A Organização Militar de Saúde no Preparo e Emprego da Força Terrestre

Autor: Coronel R1 José Arnon dos Santos Guerra

Quarta, 31 Julho 2024
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O Serviço de Saúde do Exército é fundamental para a manutenção da operacionalidade da Força Terrestre, no entanto, em face de uma rotina diária que absorve os seus profissionais quase que integralmente, seu papel no Preparo e Emprego da Força Terrestre nem sempre é identificado como tal.

Os cuidados especializados de feridos em campanha são objeto de estudo de longa data. Segundo a Inspetora de Saúde da 11ª RM, Coronel Médica Carla, em sua dissertação de conclusão da Escola de Comando e Estado-Maior, Hans von Gerdorff, em 1517, publicou seu Manual para o Tratamento de Feridos em Campanha, que forneceu uma ideia concreta sobre o tratamento do politraumatizado de guerra. Mais tarde, no século XIX, as campanhas napoleônicas fortaleceram esse conceito e acabaram por formular grande parte da doutrina conhecida até hoje.

Ainda, nesse mesmo século, ao assumir o Comando em Chefe Aliado na Campanha da Tríplice Aliança, em fevereiro de 1867, o Duque de Caxias viu o amplo ataque que pretendia realizar em março inviabilizado, porque suas tropas estavam desfalcadas em um terço dos efetivos. Apenas 11 hospitais apoiavam toda a área de operações na região Sul e, só de brasileiros, os Voluntários da Pátria ultrapassaram 130 mil homens. Uma de suas primeiras ações de comando foi nomear a comissão chefiada pelo Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, médico e coronel, para dar alta aos oficiais e soldados restabelecidos. Com essa iniciativa, mobilizou-se cerca de 2.000 combatentes para os batalhões nas frentes de combate. Foi nesse teatro de operações que, Ana Nery destacou-se como enfermeira e construiu sua biografia, ao acompanhar seus 3 filhos na guerra.

 Nos dias atuais, a Saúde está bem escalonada, mobiliada e organizada doutrinariamente. Os serviços prestados pelo “pessoal de branco” são excepcionais e repletos de provas de competência, dedicação e espírito de sacrifício. Diariamente, os hospitais militares de todo o Brasil assistem milhares de pessoas, até mesmo civis nas fronteiras da Amazônia. O Coronel de Infantaria Roberval, ex-Diretor do Hospital da Guarnição de Tabatinga, relata que cerca de 60% dos atendimentos daquela OMS são aos ribeirinhos e índios, atendidos por meio de convênio com o Estado do Amazonas, irmãos brasileiros que têm no Exército o acolhimento humanizado e digno garantido constitucionalmente a todo brasileiro.

Atualmente, o SSEx, sob a tutela do Programa 6112 da Defesa Nacional repensa o Hospital Militar de Área de Brasília (HMAB). Esta Unidade, com mais de 63 anos de existência, atingiu seu limite, tornando-se necessária uma nova proposta para atender à crescente demanda do Comando Militar do Planalto e às exigências dos órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Essa nova estrutura se encaixa no contexto do Preparo e Emprego da Força Terrestre, como fez o Hospital Central do Exército com as tropas imperiais. O futuro HMAB ou Complexo de Saúde General de Brigada Médico João Severiano da Fonseca, considerando a doutrina atual, servirá também como o 4º escalão para os Comandos Militares do Oeste, da Amazônia e do Norte, afinal, Brasília tem se transformado em um centro médico de excelência no Planalto Central.

Nesse cenário, destacam-se algumas participações do HMAB em missões reais conhecidas do grande público: UNAVEM III (Angola, 1995); equipe precursora à Indonésia, Tailândia e Sri Lanka, para levantamento da situação resultante do tsunami ocorrido na Ásia (2005); missão médica organizada pelo MRE na África (2005); UNAMET (Timor Leste, 1999-2005); USN Confort - Mercy Class (2019); UNMISS (Sudão do Sul, 2023). A mais conhecida foi a MINUSTAH (Haiti, 2004 a 2017), quando essa OMS prestou apoio de saúde a todos os contingentes que o CMP tributou, a exemplo do Batalhão Porto Príncipe, do 24º Contingente, quando realizou milhares de exames de todo tipo durante a mobilização e na desmobilização para quase 1.000 militares. Atualmente, o HMAB integra a Operação Acolhida, em Roraima, no atendimento de centenas de refugiados venezuelanos todos os dias.

Essas missões todas revelam que a manutenção do capital humano hígido e pronto é um trabalho incessante nos Exércitos, que é sempre reconhecido pelos comandantes e, principalmente, pelos pacientes. Vale lembrar que o Serviço de Saúde não protagoniza as ações militares, é de sua gênese ser assim, mas é um coadjuvante de peso, sem o qual não há operações. É fato que o homem pode combater com sono, com fome, sujo, mas ferido é praticamente impossível, além do mais, um ferido onera sempre outros companheiros que o carregam.

Por fim, como na Guerra do Paraguai, quando as iniciativas de Caxias contribuíram decisivamente para o sucesso daquela vitoriosa campanha, o empenho atual do Exército em fortalecer seu Serviço de Saúde é uma decisão sábia, com ampla abrangência e longa duração. Nesse sentido, a decisão de reformular o HMAB é um desafio a ser vencido; essa iniciativa, liderada pelo Chefe do Departamento-Geral do Pessoal, como Autoridade Patrocinadora do projeto do futuro Complexo de Saúde, em Brasília, permitirá à Força Terrestre atualizar-se para os cenários futuros, inclusive no longo prazo, promovendo, desde já, a valorização do nosso maior patrimônio, a dimensão humana, força da nossa Força.

