A LENTE DA GUERRA: O OPERADOR DE COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL COMO ELEMENTO DE COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA

Autores: S Ten Sionir
Segunda, 18 Agosto 2025
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Os conflitos bélicos atuais deixaram de ser apenas confrontos unicamente físicos, para crescerem em outro front que exige preparo, método e precisão: o da informação. Nesse ambiente, toda imagem tem o mesmo peso de uma munição e a fotografia realizada por militares especializados, engajados em operações, não é mais um mero registro ou memória visual de um momento específico, ela tornou-se parte relevante de uma engrenagem maior: a da comunicação estratégica.

Neste sentido, este breve artigo objetiva colaborar com a divulgação da atividade do Operador de Comunicação Audiovisual (Op Com Audvs), profissional integrante das Agências de Comunicação Social e presente em todos os Comandos Militares de Área. Estabelecimento do vetor da comunicação social, especializado na coleta e na produção de meios audiovisuais, transita no campo da comunicação estratégica como peça fundamental na documentação, divulgação e fortalecimento da imagem institucional do Exército Brasileiro. Dessa maneira, adicionalmente busca-se motivar os interessados e esclarecer eventuais dúvidas relacionadas com a função.

De acordo com o Manual Técnico EB10-MT-11.001 – Técnicas e Procedimentos de Comunicação Social, o conceito e a imagem são o maior patrimônio das organizações. O referido manual orienta que:

O conceito é consolidado no imaginário da população durante toda a trajetória histórica da organização enquanto a imagem é uma fotografia, uma descrição mental que pode sofrer alterações ou influências de eventos circunstanciais” (grifo nosso).

O Op Com Audvs como responsável pela produção dessas imagens é historicamente herdeiro do emprego de fotógrafos pelo Exército Brasileiro (EB) no período da Guerra do Paraguai (Rosa Rodrigues, 2014). Conforme noticiado por Joaquim Marçal de Andrade, o fotógrafo Carlos César foi contratado pelo governo imperial para fotografar as ruínas de Humaitá em 1868 (Rosa Rodrigues, 2014).

Segundo a Política de Comunicação Estratégica do Exército (EB10-P-01.023), as imagens capturadas em eventos, operações e ações da Instituição pelo Op Com Audvs contribuem na divulgação das informações por meio de registros audiovisuais oficiais, garantindo a produção de conteúdo que reforce a credibilidade, a legitimidade institucional, os valores do EB, aumentarem a coesão interna, além de sensibilizarem a sociedade e combater narrativas adversas.

Diante deste cenário e entendendo a comunicação não mais como uma ação isolada de relações-públicas, mas como uma função essencial de comando, o EB alça o “fotógrafo militar” da posição de mero espectador e produtor de registros para a memória institucional, para a situação de um Op Com Audv com o objetivo claro de produzir efeitos.

Hoje, a imagem (foto e vídeo) capturada por estes operadores no campo de operação militar tem função tática e simbólica. Nesse sentido, o Op Com Audvs pode atuar inserido no conceito doutrinário de operações de informação — e, por extensão, de comunicação estratégica. Segundo o Manual de Campanha C 24-40 – Emprego dos Meios Audiovisuais em Campanha, os meios audiovisuais apoiam diretamente “a ação informativa e psicológica, mediante a produção de material visual para divulgação interna e externa” (BRASIL, 2009, p. 4-2). A imagem como resultado do trabalho do operador, então, será uma obra planejada, construída e criada com intencionalidade, dentro de um projeto narrativo. Seu enquadramento, foco, texturas e contexto, comunica algo que ultrapassa a técnica: deve comunicar um valor, um propósito, um sentido. Nesse contexto, o Op Com Audvs precisa dominar mais do que conhecimento técnico: ele deve compreender o contexto estratégico em que opera.

O que se espera dele não é apenas boa luz ou bom ângulo, mas visão sistêmica. Seu trabalho meticuloso impacta percepções — dentro e fora da Força. É ele quem pode registrar, por exemplo, operações de certificação das diversas Forças de Prontidão (FORPRON) da Força que transmita à sociedade a noção de preparo, seriedade e legalidade. Ou documentar uma missão humanitária de forma a reforçar o compromisso da Instituição com a população atingida. O operador deve sempre ter em mente que o está em jogo é a imagem da Força, no sentido literal e simbólico.

A atuação organizada dos operadores durante a missão brasileira no Haiti é um exemplo claro dessa função estratégica. As imagens não apenas documentaram a presença do Exército Brasileiro atuando em um cenário internacional, mas também construíram uma narrativa visual de estabilidade, proximidade e respeito à população local.

Fonte: Flicker do EB

https://www.flickr.com/photos/exercitooficial/albums/72157675652561985/

Em contexto mais recente, a Guerra na Ucrânia evidenciou o poder das imagens de militares no conflito como arma de persuasão. O Op Com Audvs ucraniano Dmytro Kozatskyi (Prêmio ouro em Imprensa/Guerra e prata em Imprensa do Prix de la Photographie Paris, 2022), tornou-se conhecido mundialmente por retratar a resistência no cerco de Mariupol. Suas imagens, embora criticadas por seu potencial de encenação, cumpriram um papel estratégico: reforçar a moral interna e sensibilizar a opinião pública internacional.


