Em face dos desafios da defesa no cenário contemporâneo, o domínio de idiomas estrangeiros reveste-se de singular importância, como propulsor da interação, tanto no campo da diplomacia, para as relações entre Nações Amigas e promoção da estabilidade regional, quanto no campo das operações, para aumento da capacidade de forças militares aliadas operarem combinadamente, em contextos internacionais.
A concepção estratégica do Exército para a configuração da Força Terrestre em 20401 prevê, como ações impostas, a “participação em operações conjuntas, combinadas e interagências, promovendo a interoperabilidade e a integração de capacidades”, e a atuação em contextos multiculturais.
No âmbito da Diplomacia Militar, as atuais diretrizes do Exército Brasileiro 2 destacam, dentre os objetivos gerais, a colaboração para a integração do entorno estratégico, principalmente com a América do Sul, bem como para a capacitação e emprego em operações multinacionais.
Nesse escopo, cumpre destacar o grande aumento das atividades internacionais, não apenas de caráter permanente, como as de representação diplomática, cursos e intercâmbios de instrução no exterior e missões de paz, mas também de eventos de curta duração, como a participação em seminários, simpósios e treinamentos. E ainda a Operação Acolhida, em andamento, a qual requer a capacidade de lidar e interagir com um grande fluxo de estrangeiros, em território nacional, e operar com diversas agências locais e estrangeiras.
No campo educacional, a concepção da Força 40 ressalta o fundamental papel do macrossistema Educação do Exército na preparação do oficial combatente para atuar nos novos cenários. Desse modo, estabelece que o planejamento para todos os cursos de Formação, Aperfeiçoamento e Altos Estudos seja adequado às novas demandas, e que a disponibilização de plataformas de aprendizagem seja ampliada, para permitir aos militares o acesso a conteúdos por meio de dispositivos eletrônicos, incentivando o autoaperfeiçoamento.
Nessa perspectiva, o Sistema de Educação e Cultura do Exército tem tomado medidas que visam a aprimorar o desenvolvimento da capacidade linguística do oficial combatente de carreira nos idiomas Inglês e Espanhol, os quais são ministrados nas escolas de Formação, Aperfeiçoamento e de Altos Estudos, conforme estabelecido pelo Estado-Maior do Exército para o Ensino Regular.
Nesse sentido, uma importante medida foi o investimento no aprimoramento do ensino de idiomas na formação, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde o aluno passa maior tempo nos bancos escolares e consolida a base de sua aprendizagem. O aumento da carga horária destinada aos idiomas, aumento do efetivo e da qualificação dos professores, constituição de turmas com menor efetivo, o uso da Inteligência Artificial e de plataformas aplicadas ao ensino, dentre outras ações, tem permitido um destacado avanço na proficiência linguística dos cadetes.
Como resultado, a partir de 2025, todos os aspirantes formados na AMAN terão o Índice de Proficiência Linguística (IPL) mínimo 2122 no idioma Inglês, ou seja, proficiência no nível Funcional (nível 2) em três habilidades (ouvir, ler e escrever), que permite acompanhar delegações estrangeiras e lidar com situações simples de trabalho; e no nível Sobrevivência (nível 1) em uma habilidade (expressão oral), que permite participar em conversas simples e curtas, para satisfazer necessidades imediatas3.
Nesse novo modelo, à medida que os cadetes vão atingindo e comprovando tal proficiência, ao longo da formação na AMAN, passam a ter um estudo customizado, com a carga horária de idiomas destinada ao estudo de um segundo idioma, o Espanhol, concomitantemente com a manutenção e aprimoramento do Inglês, em carga horária reduzida, por meio da plataforma EBAULA.
Como desdobramento dessa medida inicial, o Itinerário Formativo do ensino de idiomas está sendo revisto e aprimorado, sob coordenação e supervisão da Diretoria de Educação Superior Militar (DESMil), de modo que o ensino regular de idiomas nas escolas possa proporcionar o desenvolvimento da proficiência linguística em Inglês e Espanhol, de forma contínua e gradual, alinhando os descritores da escala de proficiência linguística aos Perfis Profissiográficos dos cursos e seus respectivos currículos.
Desse modo, na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), o ensino deverá proporcionar o aprimoramento do nível 2 de proficiência, nos idiomas Inglês e Espanhol, com ênfase na habilidade de expressão oral; e, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), para os Cursos de Altos Estudos Militares, o desenvolvimento de habilidades, nos idiomas Inglês e Espanhol, do nível 3 de proficiência, que permitirá ao egresso participar em discussões militares, conduzir briefings sobre operações militares complexas e o desempenho de funções como a de instrutor e adido militar.
A efetiva valorização da proficiência em idiomas, expressa no aprimoramento dos currículos escolares e dos índices de proficiência linguística dos militares, é parte da evolução de um exército profissional com alta capacidade de interoperabilidade, capaz de estabelecer e manter acordos e cooperações internacionais, projetar poder e atuar nos complexos cenários contemporâneos, caracterizados pela preponderância do ambiente informacional, hiperconectividade, intensos fluxos migratórios, agravamento de crimes transnacionais, conflitos em ambientes urbanos, incremento das ações não cinéticas, campo de batalha em múltiplos domínios, dentre outros.
Neste ano, celebram-se os 80 anos da vitória da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, em combate na Itália, integrando o V Exército dos Estados Unidos da América, ao lado de mais de duas dezenas de divisões estrangeiras que atuaram no Teatro de Operações Europeu. Naquela ocasião, foi necessário traduzir manuais, mudar a doutrina vigente, interagir e aprender táticas e técnicas novas, com uso de intérpretes e oficiais de ligação. Tamanho era o desafio, que “era mais fácil a cobra fumar do que o Brasil ir para a guerra”. E a cobra fumou!
Hoje, o Exército Brasileiro, ao passo que prospecta sua preparação para enfrentar os desafios da defesa no horizonte de 2040, reconhece, materialmente, a importância da proficiência linguística como uma das habilidades fundamentais ao oficial combatente. Por meio do seu Sistema de Educação e Cultura, promove o aprimoramento do Itinerário Formativo, dos currículos e técnicas, e, investindo em seu capital humano, desenvolve um ensino regular efetivo, de alto rendimento, aberto às novas tecnologias, mais individualizado e atrativo para os seus oficiais combatentes, ao longo da carreira, de modo a torná-los mais aptos para atuar nos complexos contextos, atuais e futuros.
1 Concepção de Transformação do Exército Brasileiro e do Desenho da Força 40 (1ª Ed., 2024)
2 Diretriz para as Atividades do Exército Brasileiro na Área Internacional – DAEBAI (2ª Ed., 2024)
3 Port DECEx Nº 812, 21 Nov 24 – Normas para os Descritores da Escala de Proficiência Linguística do Exército
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