A manipulação das massas. Você é manipulado? Manifeste-se!

Autores: Coronel R1 Swami de Holanda Fontes
Quinta, 02 Janeiro 2020
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As ideias que o senhor ou a senhora advoga são suas? Os argumentos utilizados para defender seus pensamentos são seus? Escutou de terceiros? Ouviu dizer? Você se identifica com algum grupo social? Acredita que pertence à minoria ou à maioria de seu ambiente de convívio? Por quê? Como uma minoria consegue dominar uma maioria?

Em 1967, em uma escola americana, um professor conduziu uma experiência interessante. Ele recriou, por aproximadamente uma semana, o ambiente nazifascista da Alemanha pouco antes da II Guerra Mundial. O professor, popular e carismático, tinha cerca de 25 anos de idade; seus alunos, aproximadamente 15 anos. O experimento, que teve início como brincadeira e com um pequeno número de alunos, foi encerrado com mais de 200 envolvidos.

No primeiro dia, o professor abordou sobre disciplina, uma das características que marcou o período da Alemanha nazista. Colocou-a em prática e exigiu dos seus instruendos uma nova postura em sala, como sentar e andar corretamente e utilizar a forma adequada de tratá-lo. O professor estimulou, ainda, o silêncio, a obediência, o respeito e a pontualidade.

Os alunos transformaram-se totalmente: perguntavam e respondiam com maior frequência e estavam mais participativos e interessados. Aqueles que nunca falavam se tornaram mais falantes. Em consequência, o aprendizado, como um todo, melhorou.

No momento seguinte, os alunos receberam informações sobre a comunidade e a força que podiam ter e exercer. Foi criado um gesto de saudação entre eles. Passaram a se sentir pertencentes a uma comunidade e se reconheciam mais fortes. Outros estudantes perceberam a força do movimento e pediram para participar do grupo.

No terceiro dia, foi criado um cartão de adesão. Alunos de outras classes pediram para se mudar para a sala de aula do professor. Alguns foram selecionados para vigiar os outros e fazer relatórios daqueles que desobedeciam às regras.

Nas aulas, eram ministrados assuntos sobre demonstração da força pela ação e a importância da família, do coletivo, da lealdade e do trabalho. Percebeu-se a melhora do rendimento dos estudantes, que se sentiam realizados. Aqueles que eram mais frágeis consideraram o movimento a razão de viver; os que eram solitários se dedicaram mais ao grupo.

Num determinado momento, verificou-se que a situação havia ficado fora de controle. Surgiu uma espécie de fanatismo pelo movimento. Ações irracionais tornaram os discentes cegos e manipuláveis. Além disso, foi percebido o sentimento de ameaça que esse grupo representava para o restante dos alunos da escola, que se sentia acuado e com medo e obrigado a se submeter às vontades da minoria.

No quinto dia, os envolvidos foram reunidos em um auditório para que fosse esclarecido o que havia ocorrido: eles tinham sido usados em uma experiência que teve início porque haviam perguntado ao professor “Como o cobrador de impostos, o soldado alemão, o professor, o motorista da estrada de ferro, a enfermeira... o cidadão médio puderam dizer que, ao fim do Terceiro Reich, não sabiam nada sobre o que estava acontecendo?”. “Como pode um povo ser parte de algo e depois reclamar no final que eles não estavam realmente envolvidos?”. “O que leva as pessoas a sair em branco de sua própria história?”

O relato acima foi publicado pelo próprio professor Ron Jones, em 1976, com o título “A Terceira Onda”, nome do movimento criado na escola. Em 1981, transformou-se em filme com o título “A Onda”, ocorrendo um remake em 2008.

No evento descrito, apurou-se que houve perda do individualismo. Estudantes mudaram atitudes e opiniões, que antes eram próprias de cada um, e se ajustaram às novas que eram específicas a essa coletividade. Verificou-se, também, o efeito “manada” que consiste em cada vez mais pessoas seguirem, ou passarem a agir de acordo com o grupo dominante sem refletirem o porquê de adotar determinado procedimento. Nesse contexto, observou-se que o número de seguidores havia aumentado drasticamente, num curto período de tempo, e que os alunos eram dominados com facilidade. 

Em que pese o experimento não ter tido intuito ideológico, percebe-se como foi fácil manipular as cabeças dos jovens. Ao término dele, muitos fizeram de conta de que não participaram e de que não foram vítimas.

A história da escola americana explica o perigo da doutrinação. Muito do que aconteceu pode ser explicado pela psicologia humana. Em 1921, Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, lançou a obra "Psicologia das Massas e Análise do Eu", abordando a questão das massas na sociedade. Em sua obra, argumentou que “inserido na massa, o ser humano pensa, sente e age de maneira diversa de quando está sozinho”. Em suma, o indivíduo submete sua peculiaridade à massa e se deixa sugerir por outros; sente a necessidade de estar com o grupo e não de se opor a ele.

Muitas são as estratégias adotadas para manipular as pessoas. Noam Chomsky cita algumas delas: distrair, criar problemas e oferecer a solução, tratar o público na ignorância e na mediocridade, dirigir-se as pessoas como crianças...

Por que manipular?

- Para atingir objetivos políticos, econômicos, religiosos e ideológicos, dentre tantos outros.

