Os conflitos bélicos atuais deixaram de ser apenas confrontos unicamente físicos, para crescerem em outro front que exige preparo, método e precisão: o da informação. Nesse ambiente, toda imagem tem o mesmo peso de uma munição e a fotografia realizada por militares especializados, engajados em operações, não é mais um mero registro ou memória visual de um momento específico, ela tornou-se parte relevante de uma engrenagem maior: a da comunicação estratégica.
Neste sentido, este breve artigo objetiva colaborar com a divulgação da atividade do Operador de Comunicação Audiovisual (Op Com Audvs), profissional integrante das Agências de Comunicação Social e presente em todos os Comandos Militares de Área. Estabelecimento do vetor da comunicação social, especializado na coleta e na produção de meios audiovisuais, transita no campo da comunicação estratégica como peça fundamental na documentação, divulgação e fortalecimento da imagem institucional do Exército Brasileiro. Dessa maneira, adicionalmente busca-se motivar os interessados e esclarecer eventuais dúvidas relacionadas com a função.
De acordo com o Manual Técnico EB10-MT-11.001 – Técnicas e Procedimentos de Comunicação Social, o conceito e a imagem são o maior patrimônio das organizações. O referido manual orienta que:
“O conceito é consolidado no imaginário da população durante toda a trajetória histórica da organização enquanto a imagem é uma fotografia, uma descrição mental que pode sofrer alterações ou influências de eventos circunstanciais” (grifo nosso).
O Op Com Audvs como responsável pela produção dessas imagens é historicamente herdeiro do emprego de fotógrafos pelo Exército Brasileiro (EB) no período da Guerra do Paraguai (Rosa Rodrigues, 2014). Conforme noticiado por Joaquim Marçal de Andrade, o fotógrafo Carlos César foi contratado pelo governo imperial para fotografar as ruínas de Humaitá em 1868 (Rosa Rodrigues, 2014).
Segundo a Política de Comunicação Estratégica do Exército (EB10-P-01.023), as imagens capturadas em eventos, operações e ações da Instituição pelo Op Com Audvs contribuem na divulgação das informações por meio de registros audiovisuais oficiais, garantindo a produção de conteúdo que reforce a credibilidade, a legitimidade institucional, os valores do EB, aumentarem a coesão interna, além de sensibilizarem a sociedade e combater narrativas adversas.
Diante deste cenário e entendendo a comunicação não mais como uma ação isolada de relações-públicas, mas como uma função essencial de comando, o EB alça o “fotógrafo militar” da posição de mero espectador e produtor de registros para a memória institucional, para a situação de um Op Com Audv com o objetivo claro de produzir efeitos.
Hoje, a imagem (foto e vídeo) capturada por estes operadores no campo de operação militar tem função tática e simbólica. Nesse sentido, o Op Com Audvs pode atuar inserido no conceito doutrinário de operações de informação — e, por extensão, de comunicação estratégica. Segundo o Manual de Campanha C 24-40 – Emprego dos Meios Audiovisuais em Campanha, os meios audiovisuais apoiam diretamente “a ação informativa e psicológica, mediante a produção de material visual para divulgação interna e externa” (BRASIL, 2009, p. 4-2). A imagem como resultado do trabalho do operador, então, será uma obra planejada, construída e criada com intencionalidade, dentro de um projeto narrativo. Seu enquadramento, foco, texturas e contexto, comunica algo que ultrapassa a técnica: deve comunicar um valor, um propósito, um sentido. Nesse contexto, o Op Com Audvs precisa dominar mais do que conhecimento técnico: ele deve compreender o contexto estratégico em que opera.
O que se espera dele não é apenas boa luz ou bom ângulo, mas visão sistêmica. Seu trabalho meticuloso impacta percepções — dentro e fora da Força. É ele quem pode registrar, por exemplo, operações de certificação das diversas Forças de Prontidão (FORPRON) da Força que transmita à sociedade a noção de preparo, seriedade e legalidade. Ou documentar uma missão humanitária de forma a reforçar o compromisso da Instituição com a população atingida. O operador deve sempre ter em mente que o está em jogo é a imagem da Força, no sentido literal e simbólico.
