto importante a ser considerado na logística empresarial é o gerenciamento do fluxo de informações entre os diversos departamentos, envolvendo toda a estrutura no seu planejamento.

Nota-se, dessa forma, seja no campo militar ou empresarial, que o planejamento das operações logísticas somente será efetivo se existir coordenação e sincronismo com os demais níveis estratégicos. O dinamismo do Teatro de Operações exige da logística a capacidade de se adequar aos diversos cenários, propiciando que as tropas em combate tenham liberdade de ação, amplitude do alcance operativo e a capacidade de durar na ação. Ela deve ajustar-se às diversas situações de emprego das tropas, com suas “nuances” e especificidades, apresentando, como exemplo, estar em condições de apoiar uma Unidade de Infantaria a pé, uma Unidade Paraquedista e uma Unidade de Cavalaria Blindada, em simultâneo, observando as características de todo o material utilizado por essas Unidades. A logística empresarial também deve estar preparada para situações não esperadas, citando casos análogos, a mudança de hábito do consumidor ou uma alteração climática significativa. Em ambos os casos, a eficiente gestão do que conhecemos como “Cadeia de Suprimento” é que garantirá o sucesso das operações, sendo que o seu entendimento deve ser obrigatório a todo estrategista, desde as ações/manobras mais simples até as mais complexas. A definição de Cadeia de Suprimento pela Supply Chain Council (SCC) é que ela envolve todas as atividades realizadas na produção e liberação do produto final, desde o primeiro fornecedor do fornecedor até o último cliente do cliente. Uma Cadeia de Suprimentos deficiente compromete a estratégia operacional, extinguindo uma tropa ou impedindo que determinado produto chegue ao seu consumidor final. Como qualquer outra atividade militar, a gestão da Cadeia de Suprimentos exige planejamento e controle, desde a produção até aquele que vai usufruir do produto e/ou serviço.

É comum confundirmos os conceitos de Logística e Cadeia de Suprimentos. Em linhas gerais, a Logística é parte do processo da Cadeia de Suprimentos, no que tange a planejamento e controle dos estoques de produtos e serviços, do local onde foi produzido até o ponto de consumo. Já a Cadeia de Suprimentos integra todas as ações e níveis de atuação, abrangendo interesses de todos os escalões, dando a ela importância significativa dentro da estratégia competitiva.

Uma atividade de destaque no Teatro de Operações no que se refere à logística é o gerenciamento dos modais de transporte nas missões de suprimento e reabastecimento da tropa. Devido ao aspecto agressivo e destrutivo das ações de combate, essa missão deve ser planejada e preparada para situações inusitadas, como exemplo, a destruição de uma ponte em um eixo de progressão de suprimento, sendo necessário o uso de aeronave para lançamento do material por paraquedas. Nesse contexto, foi mudado do modal rodoviário para o modal aéreo e com incremento da atuação de tropa paraquedista especializada nas atividades de lançamento de material via paraquedas. Logicamente o custo operacional dessa mudança de modal aumentou, mas a tropa foi suprida oportunamente e manteve a impulsão do ataque, não diminuindo a sua capacidade operativa, o que pode ser fator preponderante na conquista dos objetivos de guerra. Em situação de guerra, os modais de transporte são utilizados em sua totalidade, pois as operações militares envolvem ações via terra, água e ar, sejam as previstas no planejamento estratégico ou aquelas que são realizadas em função da mudança de cenários.

No campo empresarial, os modais de transporte assumem importância similar, pois sua atividade principal é a movimentação de bens entre sua origem e destino, aparecendo como componente fundamental da gestão logística, sendo relevante na estratégia competitiva da empresa. A opção por determinado modal será definida não somente em função do custo, mas também em função do ambiente mercadológico e da estratégia competitiva concebida pelo empreendedor. Ou seja, o corte de custos não pode afetar a eficiência e a produtividade da empresa.

Em resumo, a eficiência logística se consegue através de um eficaz sistema de gerenciamento do fluxo de informações em todos os níveis gerenciais e operacionais, possibilitando controle e previsibilidade nas ações, fornecendo subsídios necessários para o planejamento estratégico e, por consequência, a obtenção de vantagem competitiva. É preciso “PREVER PARA PROVER”.

 

 


 

REFERÊNCIAS

1. GHEMAWAT, Pankaj. A Estratégia e os Cenários dos Negócios: Textos e Casos. Porto Alegre: Bookman, 2000.

2. PORTER, Michael E. A Nova Era da Estratégia. In: Júlio, C.A; Salibi, N.J. (Org). Estratégia e Planejamento – autores e conceitos imprescindíveis. 2ª Ed. São Paulo: Publifolha, 2002.

3. TZU, Sun. A Arte da Guerra. 15ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1994.

4. BALLOU, R.H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimento/Logística Empresarial. Porto Alegre: Bookman, 2007.

5. EXÉRCITO BRASILEIRO. Manual de Estratégia (C 124-1). Brasília, 2001.

6. ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, Manual de Campanha - LOGÍSTICA (EB 20-MC-10.204). Brasília, 3ª Edição, 2014.

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