Fonte: PX3 Prix de la Photographie Paris

https://px3.fr/winners/px3/2022/13109/

 

No Brasil, essa compreensão ética tem avançado. O Caderno de Ensino de Comunicação Estratégica do Exército explicita que “a imagem militar deve ser pensada em sintonia com a missão, os valores, a estratégia institucional e a narrativa que a Instituição deseja transmitir, de modo a fortalecer sua credibilidade, confiança e posicionamento perante a sociedade e os públicos de interesse” (EB60-CE-11.001, 2023). Isso inclui, sem exceção, o trabalho dos Op Com Audvs.

O operador que atua em nome da Força precisa estar ciente que seu clique produz efeitos cognitivos, não sendo apenas simples registros sobre o que aconteceu. A fotografia militar, em tempos de guerra de narrativa, pode ser considerado um instrumento de combate, sendo usada como modeladora da memória e, em tempos de conflitos informacionais, a memória é instrumento bélico. Cabe-lhe, portanto, não apenas dominar a técnica, mas compreender seu papel estratégico e exercê-lo com responsabilidade, precisão e ética.

Atualmente, no EB, o Curso de Operador de Comunicação Audiovisual é promovido pelo Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) e ministrado na Escola de Comunicações (EsCom), localizada na capital federal. Durante o curso, os futuros operadores são submetidos, a mais de 540 horas, distribuídas entre instruções teóricas, práticas e simulações de operações militares, para ao final especializarem-se na captura de imagens que reforçarão a divulgação e fortalecimento da imagem do Exército.

O Exército ainda disponibiliza aos interessados o Estágio de Capacitação de Fotógrafos e Cinegrafistas das OM sediadas na Guarnição de Brasília (DF), também promovido pelo CCOMSEx.

 

Referências

Brasil. (2009). Portaria nº 02-EME, de 22 de abril de 2009. Aprova o Manual de Campanha C 24-40 – Emprego dos Meios Audiovisuais em Campanha, 2ª Edição, 2009. Recuperado de https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/383/1/C-24-40.pdf . Acesso em: 18 de maio de 2025.

Brasil. (2018). Portaria do Comandante do Exército nº 023, de 16 de janeiro de 2018. Aprova o Manual Técnico EB10- MT-11.001 - Técnicas e Procedimentos de Comunicação Social, 1ª Edição, 2017. Recuperado de https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/1/1036/1/EB10MT11001.pdf . Acesso em: 18 de maio de 2025.

Brasil. (2023). Portaria DECEx / C Ex Nº 342, de 10 de outubro de 2023. Caderno de Ensino EB60-CE-11.001 - Comunicação Estratégica, 1ª Edição, 2017. Recuperado de https://link-para-o-arquivo.pdf . Acesso em: 19 de maio de 2025.

da Silva Rodrigues, F. (2010). Imaginário e poder no uso político da fotografia pelo Exército Brasileiro: uma questão metodológica. Revista Uniabeu, 3(5), 95-113. Recuperado de https://www.gov.br/esg/pt-br/composicao/estudos-estrategicos/ImaginrioePodernoUsoPolticodaFotografiapeloExrcitoBrasileiroUmaQuestodeMtodo.pdf . Acesso em: 18 de maio de 2025.

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Comentarios

Comentarios

Uma visão diferente do que um simples ato de tirar fotos, parabéns pelo artigo.

Parabéns pelo Artigo meu irmão Sionir. Nós da turma podemos acompanhar desde nossa formação a tua atenção à essa matéria, hoje já são anos de dedicação e aperfeiçoamento. 

Parabéns pelo excelente artigo, Subtenente Sionir!

O texto valoriza de forma clara e profunda a importância do Operador de Comunicação Audiovisual dentro da comunicação estratégica do Exército. A maneira como o senhor resgatou a tradição histórica, conectando-a ao presente e ao futuro, mostra não só o peso da função, mas também o impacto que cada imagem pode gerar para a Instituição e para a sociedade. Um trabalho de grande relevância, escrito com sensibilidade e profissionalismo. 👏🇧🇷📸 Cap Backes

Exelente conteúdo e de  extrema importância, além do militar citado que uma grande referência nas Forças Armadas 

Gostaria de expressar minha admiração pelo trabalho do Subtenente Sionir, cuja dedicação e sensibilidade se refletem de forma notável em suas fotografias militares. Seu olhar atento não apenas registra momentos históricos e de valor institucional, mas também transmite respeito, disciplina e humanidade em cada imagem. É inspirador ver como seu talento contribui para preservar a memória e a identidade da vida militar, fortalecendo o reconhecimento e a valorização de nossos profissionais das Forças Armadas.