A atuação organizada dos operadores durante a missão brasileira no Haiti é um exemplo claro dessa função estratégica. As imagens não apenas documentaram a presença do Exército Brasileiro atuando em um cenário internacional, mas também construíram uma narrativa visual de estabilidade, proximidade e respeito à população local.
Fonte: Flicker do EB
https://www.flickr.com/photos/exercitooficial/albums/72157675652561985/
Em contexto mais recente, a Guerra na Ucrânia evidenciou o poder das imagens de militares no conflito como arma de persuasão. O Op Com Audvs ucraniano Dmytro Kozatskyi (Prêmio ouro em Imprensa/Guerra e prata em Imprensa do Prix de la Photographie Paris, 2022), tornou-se conhecido mundialmente por retratar a resistência no cerco de Mariupol. Suas imagens, embora criticadas por seu potencial de encenação, cumpriram um papel estratégico: reforçar a moral interna e sensibilizar a opinião pública internacional.
Fonte: PX3 Prix de la Photographie Paris
https://px3.fr/winners/px3/2022/13109/
No Brasil, essa compreensão ética tem avançado. O Caderno de Ensino de Comunicação Estratégica do Exército explicita que “a imagem militar deve ser pensada em sintonia com a missão, os valores, a estratégia institucional e a narrativa que a Instituição deseja transmitir, de modo a fortalecer sua credibilidade, confiança e posicionamento perante a sociedade e os públicos de interesse” (EB60-CE-11.001, 2023). Isso inclui, sem exceção, o trabalho dos Op Com Audvs.
O operador que atua em nome da Força precisa estar ciente que seu clique produz efeitos cognitivos, não sendo apenas simples registros sobre o que aconteceu. A fotografia militar, em tempos de guerra de narrativa, pode ser considerado um instrumento de combate, sendo usada como modeladora da memória e, em tempos de conflitos informacionais, a memória é instrumento bélico. Cabe-lhe, portanto, não apenas dominar a técnica, mas compreender seu papel estratégico e exercê-lo com responsabilidade, precisão e ética.
Atualmente, no EB, o Curso de Operador de Comunicação Audiovisual é promovido pelo Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) e ministrado na Escola de Comunicações (EsCom), localizada na capital federal. Durante o curso, os futuros operadores são submetidos, a mais de 540 horas, distribuídas entre instruções teóricas, práticas e simulações de operações militares, para ao final especializarem-se na captura de imagens que reforçarão a divulgação e fortalecimento da imagem do Exército.
O Exército ainda disponibiliza aos interessados o Estágio de Capacitação de Fotógrafos e Cinegrafistas das OM sediadas na Guarnição de Brasília (DF), também promovido pelo CCOMSEx.
Referências
Brasil. (2009). Portaria nº 02-EME, de 22 de abril de 2009. Aprova o Manual de Campanha C 24-40 – Emprego dos Meios Audiovisuais em Campanha, 2ª Edição, 2009. Recuperado de https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/383/1/C-24-40.pdf . Acesso em: 18 de maio de 2025.
Brasil. (2018). Portaria do Comandante do Exército nº 023, de 16 de janeiro de 2018. Aprova o Manual Técnico EB10- MT-11.001 - Técnicas e Procedimentos de Comunicação Social, 1ª Edição, 2017. Recuperado de https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/1/1036/1/EB10MT11001.pdf . Acesso em: 18 de maio de 2025.
Brasil. (2023). Portaria DECEx / C Ex Nº 342, de 10 de outubro de 2023. Caderno de Ensino EB60-CE-11.001 - Comunicação Estratégica, 1ª Edição, 2017. Recuperado de https://link-para-o-arquivo.pdf . Acesso em: 19 de maio de 2025.
da Silva Rodrigues, F. (2010). Imaginário e poder no uso político da fotografia pelo Exército Brasileiro: uma questão metodológica. Revista Uniabeu, 3(5), 95-113. Recuperado de https://www.gov.br/esg/pt-br/composicao/estudos-estrategicos/ImaginrioePodernoUsoPolticodaFotografiapeloExrcitoBrasileiroUmaQuestodeMtodo.pdf . Acesso em: 18 de maio de 2025.
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