O maior ensinamento que se pode extrair do fato ocorrido na escola é que, para não ser chamado de “Maria vai com as outras”, devemos pensar, estudar, raciocinar, ser imparcial e tirar as próprias conclusões sem emoção. Só para recordar, essa expressão popular é empregada para se referir àquele que tem dificuldade de opinar e de demonstrar vontade própria, normalmente seguindo a decisão do grupo no qual se encontra. 

O termo pode ter surgido com Dona Maria I, rainha de Portugal, mãe de D. João VI, conhecida como "A Louca" devido aos seus problemas mentais. No caso da rainha, ela tinha o apoio da realeza e, provavelmente, contava com o respeito de todos devido ao título de nobreza que possuía. Por não ser capaz de governar, foi afastada do trono; além disso, era vista, esporadicamente, caminhando com suas damas de companhia, sempre conduzida por outros.

Para reflexão: você acredita em tudo que vê e lê? É crítico? Tira suas próprias conclusões? Caso siga outros, tem as facilidades e regalias da realeza?

Respondendo à pergunta do título deste texto.

- Sim, você é manipulado diariamente.

Por fim, já ouviu falar em Antonio Gramsci ou no gramscismo?

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Caro Coronel Fontes. Texto bastante atual e desafiador no sentido de aguçar o imaginário individual. Acredito que desde o surgimento da espécie humana, a manipulação existe. Ainda que inocentes em relação aos seus interesses pessoais egoístas. Por força de sobrevivência surgiram personagens mais destacados e líderes natos, eles foram seguidos pelos mais fracos e omissos quanto à manutenção de suas próprias vidas. Não há como se provar que exista alguém não manipulável nos tempos atuais, pois a convergência de forças de todas as origens atua em todas as camadas sociais. A importância de cada cidadão em se inteirar em defesa de seu próprio intelecto resulta em uma somatória de forças benéficas em prol de uma sociedade mais ativa, justa, livre e soberana. A manipulação das massas está mesmo presente desde os tempos longínquos. O império romano se beneficiou, sem pudor, da apatia e dependência pelo vício do pão e circo impetrado por aquele mesmo reinado à classe proletária, por tempos. Em contrapartida o pensador Orson Scott Card, cunhou esse alerta de forma ácida aos desavisados e desprovidos de suas próprias vontades e responsabilidades em prol de uma sociedade consciente de seus próprios atos. “Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado.” Aposto que se fizer a pergunta de quem foi Antonio Gramsci, no âmbito esportivo, certamente que a maioria responderia que foi um grande jogador de futebol. É o vício do Circo 10 x 0 Pão. Na verdade ele foi um reacionário adepto ao marxismo lá na Itália. Foi preso e de dentro do cárcere escreveu um livro de como se devia fazer uma mudança radical na sociedade sem o uso de força letal. A revolução cultural foi o legado que ele deixou, infelizmente para o mal. Ela está impregnada em nossa Pária desde o fim do regime militar de governo. O aparelhamento tal quais as ideias gramscistas, foram sendo implantadas paulatinamente e na gestão anterior à atual, teve a sua intenção combatida e vencida, porém não extinta ainda e cada cidadão será responsável pelo seu destino e de sua família caso não tenha as facilidades e regalias da realeza, para os pleitos eleitorais do porvir. Inspirado no filósofo Carl Marx e também simpático às ideias de Vladimir Lênin, as memórias de Gramsci tem conteúdos nocivos aos nossos ideais republicanos. ...Usaremos o idiota útil na linha de frente, incitaremos o ódio de classes... Essa é a mensagem de efeito que ouvimos por vezes nos últimos tempos. Pessoas se ofendendo uns aos outros, sem o mínimo conhecimento de que o Comunismo, Fascismo e Nazismo são diferentes entre si por meros detalhes operacionais. É a manipulação das massas e que tem como objetivo único uma ditadura oficializada pelos votos dos manipuláveis. “Na política de massas, dizer a verdade é uma necessidade política.” - Antonio Gramsci. Frase muito tendenciosa para o meu gosto. E para os outros?
No contexto global atual há uma integração de tudo e estar nas diferentes funções com serenidade e responsabilidade é uma convenção social positiva o qual permitem projeções de sonhos úteis que reverteram pra todos, o que aprendi na faculdade da vida - e quando longos anos depois possuirmos uma mente e práticas livres sabemos que vivemos num Brasil democrático e positivo.
Interessante ^.-.^ C:
Parabéns pela análise sucinta da manipulação. Acredito sim que, em certa parte, somos manipulados. No entanto, depende de nossa capacidade crítica, nos tirar desse ciclo. Espero que, com as mudanças que vemos em nosso país, nossa sociedade seja menos manipulada e mais questionadora, impulsionando nosso futuro para melhor.
Que bom que citou Noam Chomsky.
Ótimo texto! só adicionaria no final ... Por fim, já ouviu falar em Antonio Gramsci ou no gramscismo ou Steve Bannon?
Prezado Fontes, excelente texto que sugere a autoreflexão do comportamento individual! Atualemente, é facil até ser manipulado pelo tutorial eletrônico de modernos equipamentos. Por isso, sua colocação é bem oportuna para afastar a preguiça (o desleixo) em exercitar o pensamento, o que pode causar ausência de diligência onde se mais precisa! E esses locais podem ser a própria casa, o trabalho, grupos de convívios etc!

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