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Saúde

Comentarios

Comentarios

Excelente.  Os militares de saúde tem a missão de manter a higidez da tropa e também cuidar dos familiares dos militares. É uma honra fazer parte dessa tropa. Obrigada Cel Guerra, por conhecer e apoiar a Saúde do Exército e trabalhar para o avanço do Sistema de Saúde do Exército.

A questão da OMS no preparo emprego da força Terrestre foi bem explorada, fazendo destaque aos tempos remotos e se debruçando sobre os tempos atuais. Excelente texto.

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Excelente artigo, realmente o "pessoal de branco" faz totalmente diferença. Minha tenente Bandeira dedicadissima à missão da odontologia.

Sucesso! Gratificante saber que temos pessoas que apoiam e lutam pelos direitos dos  militares. Reconhecendo os papéis importantes que cada um atua na sua áera. O Sr. sempre se esforçando e se especializando para trazer mais e mais novidades para o Sistema . 

O texto aborda de maneira exemplar a importância da saúde no preparo e emprego da tropa militar, destacando a necessidade de reformular o Hospital Militar de Brasília. A contextualização é precisa e relevante, ressaltando como a modernização das instalações e serviços de saúde pode impactar positivamente o desempenho e bem-estar dos militares.

As Organizações Militares de Saúde do Exército são fundamentais para o preparo e emprego da Força Terrestre, fornecendo suporte médico essencial, não só durante operações militares, mas também a família militar. Ela garante a prontidão e a recuperação dos militares, permitindo continuidade operacional. Além disso, algumas OMS atuam em proveito da saúde pública e assistência humanitária, fortalece a imagem e a eficácia do Exército. Parabéns Cel Guerra pelo brilhante texto e obrigado por destacar o nosso Serviço de Saúde

Excelente! Muito bom Cel.

Que orgulho e admiração por esse projeto ao qual será um mega complexo de saúde. Muito honrada em ter ciência desse artigo. Parabéns a todos que estão participando desse projeto maravilhoso e extremamente importante para todos, pois  sem saúde somos indefesos.

As OMS são unidades de pronto emprego, já que, se forem mobiliadas, vão para o combate com o que vc tem e com quem tem.

 Depois será recomprada, se for o caso. 

Parabéns pela excelência do artigo!

Baseado em fatos do passado e dos tempos atuais e futuros!

Interessante abordagem sob o ponto de vista da Logística Militar Terrestre, afinal, nenhum exército é empregado sem que a Saúde esteja 100% operacional. Sem dúvida, esse projeto é muito necessário. Boa sorte e sucesso no projeto!

Excelente!

Trabalho completo, passando pelas missões de paz, Guerra do Paraguai, Caxias e vindo até os dias atuais.

Aborda de forma primorosa a importância das OMS do EB

Excelente matéria que reconhece a fundamental importância do Serviço de Saúde da Instituição em tempos de paz ou de guerra.  Quando trabalhei no HFA tive contato direto com o "pessoal de branco" ficando muito clara para mim a importância do serviço de saúde. Que a reformulação e ampliação do HMAB ocorram com brevidade para a melhorar ainda mais a prestação dos serviços de saúde.  Parabéns coronel Guerra!

Trabalho no MRE no atual Departamento de África e vejo no meu cotidiano a enorme importância e peso da tão bem colocada "força da nossa Força". O papel do HMAB na UNMISS é destacado e valorizado. Mas, para além disso, o Serviço de Saúde do Exercíto é basilar para a funcionalidade e sucesso das missões e atividades diplomáticas. Excelente texto!

Excelente, Cel GUERRA ! Nós, do Serviço de Saúde do Exército, que conhecemos a fundo tudo o que o senhor descreveu aqui, agradecemos pelo seu empenho e dedicação incomensuráveis, em prol de nosso maior desafio atual: o de FAZER ACONTECER o Novo HMAB !!! Obrigadaaaaaaa !!!!

Parabéns, Cel Guerra. O senhor soube pontuar com precisão a evolução do nosso Serviço de Saúde ao longo dos anos, serviço esse essencial para a nossa Operacionalidade. Minha melhor continência para os nossos soldados de branco. Selva!

 

Um hospital militar é diferente de um hospital da rede pública ou privada. Quando estamos em paz (e tomara que isso dure para sempre), a gente não vê sua importância, mas quando estamos em guerra, é a salvação dos nossos soldados e de muitos civis. Aliás, sobre civis, hospitais como o HMAB são as únicas alternativas para saúde de algumas populações da Amazônia, como em São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga, que conheço bem, por ter vivido 25% da minha vida na região Norte e alguns anos muito próxima das comunidades indígenas que não tem ninguém, exceto os militares. Um texto bom e esclarecedor.

Um excelente trabalho coronel guerra em seu desempenho é um  desafio muito grande, fazer acontecer parabéns!

Excelente artigo. Que a reformulação do HMAB ocorra o mais breve possível.

Texto muito esclarecedor!

Excelente artigo Coronel Guerra!!  Visão do presente em conjuntura com o passado e futuro!!!   

Um texto fácil de entender.quando as pessoas pensam em guerra,só vêem a frente de combate,como nos filmes.ninguém entender que,para o saldado lutar, alguém precisa apoià-lo.a saúde é nosso maior bem.muito bom!

 

Excelente texto.

Área de saúde sempre foi e será complexa, é fato que o SSEx precisa de atenção constante e de respostas rápidas para as demandas que não param de crescer. Um bom exemplo é o projeto do novo HMAB que vem sendo conduzido de forma espetacular, trabalhando sinergicamente com diversos setores do EB.

Muito bom!

Excelente abordagem do ponto de vista histórica e também contemporâneo sobre o serviço de saúde militar! Parabéns pelo texto!

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