 

Interessante esta abordagem da capacitação necessário do homem atrás da lente. Não se trata apenas de capacidade técnica e de conhecimento do material e de seus recursos técnicos. É necessário algo a mais, um profissional que tenha o feeling de um contexto conectado com os objetivos de sua atuação. Seu intelecto, seu subconsciente, sua moral e sua ética são ingredientes que direcionam seu olhar para além do óbvio. Parabéns para a instituição que avança nesse assunto.

Sou fotografo e acho que a fotografia militar desempenha um papel fundamental não apenas como registro histórico, mas também como instrumento de comunicação estratégica. Ao documentar operações, cerimônias e atividades cotidianas, ela contribui para a construção de uma memória coletiva, preservando a identidade e os valores da Instituição ao longo do tempo.

Além disso, a fotografia possui um caráter simbólico: cada imagem divulgada transmite mensagens que impactam a opinião pública e reforçam a credibilidade das Forças Armadas. Nesse sentido, a preservação da imagem institucional depende da produção responsável e ética dessas representações visuais, garantindo que expressem profissionalismo, disciplina e compromisso com a sociedade.

Acredito que a fotografia militar vai além do simples registro — ela fortalece a história, a cultura organizacional do Exercito e a legitimidade da instituição perante a sociedade, ao mesmo tempo em que preserva a memória dos que servem e serviram sob o estandarte militar. O  ST SIONIR soube mostrar em seu artigo essa importância e relevância. Obrigado!

Parabéns pelo texto, S Ten Sionir! A fotografia, por ser uma forma de linguagem, carrega um pouco de tudo, inclusive transmitir mensagens para quem a vê e, mais ainda, denota do fotógrafo sensibilidade para captar nuances, expressões e situações que nem todos conseguem ver. Excelente!

Parabenizo os autores pelo brilhante artigo, que traz uma reflexão profunda e atual sobre o papel do Operador de Comunicação Audiovisual. O texto evidencia com clareza como a fotografia e o vídeo transcendem o simples registro para se tornarem instrumentos estratégicos de comunicação. Destaca-se a forma didática com que são apresentados os fundamentos históricos e doutrinários, conectando-os ao cenário contemporâneo de guerra de narrativas. A abordagem demonstra não apenas conhecimento técnico, mas também compreensão crítica da função simbólica e institucional da imagem. O artigo valoriza o trabalho dos operadores, ressaltando sua importância para a credibilidade e a legitimidade do Exército Brasileiro. A menção a exemplos históricos e internacionais amplia a visão do leitor e fortalece a relevância do tema. Trata-se de uma contribuição significativa para o entendimento do audiovisual como vetor estratégico. Sem dúvida, uma leitura indispensável e enriquecedora.

Trabalho de excelência, parabéns a toda a equipe por colocar em foco o trabalho silente do soldado.

Muito interessante, gostei.

Excelente matéria!! Retrata a importância do assunto nos dias atuais, onde uma foto pode diminuir ou aumentar a reputação de uma instituição em segundos. Parabéns!

Trabalho de excelência, os registros fotográficos fala mais que palavras, ainda mais com profissionais de alta capacidade,com olhares clínicos para imagens extraordinária, mostrando a todos a realidade das nossas forças armadas. Parabéns subtenente Sionir e todos os demais envolvidos.

Parabéns pelo artigo! ​​​​​​​Texto claro e bastante elucidativo acerca de uma das capacidades fundamentais de nossa Comunicação, particularmente quanto à relevância no âmbito da Comunicação Estratégica.

Parabéns nobre amigo SIONIR! Que esse artigo seja o 1º de outras inúmeras contribuições ao EBlog. Formulo votos para que a sua carreira de fotógrafo, militar e psicólogo sempre estejam em franco desenvolvimento! E quem sabe em breve vc possa iniciar uma carreira acadêmica a nível de mestrado e doutorado, porque gosta de escrever e pesquisar 

Parabéns ST Sionir pelo excelente artigo, material esclarecedor sobre o emprego da mídia na Instituíção Exercito Brasileiro. Assunto que está bem em voga nos dias atuais e de suma importância para difundir a nossa nobre missão..

Excelente abordagem, STen Sionir! 👏

A guerra da informação mostra que hoje a câmera é tão estratégica quanto qualquer outro meio de combate. O Operador de Comunicação Audiovisual realmente deixou de ser apenas um registrador de momentos para se tornar um vetor de credibilidade, influência e fortalecimento da imagem institucional.

É inspirador ver o reconhecimento dessa função como parte essencial da comunicação estratégica do EB, reforçando valores, construindo percepções e preservando a memória. Parabéns pelo texto e pela clareza em mostrar a importância dessa missão que, muitas vezes, acontece nos bastidores, mas tem impacto direto dentro e fora da Força.

Excelente artigo, ST Sionir! A missão do Operador de Comunicação Audiovisual é imprescindível não só para o sucesso da Comunicação Estratégica, mas também para tornar visível aquilo que ninguém enxerga. Parabéns pela carreira brilhante. És certamente um dos melhores fotógrafos da nossa Força Terrestre. Quiçá o melhor.

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